Conversando com a minha amiga Carla Fleming
sobre Lilith resolvi este texto informal. Está aberto a discussão.
Todos os povos têm o que chamamos de mito
de origem. No mundo cristão o nosso mito de origem é Gênesis. O mito de origem
conta como aquele povo surgiu, foi criado. O nascimento do povo. A descrição
deste nascimento foi escrito dentro da perspectiva judia; o Velho Testamento,
do qual Gênesis faz parte, da chamada “Bíblia Hebraica”.
Nesta tradição, que chamamos de “judaíca-cristã”,
o casal que deu origem a este povo, foi Adão e Eva. E conta as sua peripécias
ainda no paraíso e as ocorridas depois da expulsão.
Esta história é a histórica, formal, dogmática.
Existem outras histórias fora do dogmatismo religioso. Uma delas é que a “nossa”
Eva é a segunda, houve uma primeira Eva. Lilith.
Eva, diz-se, é o relato da mulher que chega até hoje, de caráter peçonhento
(inclinação para fazer o mal; maldade, malícia). As serpentes pagam
por isto. Mas, apesar disto, ou por isto, subalterna ao homem, Adão.
A primeira Eva era diferente. Não se submetia a Adão. Já
li relatos de que os dois brigavam
muito. Uma das brigas era com relação à posição do relacionamento sexual. Ela não
queria ficar sempre por baixo e reclamava: ora, se ambos fomos feitos do mesmo
barro, como você pretende ser superior? Somos iguais.
Chegou uma hora que Lilith resolveu abandonar Adão. E sumiu.
Mas Adão a amava e ficou muito triste. Pediu ao Senhor que a encontrasse e a
convencesse retornar. O Senhor, condoído com a tristeza de Adão enviou dois
emissários, anjos, à procura de Lilith… Depois de muita busca, encontraram-na.
Disseram-na que o Senhor queria que ela retornasse para aplacar a tristeza de
Adão. Lilith não gostou da forma impositiva do Senhor e dos Anjos, como se diz
atualmente, “rodou a baiana”, atropelou-os de volta. Senhor ficou muito zangado com atitude de Lilith e sentenciou à morte os
seus primeiros cem descendentes. Os mitos não têm muita lógica; matando o
primeiro ao nascer, não haverá o segundo. Mas tem um grande efeito moral.
Sem razão disto, O Senhor resolveu oferecer a Adão uma
segunda Eva, agora gera-la da costela de Adão. Para servir o homem. Como a
costela é curva (torta), Eva teria que estar sempre sob a proteção de Adão, e
masculina, dada a sua impossibilidade de se endireitar. Mas Adão, pela segunda
vez, “dormiu no ponto”. Descuidou-se e Eva aprontou com a serpente que lhe
ofereceu um fruto proibido, a maçã.
O Senhor, muito zangado, resolver expulsar os dois do
paraíso. Para a alegria dos ecólogos profundos, pois daí nasceu a humanofobia e
o Brasil foi presenteado com Leonardo Boff
,
o grande nome da ecologia profunda. O paraíso, hoje, de um local em que o ser
humano não tem acesso (salvo os ecólogos profundos), exemplo para despovoar o
mundo.
Mas voltando a Lilith, com a praga divina ela passou a ser
considerada uma súcubo, um diabo com a forma feminina. Esta entidade aparece em várias sociedades antigas que tinha como prática
de maldade matar crianças e também os homens.
O mito de Lilith voltou a aparecer na Idade Média, na
pregação dos rabinos, recomendando-se a proteção das crianças e dos homens.
Esta historia, contada informalmente, parece estar na base
da misoginia tão evidente nos mundos cristão e islâmico.