segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Eu não sou “tucano”. Sou brasileiro.

Uma amiga muito querida enviou-me um abraço e um chamego porque “fui derrotado” nas eleições. Na verdade eu não me sinto derrotado; o que aconteceu é que a minha luta continua. Pelo menos por mais quatro anos.

Dilma recebeu uma herança maldita do seu antecessor e estragou alguma coisa positiva. E não conseguiu fazer nada de mais do que levar o país à recessão. Conseguiu, ainda, a se tornar alvo (para não se dizer suspeita) nos escândalos que acompanharam os governos petistas. E uma candidata a um impeachment.

Minha querida amiga:

Aceito o seu abraço como amiga e não como uma petista que dá um chamego a um “tucano”. Eu não sou tucano. E nunca fui petista. Tive oportunidade de assinar a ata de criação do PT. Não fui porque sempre temi um partido que fosse um braço do sindicalismo. Sentia ser uma volta ao Estado Novo de Getúlio Vargas. Passei por todas as crises das décadas de 50, 60, 90 até as de hoje. Sempre falei pelo que vejo, sinto e observo. As “direitas” sempre me taxaram de esquerda e as “esquerdas” sempre me taxaram de direita. Não mergulho nos mitos modernos de retorno a paraísos perdidos.

No Brasil sempre houve corrupção. Com o  PT a corrupção se tornou algo trivial, normal. Uma corrupção terrível que, além de enriquecer pessoas frequentadoras de paraísos fiscais, tem comprado pessoas, comprado votos, mas o anúncio de oferta de um paraíso tem anestesiado as pessoas. Pessoas inteligentes que mergulham nestes mitos, mais uma mitomania que propriamente um mito.

Olho para as universidades e não vejo mais intelectuais, vejo militantes. Não vejo mais reflexões, mas defesas de dogmas. Nas eleições passadas fiquei decepcionado com um candidato à presidência, que eu sempre admirei com intelectual, que a acompanhava a sua revista sobre política agrícola (não cito o nome porque ele faleceu). Numa de suas entrevistas fez um elogio a regime comunista e a repórter contestou: se em todos os locais em que ele se instalou não deu certo, por que aqui? Ora, respondeu ele, precisamos experimentar para ver se dá certo ou não. Aquilo foi uma grande falta de respeito para com a sociedade brasileira. E é esta falta de respeito pratica contra a sociedade brasileira.

Segundo Dilma o Brasil exporta tecnologia para Cuba e cria pontos de trabalho. Em Cuba! Para construir um porto de mar, de águas profundas. Estes pontos de trabalho são lá, pois o porto fica lá. Enquanto isto acontece por lá, nos nossos portos estão sucateados. Enquanto milhares e milhares de dólares, na próxima safra de grãos voltaremos a assistir filas de caminhões no Porto de Paranaguá que chegam a Curitiba e as vias de acesso para Santos entupidas porque os portos não dão vazão a volume de embarque. Mas o governo brasileiro está construindo uma rodovia de Havana a Mariel para evitar engarrafamentos.  Isto não é um escárnio ao povo brasileiro? Este escárnio se torna mais evidente quando vemos filas de caminhões enterrados nas estradas das áreas produtoras de grãos.

Já que falamos em escárnio, lembremos a politica de combustíveis. Ainda no governo Lula foi enterrada (ou afundada) fortunas no chamado pré-sal. Levou os governadores brigarem por uma quimera. E assim, enquanto gastavam-se fortunas e desviavam-se outras fortunas pela corrupção, a Petrobras vendia gasolina no mercado interno por preços inferiores ao preço pago no mercado externo para “segurar” a inflação para compensar políticas econômicas erráticas.


Isto causou efeitos colaterais que ninguém fala: 1) quebrou o setor sucroalcooleiro despedindo milhares de trabalhadores; 2) a tecnologia desenvolvida para a produção de etanol combustível se torna obsoleta e 3) aumentou a nossa dependência ao combustível fóssil, um combustível “sujo” para o meio ambiente.

sábado, 25 de outubro de 2014

O MEU VOTO É VOLUNTÁRIO. MAS TENHO A OBRIGAÇÃO DE DEIXAR UM BRASIL MELHOR PARA AS GERAÇÕES FUTURAS

Nas eleições em dois turnos, no primeiro turno vota-se no candidato de nossa preferência, politica, moral, etc. No segundo turno vota-se no candidato “menos ruim”, se o nosso candidato foi derrotado. Em 1989, por exemplo, no segundo turno votei em Lula, pois naquele momento, para mim, era o candidato “menos ruim”. Hoje voltamos à mesma situação.

É inegável que o PT já se esgotou nestes 12 anos de gestão. O governo Dilma ainda foi pior; não fosse não brotaria de dentro do PT o movimento “volta Lula”.

Lula, tão empolgado pela sua aceitação, declarou que elegeria até um poste. Dilma Rousseff foi o seu primeiro poste e Fernando Haddad foi o segundo para a prefeitura paulistana. Mas o seu terceiro poste, Alexandre Padilha, para o governo paulista foi um fracasso. Dos 645 municípios paulistas só ganhou em um, Hortolândia, um município com 138.602 eleitores (0,433% dos eleitores paulistas). E os seus dois “postes” foram maus administradores, maus políticos.

Há uma história em política que diz que as criaturas costumam engolir os seus criadores. Esta história parece justificar as criaturas de Lula. Dilma não conseguiu engolir o seu criador, para parece estar se auto engolindo, ou sendo engolida pela sua péssima administração.

Li, por aí, que nos 12 anos de governo petista houve um escândalo por ano. 12 escândalos? Parece-me ser uma conta otimista.

Os maiores escândalos foram de desvio de verbas públicas. Mas há outros que, por falta de outro nome, chamarei de escândalos morais. Mas sujeitos ao código penal. Como a desconstrução moral e social de pessoal, que Romeu Tuma Jr. Chamou, em seu livro autobiográfico de “assassinato de reputações”. Lado a lado a isto, as mentiras, o falseamento de notícias, tentativas de reescrever a história com dados mentirosos. Mas escandaloso, mesmo, as mentiras ditas em programações nacionais, pelos presidentes Lula e Dilma. Na internet existem vídeos de Lula se vangloriando das suas mentiras. A presidente Dilma, de sua parte, fala as suas mentiras como se fossem verdades. Já tivemos vários presidentes ruins, mas presidentes explicitamente mentirosos... ...provavelmente somente estes dois últimos. Estas mentiras se tornaram escancaradas nesta última campanha.

