quinta-feira, 17 de março de 2016

Capo dei tutti capi, ora ministro

(texto não editado)

O autoritarismo e a covardia são duas características indissociáveis. A pessoa autoritária é covarde porque teme o outro. O covarde é autoritário porque teme o poder da persuasão do outro. Noticiou-se que Lula deu uma entrevista na sede paulistana do PT. Fui assistir e não houve entrevista, mas um discurso e em muitas partes insuflando a militância contra as instituições da República. O mesmo aconteceu n sua “entrevista” no sindicato dos bancários. Nestes seus dois discursos deixou claro que se sente acima do bem e do mal. A justiça tratou-o de forma desrespeitosa porque o tratou como um cidadão comum.

O autoritário é covarde. Temos vários exemplos e os mais presentes, além de Lula, temos Evo Morales, Rafael Correa, Hugo Chaves, Nicolás Maduro e os irmãos Castro. Citei o falecido Hugo Chaves, pois segundo o atual Nicolás Maduro, ainda lhe dá ordens através do trinado de un pajarito.

Na concepção de Lula somente duas pessoas estão fora do que reza o artigo 5º da Constituição, de que todos são iguais perante a lei: Lula e Sarney. Sarney não pode ser tratado como uma pessoa comum discursou Lula para defender Sarney, alvo de críticas políticas.  Não sei como Lula classifica Collor (hoje são aliados políticos), mas pelos ataques que faz a FHC, este está sob o resguardo do artigo 5º da CF. Talvez seja por isto que FHC pode andar pelas ruas, ir a restaurantes, andar de avião, etc. Ou seja, é um cidadão comum.

Mas fiquemos no nosso Lula. Ele tem o Juiz Sérgio Moro e todos os membros da Operação Lava Jato como um exército de exus à sua caça (com c cedilha, mesmo) e de ser cassado da sua pretensa situação de estar acima do bem e do mal. De ser caçado e cassado por gente comum e obediente ao já tão citado artigo 5º CF. Cidadãos comuns. Funcionários públicos. Gente que estudou e se especializou, gente que pensa e que faz uso da reflexão, gente que é inteligente e está longe de ser esperta.  Gente que fere fundo a macro delinquência governamental, segundo as palavras de Ministro Celso de Mello[1], nos aspectos penal e moral, pois demonstra o pavor do poderoso Capo dei tutti capi de um eventual pedido de prisão da justiça federal de 1ª instância. Por não fazer jus ao medieval foro especial por prerrogativa de função,  foi convidado a exercer o cargo de Ministro, transferindo as investigações da primeira instância ao Superior Tribunal Federal.

Ironicamente o mesmo Luiz Inácio Lula da Silva declarou na década de oitenta que “ladrão pobre iria para a cadeia e ladrão rico virava ministro” exatamente o que está acontecendo com o autor da frase. Até o momento em que escrevo estas notas o ex-presidente Lula aceitou o convite e será nomeado ministro da Casa Civil. Saiu a sua nomeação. Houve manifestações (espontâneas e pacíficas) em Brasília, defronte ao Palácio do Planalto e na Avenida Paulista, aqui em São Paulo.

O que impressiona é Dilma, Lula e o PT viverem no mundo do Pirlimpimpim (lembrando de Monteiro Lobato). A nomeação do ex-presidente Lula parece ter sido uma resposta “de poder” ao Juiz Sérgio Moro – a quem se dirige toda a paura (terror, seria o termo apropriado) por uma eminente prisão – e por extensão à Operação Lava Jato. Mas talvez tenha passado despercebido dos operadores da blindagem de Lula à prisão, os Tribunais Superiores foram considerados lenientes à justiça, de onde se esperaria a impunidade.

Como os tribunais superiores vão reagir? Aceitarão a pecha de lenientes, devolverão as investigações à primeira instância, fingirão “de mortos”.

O golpe foi sacramentado com a posse de Lula. Estamos sob um governo golpista. O novo ministro da Justiça, segundo foi noticiado, ele é da corrente do “direito que vem das ruas” e deixou a vice-presidência do MPF para assumir o Ministério. E pelo discurso de Dilma, nas suas entrelinhas, haverá uma luta contra a Operação Lava Jato. Foi um discurso impulsivo como são os atos dos governos lulopetista.
Os ritmos das justiças de primeira instância e dos tribunais superiores são diferentes. A transferência de foro vai interferir nas “delações premiadas”.  Como será o processo daqui para frente? O discurso de Dilma debita a crise política à oposição e não aos seus erros e ao alto índice de corrupção ao país. Nós, brasileiros, vítimas de um mau governo nos tornamos os culpados dos seus erros.

O discurso foi realizado em ambiente fechado, mas suscetível a críticas por menor que sejam (isto interrompeu por duas ou três vezes do discurso da presidente).  Como será daqui para frente?

Por fim, voltando ao início deste relato, o discurso teve o contorno do autoritarismo o e covardia. O temor da “voz rouca das ruas”. Diferente da voz da “sociedade organizada” que faz coro com a batuta do poder.

A partir das dez horas desta manhã passamos a viver sob a égide de outro golpe, 18.978 dias depois do anterior. Quantos dias nós viveremos sob este golpe?

O Brasil de 2016 é bem diferente ao Brasil de 1964.

Mas o autoritarismo continua cego. Ver os links abaixo.


Notícia de último momento: