terça-feira, 28 de junho de 2011

Nós e os politicamente corretos.

Nuvens negras escureceram a tarde ensolarada que na sua branquidão prometia enfeitar a tarde. Estas nuvens, no seu pretume, prometem tempestade. Os voos para Guarulhos vão atrasar as nuvens estão onde os aviões entram na reta final para o pouso. O vento começa assoviar por todas as frestas de casa, em outros momentos imperceptíveis. Corri a fechar todas as janelas, portas, pois da última vez que esta pretidão “enfeitou” o meu céu, eu me senti dentro de um CB (cumulus nimbus), fez entrar chuva por frestinhas da janela que eu desconhecia, molhou a minha mesa de trabalho. Tive que refazer muitos documentos.

Coloquei este texto numa rede social e logo após fui aconselhado a retirá-lo porque soava preconceituoso porque falei de nuvens negras, do seu pretume, da pretidão sobre a minha cabeça. Preconceituoso? Com o que? Com as nuvens? Deus por eu me queixar dos estragos por Ele causados? Ora, se existe Deus, por que iria se preocupar comigo quando tem muitos pretensos religiosos tirando dinheiros de tantos infelizes que Nele acreditam?

Não é nada disto, afiançaram-me. Quando eu falo em negro estou me referindo aos afrodescendentes. Não poderei fazer isto. É politicamente incorreto. Para ser politicamente correto como deverei chamar as nuvens negras? Não brancas. Mas o não branco é negro. Como a noite em que faltam as luzes. Eu gosto de escrever com canetas de tinta preta, como são pretos os caracteres deste texto. Como chamaremos a camisa alvinegra do coringão? Como direi que o meu tricolor viu a sua situação preta frente à torcida quando um galináceo chegou ao número cinco?

Negros eram os escravos no Brasil escravocrata. Negros da Terra eram os índios escravizados e Negros de Guiné os escravos traficados da África para cá. Os colonizadores quinhentistas eram politicamente incorretos, não porque escravizavam, mas porque chamavam os escravos de negros.

A ética da escravidão considerava que os cativos eram pessoas sem luz, nas trevas do saber. Os negros de Guiné eram de cor preta e eram negros, destituídos de suas condições humanas. E de saber.

Eu tenho um amigo negro. Desculpem-me, afrodescendente. Professor universitário, mestre e doutor em sociologia. Mostrou-me no seu cartão de identidade. Mandou o funcionário do órgão de identificação mudar a cor negra por preta. Disse-me, se o branco é branco, por que eu tenho que ser negro e não preto? Estão me discriminando.

A obrigatoriedade de ser politicamente correto está atingindo altos níveis de intransigência. O interessante é que os ativistas do politicamente correto brasileiros estão seguindo os passos do norte-americano mais politicamente incorreto, Joseph McCarthy, senador norte-americano famoso pelo seu patrulhamento ao comunismo. O patrulhamento, qualquer que seja ele, é um comportamento macarthista. Entra na lista negra. Ah, não pode! Como será chamada a lista negra?

O ativismo politicamente correto é um modelo de comportamento reacionário e discriminador, preocupado em encontrar discriminações, discriminações dentro do seu horizonte de valores. São os patrulhadores da atualidade.