Aécio Neves não é nenhum salvador da pátria.  Isto não existe. O Sassá Mutema de 1989 conseguiu vencer as eleições 12 anos depois e nos entregar, passados outros 12 anos, este governo esgarçado que todos conhecemos.

Eis porque o meu voto será em Aécio, 45.

Mauro Cherobim. 25/10/2014 (o meu voto é voluntário. Faço isto na tentativa de entregar um Brasil melhor para os nossos descendentes).



domingo, 19 de outubro de 2014

Nós e a última flor do Lácio

Outro dia publiquei um comentário desculpando-me  para com os meus parentes e amigos por não enviar os meus votos de felicidades. Mas eu sempre enviei os meus votos de felicidades, expressei as minhas s saudades com certo complexo de culpa. Quando eu fazia os meus cursos de mestrado e de doutorado (agora isto foi “gerundiado” para mestrando e doutorando, transformados em titulação. O que você é? Mestrando...) o meu orientador falava que eu escrevia em italiano com palavras em português. Claro, nasci e me criei no Central, um núcleo de colonização italiana, da colônia Nova Itália, em Morretes. Entrei por um caminho para aprender escrever em português. Claro que com palavras em português. Imagino que é daí que me aparecem estes complexos de culpa.

 

Outro dia um ex-aluno, hoje petista ferrenho de politicamente correto nos estreitos limites de pensamento do seu partido, falou que eu sempre fui um tucano disfarçado. Eu já era tucano antes de existir o partido que tem como símbolo o tucano. Ah, estes desejos de reescrever a história como balsamos aos erros políticos! Assim sendo, aos olhos petistas eu sou politicamente incorreto porque leio a Revista Veja. Mas não leio somente a Veja. Leio outras coisas. Leio até Carta Capital. E ainda recebo Carta Maior, leituras de cabeceiras do núcleo duro do PT, mas que a gente do núcleo mole também lê para se manter in. E foi lendo Veja que encontrei a origem da palavra candidato.

 

As palavras candidato e cândido têm origem comum.  Candidatus queria dizer “vestido de branco”, pois ele deveria se apresentar candidus, isto é, imaculado, puro. Quanta pureza vemos e ouvimos da incumbente ( ou incumbenta) falando mentiras e o desafiante chamando-a de mentirosa. Diálogos imaculados. Puros.

 

Voltando ao início da prosa, diz a boa regra que não pode haver plural para  os substantivos abstratos. Tem lógica. Como poderei sentir mais de uma saudade de alguém? Como poderei desejar felicidades. Felicidade e saudades e sei lá mais o quê, são uma só. Com o terei duas saudades de alguém?

 

As palavras que comentei encontram-se no link abaixo. E aqui fico com os meus desejos (Epa! Mais um substantivo abstrato no plural...) de escrever em português com palavras em português.  Chegarei lá?

 

 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Até onde vai a calunia e a falta de decência.

 Estamos às vésperas ao dia de votação do segundo turno das eleições de 2014. A falta de decência da campanha petista já era evidente no processo de desconstrução da candidata Marina Silva. Mas houve uma surpresa (para a campanha petista): o aparecimento de Fernando Henrique Cardoso sendo entrevistado e opinando. FHC é um intelectual, no sentido lado do termo; a sua produção está à vista de todos. Basta ler. E se ler joga-se por terra declarações mentirosas dos marqueteiros petistas. Ou, mas especificamente, das agências goebbelsianas do PT. 

Uma das últimas: É preciso que se diga algumas coisas sobre este sujeito oportunista e lambe-botas/capacho. 1. Só se tornou professor da USP graças a Florestan Fernandes que lhe apoiou, sem isto não teria ingressado na USP; 2. A ‘tese’ de doutorado defendida por FHC é uma versão de um relatório encomendado pela CEPAL (ONU) elaborado por Enzo Faletto e FHC. Portanto, este embusteiro não deveria falar nada... é uma fraude.”

Quem postou isto foi um ex-aluno. No dia do professor. Vários dos meus alunos aparecem nas redes sociais, grande parte deles já doutores, muitos deles com posicionamentos políticos diversos aos meus, mas nunca vi postarem algo que trombasse com os seus conhecimentos. Este não feriu a mim, mas ele próprio.

Em primeiro lugar, que conheceu Florestan Fernandes sabe que nunca facilitou a ninguém em seus trabalhos e muito menos em realização de teses. Florestan Fernandes foi um  homem decente.

Em 1949 o antropólogo brasileiro Arthur Ramos foi eleito diretor do Departamento de Ciências Sociais da UNESCO, onde desenvolveu o Projeto UNESCO no Brasil. Logo após o término da II Grande Guerra houve um encontro de intelectuais de várias áreas (antropologia, sociologia, biologia, etc .) para discutir a questão racial, um dos motivos que levou a Alemanha Nazista à discriminação de vários tipos raciais, como todos conhecemos, a história nos conta. Decidiu-se realizar uma pesquisa em grande extensão num país onde houvesse uma coexistência racial. Hoje pode-se discutir esta ideia, mas era o pensamento há pouco mais de 60 anos. E o Brasil foi o escolhido.

Quem tinha condições de desenvolver uma pesquisa deste vulto, naquele momento? As pessoas em condições de tal empreendimento estavam na USP e a liderança da pesquisa foi entregue aos professores Roger Bastide e Florestan Fernandes. Vários auxiliares de ensino, professores recém-formados, ingressaram no projeto. Octavio Ianni fez pesquisa em Curitiba, Fernando Henrique Cardoso em Porto Alegre, Fernando Henrique e Ianni pesquisaram em Florianópolis, Oracy Nogueira em Itapetininga. E muitos outros. Estes trabalhos constituíram-se em teses de doutorado. “Metamorfose do escravo” foi a tese de doutorado de Octavio Ianni e “Capitalismo e escravidão no Brasil meridional - O negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul” foi a tese de doutorado de Fernando Henrique.

