terça-feira, 6 de setembro de 2016

E daqui para a frente?

Eu fui a favor do afastamento de Dilma Rousseff. Qualquer pessoa com o juízo no lugar seria a favor. Ela foi. E não volta mais. Não interessa ao PT, não interessa ao PMDB, não interessa a ninguém. Ficam alguns idiotas perguntando com as perguntas tolas para saber quem é a favor do afastamento definitivo ou não. Sem querer ser repetitivo, ela já foi afastado em definitivo.

Temer não é meu candidato favorito. Mas não posso que ele é um político sagaz, é inteligente, sabe segurar as rédeas com PMDB com maestria e dos políticos de modo geral. Soube dar os “pitacos” dele nos momentos certos que descontrolaram Dilma e os seus seguidores. E colocou ministros que sabem melhor do que ele nas diferentes áreas. Diferente de Dilma “que sabia mais” do que os ministros. Sabia tanto que foi apeada do poder.

Se ela deveria perder ou não os direitos políticos é um problema maior para o PT e para o STF. Para o PT porque a mulher é louca e vai mais uma vez colocar obstáculos para Lula. Já colocou porque se recandidatou e impediu que Lula ficasse mais oito anos. Ela com os direitos políticos intactos será concorrente de  Lula e fazer com que os eleitores não esqueçam o que foi a gestão lulopetista.

Temer, com a voz mansa e falando português, mesmo sem personalizar não vai deixar que os eleitores esqueçam o lulopetismo. Isto se Lula chegar conseguir chegar fora das grades em 2018.

O fatiamento constituição deixou Ricardo Lewandowski e o STF em maus lençóis. Lewandowski frente seus colegas. E com a nova presidente do STF...


E os senadores que pretendem se beneficiar do “fatiamento”... A Lava Jato e as outras operações da Polícia Federal estão municiando o MPF com informações que até o dia se surpreende. Não haverá direitos políticos que segure uma denúncia bem feita da Justiça Federal.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

 O aprisionamento de um intelectual numa narrativa mentirosa.

Em que país eu vivo? Vivo num país que julgo viver, que para mim é país concreto, há 79 anos e quase três meses. Sempre trabalhei e vivi de salários. Muitas vezes tive que realizar trabalhos extras  para completar o meu salário que era “menor do que o mês”. Bem menor. Quando eu me aposentei acrescentei aos meus salários sete quinquênios. Se eu atrasasse a aposentadoria mais dois anos receberia mais um quinquênios. Mesmo assim permaneci mais uns 5 anos colaborando com um programa de pós graduação, viajando, sem qualquer ganho extra. Pagava (do meu salário) para trabalhar.  Fiz o mestrado, o doutorado e a livre-docência. Sempre resultado de pesquisa de campo. Tive duas malárias. Nunca trabalhei fora da atividade fim da universidade: ensino, pesquisa e extensão à comunidade. Mesmo nos dezessete anos e um mês que permaneci na Força Aérea como radiotelegrafista de terra, utilizei o meu tempo vago para estudar. Como casei cedo e o primeiro filho veio logo, nunca tive tempo para aventuras e um futuro melhor para mim seria um futuro melhor para os meus filhos.

E sou da segunda geração de uma família italiana.

Pensando retroativamente parece-me que segui um bom caminho a partir de uma orientação do meu pai: siga o que está fazendo se você quiser me ajudar. Segui. E por isto, em grande parte devo à minha formação técnica e profissional recebida na Força Aérea como especialista de aeronáutica, em funções em que não tem muito espaço para erros. Muitos especialistas de aeronáutica não estão mais na Força Aérea, uns porque se demitiram para seguir outros caminhos, como foi o meu caso, outros com a aposentadoria, todos em atividades produtivas na sociedade.

Antes da minha aposentadoria, principalmente depois de ser admitido numa universidade pública paulista procurei sempre trabalhar de forma aberta de modo a mostrar ao contribuinte paulista a forma de como os seus impostos estão sendo usados. Mesmo agora, como aposentado, as minhas ideias, as minhas contribuição são abertas. E é por este motivo que não participo de correntes de pensamento privadas. Procuro ver o mundo como ele é e não a partir de uma construção, pois eu vivo neste mundo.

Dilma e seus seguidores afirmam que Dilma foi eleita com 54 milhões de votos. Na verdade não foi ela que foi eleita com este total de votos, mas a chapa dela e de Temer. É uma narrativa mentirosa de que Temer não teve votos. Ele também foi eleito com 54 milhões de votos. E foi eleito para ser substituto de Dilma em qualquer eventualidade de ela se afastar. Ele deu um golpe? Não houve golpe, mas um contragolpe. E que foi o autor deste contragolpe? Os eleitores e grande parte dos que votaram na chapa Dilma e Temer.

Eu vivo neste país em que uma Presidente ignorante e autoritária (desculpem-me pela redundância!) provocou uma das maiores – ou a maior – crises econômica e política. Neste país em que vivo. Repito a redundância para reafirmar o que estou falando. Uma presidente que mentiu nas eleições e que a mentira foi uma das ferramentas usada pelo seu marqueteiro. Como eu vivo neste país e sou um cidadão comum, tenho a oportunidade de conversar com gente de diferentes estratos sociais. Toda esta gente, em grande parte votantes da chapa Dilma-Temer, arrependida por tê-la eleita. Esta insatisfação vista no varejo vimos no atacado nas grandes manifestações e que também vemos nas redes sociais.

O que se faz em qualquer empresa, clube, grupo, etc., quando o seu dirigente é incapaz de bem administrar? Demite-se. E a Constituição Federal tem os instrumentos necessários para isto. E quem fez uso destes instrumentos? Um  grupo de cidadãos apoiados por milhares de outros. Gente como eu e tantos outros eu frequentam supermercados, vendas, lojas, etc., veem os preços a cada dia maiores; gente que se vê na eminência de perder os seus empregos dos mil e tantos que chegam todas as tardes em suas casas com a triste noticia que estão desempregados. Gente que vai ao supermercado e vê o feijão e o arroz em alta porque a dirigente doou o estoque regular para um país ditatorial e amigos. Não para ajudar o povo deste país, mas os seus dirigentes-amigos. Isto foi um golpe? Não, um contragolpe de quem estava sendo “golpeado”.

Em que país, em que mundo, vive esta gente que alardeia o processo de impeachment como um golpe? Estão ao nosso lado e que motivos diversos se tornaram crente a uma narrativa que qualquer dúvida a ela passa a ser chamada de traição. Traição a uma narrativa.

Tem lido muitos comentários, com a possibilidade de ser tornarem estudos mais aprofundados, para entender como intelectuais com a obrigação de refletir sobre as relações sociais, políticas, econômicas, mergulharem numa narrativa que passam a considerar como verdadeira.

É claro que os regimes autoritários, seja qual for a sua orientação politica, social, religiosa, têm os seus pensadores, os construtores de “verdades” e os vigilantes para cercear os que duvidam destas verdades.

Estamos num momento em que o pó ainda está revolto, mas já tem saído muitos comentários à procura de entender este momento e visualizar um futuro próximo.

Eu fiz este comentário porque recebi uma postagem de um antropólogo italiano que admiro muito, com muitos trabalhos memoráveis para se entender o Brasil, em especial a um sobre a cidade de São Paulo, o Professor Massimo Canevacci.  O Professor Canevacci devolve a sua comenda da "Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul". A comenda foi merecida, mas a devolução está sendo imerecida.

Discutir e duvidar de uma narrativa dos partidários de ex-presidente Dilma não é traição, mas uma necessidade para repensar o Brasil de hoje. Temer na presidência não é uma preferência, mas uma decorrência constitucional. Portanto a narrativa de golpe é uma mentira, construída com “verdade”. E duvidar de mentira não é traição. E colocar um intelectual nas teias de um politicamente correto também mentiroso é condenar um ilustre intelectual como o professor Massimo  Canevacci.

Mauro Cherobim - Antropólogo

Professor Doutor e Livre-docente .
Professor adjunto aposentado - UNESP