sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O grande golpe!

A morte de Eduardo Campos trouxe uma tamanha reviravolta na atual campanha eleitoral. Quando se esperava uma decisão final entre Dilma e Aécio, hoje mudou tudo para uma decisão final entre Dilma e Marina, com a vitória desta última. E o PT interromperia o seu projeto de poder cinquentenário no 12º ano. Será que o PT aceitará isto?

Nunca sabemos a respeito dos tratos entre quatro paredes. Numa entrevista perguntaram para Aécio Neves o que o diferenciava dos candidatos majoritários naquele momento (Dilma, Temer, Eduardo Campos e Marina). Ele respondeu que nunca foi aliado ao PT. E Eduardo Campos foi considerado um traidor pelo PT por ter se candidatado ao cargo majoritário. Até então Marina também era considerada como uma traidora.

Eduardo Campos morre e Marina assume em seu lugar. Havia um ar de satisfação em Lula e outros lulistas presentes no velório. Sempre se falou que Marina era um Lula de coque. Ou Lula de saias. Lula e Marina têm perfis parecidos. O filme “Filho do Brasil” poderá ter uma edição “Filha do Brasil” sem muita modificação. E Marina é “cria” do PT. Dilma, não.

O noticiário mostra um conflito entre os lulistas e os dilmistas, aqueles lutando para que Lula substitua Dilma na campanha, mas Lula reluta com medo de uma derrota. O mau governo de Dilma é visto como um mau governo do PT. E o PT é Lula e Lula é o PT. Lula teme substituir Dilma e ser derrotado. Uma possibilidade presente. Marina caiu dos céus... Quase que literalmente.

Dilma poderá renunciar à candidatura e o PT apoiaria Marina. E Lula tem ascendência sobre Marina. Dilma poderá ser substituída até às vésperas das eleições. E se não renunciar? O PT a cristianizaria. Fácil.

Seria um segundo golpe no espaço de 50 anos. Ah, mas o PT é um inimigo do golpe de 64. Realmente é. Mas foi um golpe dos outros; agora será um golpe petista. Portanto “eticamente” aceito.

Será que estarei sonhando?



segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O significado político das palavras


A Revista Época desta semana (Ed. 846, 18/08/2014, p.7) traz uma crônica interessante de Eugênio Bucci a respeito da insistência da Presidente Dilma em ser chamada de PresidentA. Pode até ter um quê de feminismo, mas na realidade funciona como um identificador de preferência eleitoral. Quem a chama de PresidentA está dizendo que é adepto dela e agora, nesta época, eleitor.  Quem a chama de Presidente faz uma espécie declaração de voto. Ou está de acordo com a sua gestão. Quem a chama de PresidentE mostra que é da oposição e não está de acordo com a sua gestão.

Costumamos, na língua portuguesa, classificarmos, coisas, cargos, etc., segundo o gênero. A Presidência da República é um cargo e se formos ao dicionário e procurarmos o verbete cargo, encontramos que é um substantivo masculino. Uma querida amiga recebeu uma comenda e colocou no seu cartão a referência “comendatriz”. Lembrei a ela que era comendadora, pois esta é a esposa do comendador. É o caso da embaixatriz e da senatriz, esposas, respectivamente, do embaixador e do senador. Hoje temos a embaixadora e a senadora. Houve discussões semânticas quando foram nomeadas as primeiras embaixadoras e foram eleitas as primeiras senadoras.

Quando foi criada a Fundação José Saramago, o escritor recomentou a sua esposa Pilar Del Rio, como presidentA[1] da Fundação. Mais adiante Pilar é entrevistada e o entrevistador refere-se a ela como presidentE. Ela corrige: presidenta. Dada a insistência do jornalista Pilar reafirma que ela sendo mulher é presidenta e se até então só havia presidentes é porque não havia mulheres ocupando esta função[2], lembrado por Eugênio Bucci, citado acima.

No caso brasileiro, Dilma foi a primeira mulher a ocupar o cargo de Presidente da República, portanto ela é a Presidenta. E está no direito em exigir que assim seja chamada. Ela não é mulher? A discussão saiu do campo da semântica para o campo da política. Os que querem agradá-la chamam-na de Presidenta e os opositores chamam-na de Presidente.

Bucci nos lembra de outros termos que identificam posicionamentos políticos contra ou a favor. Se nos referirmos às ilhas Falklands estaremos reconhecendo a soberania inglesa, mas se nos referimos às ilhas Malvinas o nosso posicionamento será a favor da Argentina. Da mesma forma, seremos favoráveis ao MST se nos referirmos aos atos de ocupação e contrários se consideramos invasão. O mesmo acontece quando nos referimos à Revolução de 1964 e ao Golpe de 1964.

Agora estamos num período eleitoral. Até o dia 13 de agosto eram uma candidata e dois candidatos principais. Depois do fatídico acidente em que pereceu um dos candidatos que estava entre os três de maiores intenções de votos e considerando as negociações iniciais, poderemos imaginar que em janeiro de 2015 poderemos ter um presidente, ou uma presidenta ou uma represidenta. Esta ordem também denuncia um desejo político.

Mauro Cherobim













[1]  José & Pilar – O filme. 48 minutos. https://www.youtube.com/watch?v=iesonOSVTBQ
[2]  Id. 1h, 34 min, 31 seg. do filme citado acima.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Mitomania governamental

Condenamos veementemente os que mentem. Mentir é perigoso. Moralmente perigoso; a mentira tem pernas curtas, diz sabedoria popular. Mas falar a verdade também é perigoso. A verdade impediu-se de ser hoje um “Fabiano” aposentado. E também me impediu de ser hoje um professor titular. Também aposentado.

Puxa como o tempo passa rápido!...

Uma minha amiga perdeu o emprego porque falou a verdade. Mas eu falei a verdade! Ela me disse. Mas deu o nome aos bois!... alertei-a atrasado. Mas eles iriam saber que eram eles... Sim, mas mugiriam no silêncio com temor e “chifrar” (entre parênteses, pois aqui uso no sentido de usar os chifres e não a chifra, ferramenta dos encadernadores).

Estou falando isto se lembrando da analista do banco Santander que foi despedida porque falou uma verdade funcional que todos os analistas sabiam, mas precavidos calavam-se: as curvas das bolsas (e da economia) eram inversamente proporcionais às curvas das intenções de voto da candidata presidencial Dilma. Verdade funcional, disse acima, o lucro da instituição bancária depende do lucro dos seus clientes. Se eu fosse um aplicador (ah, por que fui ser professor?) ficaria de olho nas curvas ascendentes do lucro da instituição em que colocaria o meu rico hipotético dinheirinho.

“Se hay gobierno, soy contra”! O principal do Santander parece não partilhar desta máxima espanhola. Ouviu um grito de um mitômano político e despediu a sua analista. Ela não foi primeira; o Santander demitiu um seu economista chefe porque fez uma crítica da contabilidade criativa da Petrobras direta e em público a um então presidente da petroleira. Este economista foi entrevistado pela revista Época, edição 844 de 04/08/2014. Marquei um sua frase: “O governo tem de aprender a ouvir o contraditório”.

A mitomania não admite a contradição e vive fora do mundo real. Assim foi o governo Lula e assim é o governo Dilma. Não só estes dois governos, mas todos os governos autoritários. E os mitômanos se unem nas suas fantasias. Lula, Dilma, Fidel, Raul, Maduro, Cristina... Tristes lembranças terão na história.

Os marqueteiros podem manipular uma verdade atual, mas conseguirão manipular a história.


Que triste papel terão estas criaturas...