Fernando Henrique escreveu um trabalho em parceria com o sociólogo chileno Enzo Falleto, “Dependência e Desenvolvimento na América Latina: Ensaio de Interpretação Sociológica”. Um trabalho de grande repercussão fora da América Latina.

 O que muito me admira é de um licenciado em Ciências Sociais pela Unesp, que participou se uma semana de estudos de Florestan Fernandes na Unesp de Marília e que Fernando Henrique, ainda Senador esteve presente, escrever – ou retransmitir – algo escrito por algum beleguim petista contra a honra de dois intelectuais, um deles sem poder se defender porque já falecidos. Os arranjos feitos entre a companheirada não são feitos entre intelectuais sérios. Florestan Fernandes filiou-se ao PT, mas nunca foi um “companheiro”.

Luiz Antonio Souza
  - É preciso que se diga algumas coisas sobre este sujeito oportunista e lambe-botas/capacho. 1. Só se tornou professor da USP graças a Florestan Fernandes que lhe apoiou, sem isto não teria ingressado na USP; 2. A "tese" de doutorado defendida por FHC é uma versão de um relatório encomendado pela CEPAL (ONU) elaborado por Enzo Faletto e FHC. Portanto, este embusteiro não deveria falar nada...é uma fraude.
 Mauro Cherobim  - Luiz Antonio, vc não sabe o que está falando. Não fale besteiras. Principalmente a você como sociólogo. Seja petista, mas pense antes de falar estas besteiras.


Pertencer a um partido político não autoriza perder a decência.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A primeira e a segunda mulheres na presidência

Costumo tomar o meu café da manhã entre cinco e meia e seis da manhã. Ou melhor, preparo uma erva mate Leão e duas torradas besuntadas de manteiga. Pouca manteiga, manteiga Aviação sem sal. Quando era pequeno usava-se banha de porco para fazer comida, no lugar de óleo, como se faz hoje. Papai levantava-se cedo, ia comprar pão na padaria Candinho (Nho Beco abria a sua padaria mais tarde). Aquele pãozinho d’água, ainda quente...  Passava banha, colocava um pouco de sal, e colocava para dar uma torradinha na chapa já quente. Quando ele chegava a água já estava chiando na chaleira e a chocolateira estava pronta para coar o café. Sempre tinha pó de café do tipo Moca[1] que meu avô[2] colhia e torrava lá no Pitinga. Nos finais de semana geralmente tinha manteiga batida por nonna. Ela tinha vacas leiteiras, separava a nata e ficava a bater até transformá-la em manteiga.

O café passado sobre a chapa quente era colocado numa tigelinha, igual à que nonno fazia a sua sopa de café com pão e em outros horários de vinho com pão. Era pão de forno que nonna e tia Lavínia eram exímias em fazê-lo. Nos finais de semana nonna trazia pão para nós que eram guardados numa lata em que eram  acondicionadas bolachas vendidas nos armazéns.

Papai herdou de nonno o uso da tigelinha e passou para mim. Aquele pão torradinho molhado no café era uma delícia. Papai tinha as mãos maiores abraçava a tigelinha com as mãos para esquentá-las nos dias de inverno.

O dia começava a clarear quando terminávamos o café... E começava o dia de trabalho. Papai saía com caminhão para trabalhar e mamãe ia para a escola, onde lecionava.

O hábito continua. Hoje aproveito o café da manhã para fazer as leituras que eu acho as mais agradáveis. Hoje terminei de ler 18 dias: quando Lula e FHC se uniram pra conquistar o apoio de Bush, de Matias Spektor (Rio de Janeiro: Objetiva, 2014). O Autor é doutor em Relações Internacionais, professor da FGV do Rio de Janeiro, é colunista da Folha de São Paulo e escreve muito bem.

A vitória de Lula nas eleições de 2002 provocou o que se chamou do “efeito Lula”, um efeito negativo, em face do discurso de esquerda e “anti-mercado”, num momento em que a América Latina dava uma virada à esquerda. E nos EUA Bush iniciava o seu governo, lá de direita e aqui de esquerda. O livro trata do trabalho diplomático de Fernando Henrique junto ao governo norte-americano – e por extensão ao mercado americano – no sentido de anular e “efeito Lula” e mostrar a transição sem traumas ao vitorioso de oposição. Uma novidade no Brasil e na América Latina. E a instituição da equipe de transição de um governo ao outro.

Para um comentário mas extenso do livro poderei fazer mais tarde e até resenha-lo. O que gostaria de comentar aqui, foi a lembrança do Autor às declarações de Lula, repetidas vezes, de que “o primeiro trabalhador a presidir o Brasil não poderia falhar”.

No final de oito anos de governo Lula permitiu à uma primeira mulher presidir o Brasil. Esqueceu de repetir a máxima de que “a primeira mulher a presidir o Brasil não poderia falhar”.

Falhou. E falhou feio.

Pelo jeito uma segunda mulher vai derrotar e tirar a primeira do poder.



[1] Que era plantado nas encostas dos morros.
[2] Os meus avós maternos eram avós e os paternos eram nonni.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Leonardo Boff e as suas (in)confidências

Encontrei um texto de Leonardo Boff que havia arquivado há muito tempo.

Ele conta que alguns meses após ter sido submetido a um "silêncio obsequioso" por ter escrito o livro "Igreja: carisma e poder", foi convidado por Fidel Castro para passar uns 15 dias em Cuba para acompanha-lo em suas férias.

Viajaram de carro, avião, barco pela rica ilha, conversaram sobre mil assuntos. “As noites eram dedicadas a um longo jantar seguido de conversas sérias que iam madrugada a dentro, às vezes até às 6.00 da manhã. Então se levantava, se estirava um pouco e dizia: ‘agora vou nadar uns 40 minutos e depois vou trabalhar’. Eu ia anotar os conteúdos e depois, sonso, dormia”.

E assim se passaram os 15 dias. “Eu havia escrito 4 grossos cadernos sobre nossos diálogos. Assaltaram meu carro no Rio e levaram tudo. O livro imaginado jamais poderá ser escrito. Mas guardo a memória de uma experiência inigualável de um chefe de Estado preocupado com a dignidade e o futuro dos pobres”.

Fidel Castro para se manter no poder por mais de 50 anos deve ser um homem previdente. Desta época houve uma denúncia que o chefe dos sherloques cubanos no Brasil era um coronel, então genro de Raul  Castro, marido de Mariela. Eu fiquei me perguntando: será que foram os sherloques cubanos que “afanaram” os “4 grossos cadernos” de Frei Boff. Vá que o santo homem tenha registrado inconfidências de Fidel!...


http://www.cartamaior.com.br/colunaImprimir.cfm?cm_conteudo_idioma_id=19183

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Acesso à linha telefônica

Um dos motes dos candidatos que se opõem aos tucanos é a questão da privatização das telefônicas. Eu que vivi (na pele) este momento tenho uma visão diversa destes críticos atuais. Quando retornei a São Paulo em 1966 pouca gente tinha telefone. Quando precisava fazer um interurbano, geralmente para Morretes ou para o Rio (de onde eram os meus sogros)  tinha que sair do Mandaqui ir na rua Sete de Abril, onde ficava a companhia telefônica. Eu acho que naquele tempo ainda se chamava CTB. Ou havia mudado o nome para Telesp, não me lembro. Mas me lembro das caminhadas. Lá por 1974 abriu um plano de expansão e eu entrei. O pagamento se expandia para o final do carnê, mas nada das linhas telefônicas serem expandidas.

Eu já estava fora da FAB, lecionava de duas ou três faculdades, já tinha um fusca (zero km!), troquei por um Opala, resolvi adquirir um telefone. Ou poderia alugar. Havia empresas especializadas em comercializar telefones (vendas e/ou aluguel). Procura daqui, procura dali, medi os valores, resolvi comprar um e pagar em 36 meses.

Eu já havia pago o carnê de expansão e a expansão não se expandia... O carnê foi transformado em ações da Telesp que foram perdendo valor de mercado e eu e todos que os entraram no plano perdemos tudo o que haviam pago. Poderíamos entrar na justiça, mas não havia esperança de vitória.

Eu me tornava proprietário de um telefone. Potencialmente um proprietário. Mas teria que esperar uma linha vaga para instalar o telefone. Eles eram eletromecânicos e cada telefone correspondia a uma linha ligada de casa até a central da região. Quem morava perto da central tinha bom sinal; quem morava longe tinha “um plus” de chiados.

Quanto tempo teria que esperar para esta bendita instalação? Recebi a sugestão de dispor de um “plus” para que a linha fosse instalada. Depois fui descobrir que o “plus” (também chamado de “por fora”, “porfo”) era uma “molhada de mão” que era dividida numa parceria  entre as empresas que vendiam telefone, funcionários companhia telefônicas e sei lá mais quem. Paguei o “plus”(belo nome!). Pagava ou não tinha telefone. Recebi o telefone.
Começa a era das comunicações. Primeiro as BBS. Meus filhos adoravam. Sem seguida veio a Internet por via de linha telefônica. Quem morava perto das centrais tinha sinal melhor, quem morava longe... era uma “caídeira” geral.

Até que chegou a internet de “alta velocidade”. Era o speedy, via linha telefônica. Uma linha telefônica, um computador e um telefone. Mas podia ter mais de um telefone em paralelo. Dava muitos defeitos e recebíamos visitas de técnicos. Se houvesse uma denúncia perdia-se o sinal de internet.

Eu tinha três computadores numa linha de internet. Chegou um técnico e ele me avisou que não podia. Perguntei por que. Porque era proibido. Mas por que era proibido? Era norma. Com os três computadores eu “puxo” mais sinal? Não. Mas degrada o seu sinal. E daí? É problema meu, não é? É. Então manda os seus chefes para PQP e se cortarem a minha linha terão que explicar na justiça.

Depois entraram os provedores na jogada para encarecer a Internet. Para receber o sinal teria que ter um provedor. Eu entrei num provedor para ter uma caixa postal para e-mails. Isto desde o tempo da internet por fio telefônico. Foi uma briga na justiça. Neste caso e no caso de comercialização de linhas telefônicas alegava-se o desemprego.

Não poderia acabar com a corrupção porque isto demandaria em desemprego. É a mesma coisa de não poder acabar com o jogo do bicho porque os apontadores ficariam desempregados; não pode acabar com o tráfico de drogas porque os pequenos traficantes (ou sei lá como são chamados) ficaram desempregados.

Até que chegou a internet oferecida pelas empresas de TV a cabo. A velocidade foi multiplicada por 10 ou mais. Estas empresas ofereciam um provedor, ou melhor, que aderisse a elas o provedor fazia parte do pacote sem custo extra. Acabou com a briga dos provedores e não sobrou alternativa que a de melhorar os seus serviços.

Quando veio a privatização  os sindicatos (que elegeram Lula) começaram a realizar movimentos para evitar o desemprego. Um “repeteco” do que vimos acima. Mas não surgiu resultado por as linhas foram num primeiro momento multiplicadas por cinco. A minha provedora de internet me colocou à disposição duas linhas telefônicas sem custos além dos impulsos utilizados e ligações sem custo com outros telefones da mesma operadora e custo de impulsos urbanos para telefones na mesma operadora em outros Estados. Falo todos os dias com minha filha em Cabo Verde e com meu filho na Inglaterra pelo Skype sem custos, com valor de impulso de celular urbano se não estiverem online. Que pode ser feito através do computador ou de um smartphone.

E me aparecem candidatos falando em re-estatizar as empresas telefônicas. Estão loucos? Fora da realidade.






sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O grande golpe!

A morte de Eduardo Campos trouxe uma tamanha reviravolta na atual campanha eleitoral. Quando se esperava uma decisão final entre Dilma e Aécio, hoje mudou tudo para uma decisão final entre Dilma e Marina, com a vitória desta última. E o PT interromperia o seu projeto de poder cinquentenário no 12º ano. Será que o PT aceitará isto?

Nunca sabemos a respeito dos tratos entre quatro paredes. Numa entrevista perguntaram para Aécio Neves o que o diferenciava dos candidatos majoritários naquele momento (Dilma, Temer, Eduardo Campos e Marina). Ele respondeu que nunca foi aliado ao PT. E Eduardo Campos foi considerado um traidor pelo PT por ter se candidatado ao cargo majoritário. Até então Marina também era considerada como uma traidora.

Eduardo Campos morre e Marina assume em seu lugar. Havia um ar de satisfação em Lula e outros lulistas presentes no velório. Sempre se falou que Marina era um Lula de coque. Ou Lula de saias. Lula e Marina têm perfis parecidos. O filme “Filho do Brasil” poderá ter uma edição “Filha do Brasil” sem muita modificação. E Marina é “cria” do PT. Dilma, não.

O noticiário mostra um conflito entre os lulistas e os dilmistas, aqueles lutando para que Lula substitua Dilma na campanha, mas Lula reluta com medo de uma derrota. O mau governo de Dilma é visto como um mau governo do PT. E o PT é Lula e Lula é o PT. Lula teme substituir Dilma e ser derrotado. Uma possibilidade presente. Marina caiu dos céus... Quase que literalmente.

Dilma poderá renunciar à candidatura e o PT apoiaria Marina. E Lula tem ascendência sobre Marina. Dilma poderá ser substituída até às vésperas das eleições. E se não renunciar? O PT a cristianizaria. Fácil.

Seria um segundo golpe no espaço de 50 anos. Ah, mas o PT é um inimigo do golpe de 64. Realmente é. Mas foi um golpe dos outros; agora será um golpe petista. Portanto “eticamente” aceito.

Será que estarei sonhando?



segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O significado político das palavras


A Revista Época desta semana (Ed. 846, 18/08/2014, p.7) traz uma crônica interessante de Eugênio Bucci a respeito da insistência da Presidente Dilma em ser chamada de PresidentA. Pode até ter um quê de feminismo, mas na realidade funciona como um identificador de preferência eleitoral. Quem a chama de PresidentA está dizendo que é adepto dela e agora, nesta época, eleitor.  Quem a chama de Presidente faz uma espécie declaração de voto. Ou está de acordo com a sua gestão. Quem a chama de PresidentE mostra que é da oposição e não está de acordo com a sua gestão.

Costumamos, na língua portuguesa, classificarmos, coisas, cargos, etc., segundo o gênero. A Presidência da República é um cargo e se formos ao dicionário e procurarmos o verbete cargo, encontramos que é um substantivo masculino. Uma querida amiga recebeu uma comenda e colocou no seu cartão a referência “comendatriz”. Lembrei a ela que era comendadora, pois esta é a esposa do comendador. É o caso da embaixatriz e da senatriz, esposas, respectivamente, do embaixador e do senador. Hoje temos a embaixadora e a senadora. Houve discussões semânticas quando foram nomeadas as primeiras embaixadoras e foram eleitas as primeiras senadoras.

Quando foi criada a Fundação José Saramago, o escritor recomentou a sua esposa Pilar Del Rio, como presidentA[1] da Fundação. Mais adiante Pilar é entrevistada e o entrevistador refere-se a ela como presidentE. Ela corrige: presidenta. Dada a insistência do jornalista Pilar reafirma que ela sendo mulher é presidenta e se até então só havia presidentes é porque não havia mulheres ocupando esta função[2], lembrado por Eugênio Bucci, citado acima.

No caso brasileiro, Dilma foi a primeira mulher a ocupar o cargo de Presidente da República, portanto ela é a Presidenta. E está no direito em exigir que assim seja chamada. Ela não é mulher? A discussão saiu do campo da semântica para o campo da política. Os que querem agradá-la chamam-na de Presidenta e os opositores chamam-na de Presidente.

Bucci nos lembra de outros termos que identificam posicionamentos políticos contra ou a favor. Se nos referirmos às ilhas Falklands estaremos reconhecendo a soberania inglesa, mas se nos referimos às ilhas Malvinas o nosso posicionamento será a favor da Argentina. Da mesma forma, seremos favoráveis ao MST se nos referirmos aos atos de ocupação e contrários se consideramos invasão. O mesmo acontece quando nos referimos à Revolução de 1964 e ao Golpe de 1964.

Agora estamos num período eleitoral. Até o dia 13 de agosto eram uma candidata e dois candidatos principais. Depois do fatídico acidente em que pereceu um dos candidatos que estava entre os três de maiores intenções de votos e considerando as negociações iniciais, poderemos imaginar que em janeiro de 2015 poderemos ter um presidente, ou uma presidenta ou uma represidenta. Esta ordem também denuncia um desejo político.

Mauro Cherobim













[1]  José & Pilar – O filme. 48 minutos. https://www.youtube.com/watch?v=iesonOSVTBQ
[2]  Id. 1h, 34 min, 31 seg. do filme citado acima.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Mitomania governamental

Condenamos veementemente os que mentem. Mentir é perigoso. Moralmente perigoso; a mentira tem pernas curtas, diz sabedoria popular. Mas falar a verdade também é perigoso. A verdade impediu-se de ser hoje um “Fabiano” aposentado. E também me impediu de ser hoje um professor titular. Também aposentado.

Puxa como o tempo passa rápido!...

Uma minha amiga perdeu o emprego porque falou a verdade. Mas eu falei a verdade! Ela me disse. Mas deu o nome aos bois!... alertei-a atrasado. Mas eles iriam saber que eram eles... Sim, mas mugiriam no silêncio com temor e “chifrar” (entre parênteses, pois aqui uso no sentido de usar os chifres e não a chifra, ferramenta dos encadernadores).

Estou falando isto se lembrando da analista do banco Santander que foi despedida porque falou uma verdade funcional que todos os analistas sabiam, mas precavidos calavam-se: as curvas das bolsas (e da economia) eram inversamente proporcionais às curvas das intenções de voto da candidata presidencial Dilma. Verdade funcional, disse acima, o lucro da instituição bancária depende do lucro dos seus clientes. Se eu fosse um aplicador (ah, por que fui ser professor?) ficaria de olho nas curvas ascendentes do lucro da instituição em que colocaria o meu rico hipotético dinheirinho.

“Se hay gobierno, soy contra”! O principal do Santander parece não partilhar desta máxima espanhola. Ouviu um grito de um mitômano político e despediu a sua analista. Ela não foi primeira; o Santander demitiu um seu economista chefe porque fez uma crítica da contabilidade criativa da Petrobras direta e em público a um então presidente da petroleira. Este economista foi entrevistado pela revista Época, edição 844 de 04/08/2014. Marquei um sua frase: “O governo tem de aprender a ouvir o contraditório”.

A mitomania não admite a contradição e vive fora do mundo real. Assim foi o governo Lula e assim é o governo Dilma. Não só estes dois governos, mas todos os governos autoritários. E os mitômanos se unem nas suas fantasias. Lula, Dilma, Fidel, Raul, Maduro, Cristina... Tristes lembranças terão na história.

Os marqueteiros podem manipular uma verdade atual, mas conseguirão manipular a história.


Que triste papel terão estas criaturas...

quinta-feira, 10 de julho de 2014

A eternização do sistema de cotas: uma ação de exclusão


Escrevi este texto há tempo. Como acabei de ler um comentário que afirmava ser a meritocracia é um fator de exclusão e que neste texto falo ao contrário, resolvi rever e publicar. A versão original não tinha o subtítulo.

Não é a meritocracia que exclui, mas pessoas que excluem outras para evitar concorrência, preservar espaços e manter empregos na burocracia. A meritocracia, portanto, inclui. Não por si só, é claro, mas a partir de políticas educacional, de empregos, etc.

O sistema de cotas é uma política social de inclusão, chamada de ação afirmativa. As ações afirmativas não podem ser  eternas, pois se assim for elas se tornarão políticas de exclusão.

A bolsa família, por exemplo, pe uma ação afirmativa de inclusão. O que se tem feito para que as pessoas deixem de depender desta bolsa? Pelo que tenho lido e sabido são de pessoas que, por iniciativa própria, usam a bolsa família como “trampolim” para aumentar a sua renda numa atividade produtiva. São pessoas empreendedoras, mas nem todas são por si próprias. E isto acontece num percentual, ínfimo, insignificante.  Não há uma política de ação afirmativa com objetivos educacionais, de habilitação, etc. Se houver, não mostra eficiência. Como está acontecendo, a bolsa família se tornou um programa de exclusão.

O programa bolsa família se transformou num grande curral eleitoral. Em pleno século XXI.

O sistema de cotas, apesar do que o governo e a militância propagandearem que uma ou outra pessoa usou a bolsa família para desenvolver um empreendimento qualquer, o que isto representa no total dos beneficiados? Um “traço estatístico”. Assim sendo, a bolsa família se tornou um sistema de exclusão. Da mesma forma, qual é o percentual de alunos do sistema de cotas que completou os seus estudos e hoje concorre no mercado de trabalho fora do setor público?

Isto não se publica por dois motivos principais: mostrará a ineficiência do sistema e do governo confessará a não criação mecanismos de inclusão aos cotistas.

O sistema de cotas foi criado pela Medida Provisória nº 63, de 2002, convertida na lei nº 10.558, de 13 de novembro de 2002. Dizia no seu Art. 3o que “as transferências de recursos da União por meio do Programa Diversidade na Universidade serão realizadas pelo período de três anos”.

Como era uma ação afirmativa na área educacional com o objetivo de ingresso na universidade, a meu ver o prazo deveria ser o mesmo da soma dos ensinos básico e secundário, junto a uma reforma educacional e um trabalho social para colocar todos os alunos em nível de igualdade. Independentemente das diferenças econômicas, sociais e outras. Isto não foi feito. Um mês e meio da lei ser sancionada mudou o governo. E o seu art. 3º foi revogado 4 anos e nove meses depois  pelo Art. 18 da Lei nº 11.507, de 20/07/2007.


A Lei 11.507 também foi originária de uma Medida Provisória de nº  361, de 2007, convertida de Lei. Uma Lei ônibus, em que esta revogação foi de “carona”.  Esta lei tem 19 artigos e o 19º diz que “esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”.

E o sistema de cotas deixou de ser uma ação afirmativa de inclusão para ser uma ação de exclusão.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Uma forma diferente de censura

Quando comprei o livro “Assassinato de reputações” de Romeu Tuma Jr. tive que esperar. Disseram-me que era a 3ª edição; as duas primeiras edições esgotaram-se em menos de dois meses. Logo depois, assistindo um vídeo de Políbio Braga, ele comentava que fora secretario da Prefeitura de Porto Alegre e na saída escreveu um livro descrevendo todas as falcatruas que tomara conhecimento. Estranhou que em menos de dois meses foram vendidas duas edições. Ele próprio conseguiu o livro de sua autoria na 3ª edição.

Nesta semana aconteceu-me coisa semelhante. Li há umas três edições da revista Veja uma matéria acerca das memórias de um ex-guarda-costas de Fidel Castro que hoje vive exilado em Miami, nos Estados Unidos. Tenho curiosidade em conhecer a vida destes ditadores. O que eles pensam da vida. Em especial Fidel Castro.

Fidel e Rui Castro são filhos de um terrateniente cubano. Terrateniente é um termo do espanhol, resultado da junção das palavras “terra” (“tierra”) e “tenens” (“que tiene”). É o nosso latifundiários. Diferente de Pepe Figueres, filho de um modesto médico, fez uma revolução 11 anos antes da cubana, e construiu a democracia mais estável das Américas. E todos conhecem a sua história e a sua vida[1].

Fiz este comentário porque da minha curiosidade em conhecer  a vida privada (e real) de Fidel Castro. Os cubanófilos transformaram Fidel num herói mitológico, um semideus, positivo em todos os sentidos, e os cubanófobos transformaram-no num semidiabo. Dois extremos.

Juan Reinaldo Sanchez conheceu este lado desconhecido de Fidel. Fiz o pedido para uma livraria online, paguei, e hoje pela manhã um funcionário me telefonou informando que a editora (Paralela) publicou três edições a partir de 2013, esgotaram, e ela não tem perspectivas de publicar uma nova edição.

O Autor comenta acerca dos 3 milhões de dólares que Cuba enviou para a campanha de Lula em 2002 e os médicos cubanos que vieram ao Brasil e que vão a outros países, antes de sair de Cuba recebem treinamento de um oficial de inteligência e de outro de contra inteligência. Ele conta que na Venezuela os médicos coletam informações dos pacientes, se eles têm em suas casas fotografias de Hugo Chavez, suas disposições com relação ao governo, etc. Estas informações são utilizadas pela Inteligência cubana para determinas as características ideológicas de cada bairro[2].

Como não consegui o livro impresso, tentei comprar o e-book. Ao fazer o pedido recebi a mensagem que aquele livro não podia “ser vendido no seu país”.

Claro, estamos em ano eleitoral, com candidata do PT concorrendo à reeleição e muitos outros candidatos petistas a governos estaduais, assembleias estaduais e ao Congresso Nacional. Este livro poderia causar um grande estrago aos petistas nas eleições deste ano. Tem lógica.




[1] Um bom texto para se conhecer no que Figueres e Fidel se parecem e se diferenciam, ler http://www2.sirkis.com.br/noticia.kmf?noticia=9623012&canal=259
[2] Mais informações, ler  “Cuba ajudou a campanha do PT” em Veja, ed. 2380, 2/7/2014, p.67.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Os intelectuais orgânicos e os Coxinhas

Coxinha não são as crianças torcedoras do Curitiba Futebol Clube (atualizei a grafia), mas os que não forem petistas.

Para não ser coxinha tem que se mostrar obediente aos dogmas doutrinários do lulopetismo e aprender a inventar uma porção de coisas do PSDB ou do DEM. Estes partidos políticos nem existem mais, mas são ressuscitados a todo o momento. Se não tiver inventividade para a invenção, basta espalhar o que os outros inventaram. Enfim, terá que treinar a ser mitômano.

Tendo como base o que já se falou dos penas de aluguel, há um processo de avaliação em que será testada a obediência aos dogmas  lulopetista, demonstrar respeito obsequioso a personalidades como Cristina Kirchner, Evo Morales, falecido Hugo Chavez e seu herdeiro Nicolás Maduro e, principalmente, irmãos Castro. E a todos os ditadores do mundo afora. E ser um distribuidor de mensagens mitômanas a respeitos de coxinhas famosos. Se for comprovada a  obediência depois de um ano de experiência, as portas para o mundo não coxinha começam a ser abertas.

Os aprovados podem, por exemplo,  abrir um blog com financiamento de verbas  públicas, empresas estatais, bancos públicos, etc. Ou então receber uma nomeação a um Ministério, um projeto, etc. Um trabalho sacerdotal. Muitos encontros para reuniões. Para que os não coxinhas sejam produtivos no seu sacerdócio e não se cansem, estas reuniões são feitas em hotéis fazendas, pousadas, etc., num ponto equidistante e isolados (não interessa a distância), todos de muitas estrelas.

Como ninguém é de ferro, as suas férias são gozadas  em resorts, de preferência em praias vizinhas às que foram a morada de Iracema.

Enquanto isto os coxinhas ralam-se financiando o sacrifício dos não coxinhas, auto intitulados de intelectuais orgânicos.


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Desta vez Lula está com a razão

É fácil entender FHC porque ele mais escreve do que fala; registra as suas ideias. Mas nem sempre ele é entendido porque avulta o analfabetismo funcional. Mas este é outro assunto, para outro momento. Quanto a Lula é difícil de entender as suas ideias porque não escreve e a cada discurso expressa uma ideia. E como, tal como o grande chefe, que ninguém o contesta, não se importa com a coerência da sequência das suas ideias em suas exposições.

A militância e os escritores de pena alugada se exasperaram com a entrevista de Ney Matogrosso em Portugal, na mesma emissora que Lula, semanas antes, havia dado uma entrevista. Foram declarações diametralmente opostas. Como falei acima, Lula é incontestável, ninguém contestou a descrição do Brasil que só existe na cabeça de Lula. E ninguém colocou em dúvida a sua capacidade de análise política, ao contrário de Ney Matogrosso, que passou a ser apresentado como um artista medíocre comparado a outros artistas como Chico Buarque e Gilberto Gil. Estes dois artistas são alinhados à troika petista, diferente de Ney Matogrosso. Logo, foi duramente atacado pela militância. E também pelos para-militantes. Todos eles, no entanto, são cidadãos com direito de expor as suas ideias, que poderão ser consideradas bobagens, só que umas são a favor do grupo que está no poder e o outro contra. Como a militância é aguerrida e sustentada ideologicamente - e talvez materialmente – pelo grupo que está no poder, é fácil prever como serão (e como foram) os ataques.

Estes comentários foram inspirados no artigo de Aloisio de Toledo César, “Desta vez Lula está com a razão”. Ou seja, o julgamento do mensalão foi político, 80% político, pois se não fosse ele estaria na Papuda, atrás das grades, junto aos seus companheiros e homens de confiança. O autor do artigo sabe o que fala, pois é juiz aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,desta-vez-lula-esta-com-a-razao,1160447,0.htm . Acessado em 15/05/2014.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Padim Ciço modernoso



Há um caráter religioso na política brasileira.  Isto ficou evidente a partir de 2003, mas já se notava sinais disto com o aparecimento de Lula na mídia lá pelos anos sessenta. O filme biográfico de Lula deixou isto muito claro. Até o Lula real acreditou no Lula mitológico. Construiu-se uma versão moderna – ou modernosa – do Padre Cícero, o Padim Ciço.

Até hoje, passados dois mil anos, pouco – ou quase nada – se sabe sobre a figura histórica de Jesus Cristo e pouca coisa se sabe da vida (concreta) do Padre Cícero além das descrições mitológicas. A vida de Lula segue o mesmo caminho, o caminho do bem-aventurado e os seus seguidores (a militância lulopetista), os seus beatos. Alguns deles estão fazendo retiro na Papuda, mas o número ainda é muito grande, nas mídias escrita e digital prontos para a defesa do seu bem-aventurado.

Foi nisto que se transformou a política brasileira, uma mistura de Nosso Lar (“vida” de André Luiz) e os cordéis de Joazeiro do Norte, enfim, uma visão modernosa de Padim Ciço.

Pode-se falar e criticar até Dilma, mas há uma interdição para se criticar o Paim, digo, Lula. Critica-se a sacristã, mas não se toque no bem-aventurado. A própria igreja está clamando o “Volta Padim”, digo, “Volta Lula”.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Bóia e cobra

São Paulo é, em certos aspectos, uma “cidade de departamentos”, com as suas ruas especializadas. Temos a 25 de março, a Maria Marcolina, a Oriente, a São Caetano (rua das noivas), José Paulino, etc. Temos a Santa Efigênia especializada em artigos eletrônicos, a Florêncio de Abreu e  máquinas e ferramentas, a Paulista em instituições financeiras.

Outro dia fui á Florêncio de Abreu. Ela começa no Largo São Bento, onde está o Mosteiro com o mesmo nome. A Ford do Brasil, quando inaugurada em 1919 instalou-se num armazém de Florêncio. Não sei em que altura. Quando estava na faculdade, na Vila Buarque, ia a pé até o Largo São Bento pegar o “elétrico” (tróleibus, para os mais jovens), que percorria a Florêncio até o seu final. Fazia um tempão que não andava por ali. Como teria que ir lá numa loja bem no meio da rua, saltei do metrô no Largo São Bento, num extremo da Florêncio e o peguei de volta na estação Luz, que tem um acesso no final da rua.  E claro, levei a máquina fotográfica. Uma compacta, mais barata que um celular, é claro. Queria fotografar. A maioria dos prédios construída no primeiro quartel do século passado estava lá. Claro que havia muitos prédios novos, mas em número pequeno em relação às construções antigas.

A Casa da Bóia também estava lá. Além das recordações de quase meio século, recordei de um fato associado. Uma minha orientanda desenvolvia o seu doutorado sobre educação indígena numa aldeia guarani do interior paulista. Uma professora da escola mostrou para ela a redação de um aluno cujo tema era bóia. Enquanto a classe falou sobre bóia, este aluno discorreu sobre cobra. A orientanda começou a desenvolver uma bela teoria psicológica da relação entre bóia e cobra, com a ajuda da professora e da orientadora. As conclusões eram muito interessantes, mas ficaram frustadas quando eu lhes disse que o aluno guarani não ouviu direito e entendeu mbói, cobra em guarani. Quem viu o meu sorriso defronte a Casa da Bóia deve ter pensado em alguma caduquice de minha parte. Rindo sozinho. 

sábado, 10 de maio de 2014

Comentários sobre a pornografia[1]


Costuma-se falar, com um alto grau de ironia, que a pornografia é o erotismo do outro. Quando ouvimos tal afirmação é sinal que estamos caminhando pelas trilhas da moral. Tentar definir algo envolto por idéias de moral é muito difícil pela, sua subjetividade. Poderemos dizer que pornografia é tudo aquilo que ofende a moral sexual e, considerando a moral sexual uma das morais mais rígidas, a pornografia é a faceta mais ampla da sexualidade.

Há duas décadas um juiz apreendeu uma edição de uma revista sexy que aparecia na capa uma mulher com o dorso nu, com a alegação de que seios à mostra eram pornográficos. Ordenou o acondicionamento das revistas em envelopes pardos. Este fato ilustra a compreensão da pornografia como algo exposto.

Uma maneira para se compreender de que pornografia é uma sexualidade exposta, num ponto extremo desta linha moral, estariam todas as formas de proibições. O erotismo, nesta imagem, estaria no meio da linha em direção da pornografia.  Em outras palavras, a moral aceita e a contestação à moral. Todos os fatos que acontecem em sociedade são binários e de oposição. O que seria do bem sem o mal? Do bom sem o ruim? De Deus sem o diabo? Dos anjos não fossem os íncubos e súcubos? Da moral sexual sem a pornografia? Quanto mais acerbada a moral sexual, mais floresce a pornografia.

Quando se fala em pornografia reduzimo-la ao sexo exposto, escancarado, como uma agressão. Se percorrermos a história veremos que a agressão é hora moral, ora política, ora as duas. Terá a forma de agressão pessoal na media em que estivermos envolvidos no contexto em que ela atinge.

A invenção da tipografia se tornou uma aliada à difusão da pornografia. Pietro Aretino (1492-1556) é considerado o primeiro pornólogo. Em Cartas sobre os Sonetos escreveu: "Diverti-me [...] escrevendo os sonetos que podeis ver [...] sob cada pintura. A indecente memória deles, eu a dedico a todos os hipócritas, pois não tenho mais paciência para as suas mesquinhas censuras, para o seu sujo costume de dizer aos olhos que não podem ver o que mais os deleita [...] Que mal haverá em contemplar um homem a possuir uma mulher? Serão os mesmos animais mais livres do que nós? Não é mister ocultar órgãos que engendraram tantas criaturas belas. Seria antes mister ocultar nossas mãos, que nos dissipam o dinheiro, fazem juramentos falsos, emprestam a juros usurários, torturam a alma, ferem e matam" (http://www.germinaliteratura.com.br/erot_agopa.htm). Uma crítica política e uma crítica moral.

“No século XVIII a França foi para toda a Europa o modelo da arte de amar e mais precisamente da arte de gozar” (Alexandrian. História da Literatura Erótica. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. P.161). Mas também foi o século que esta literatura sofreu perseguições, entrando no rol dos livros proibidos.  A proibição abrangia os livros que tratavam “da libertinagem” praticada  por trás dos muros dos palácios e dos castelos pela aristocracia e pelo clero. Estes livros circulavam na França sob o rótulo de livros filosóficos e eram escritos com o objetivo de desacreditar estas duas categorias nos tempos que antecederam a Revolução Francesa (Robert Darnton Edição e Sedição: o universo da literatura clandestina do século XVIII. São Paulo: Companhia da Letras, 1992).

Muitos dos livros proibidos tornaram-se partes da literatura erótica e muitas gravuras, hoje, fazem parte do acervo da arte erótica. Um exemplo brasileiro sugestivo são os Catecismos de Carlos Zéfiro. Com este nome um funcionário público desenhava historias em quadrinhos e sacanagens, que eram vendidas para um editor. Carlos Zéfiro era um apelido para escondê-lo da rigidez do estatuto de funcionários que poderia puni-lo com a demissão. Ele foi descoberto no ano anterior à sua morte. Antes de ele ser descoberto as suas historietas já faziam parte da literatura erótica e os seus desenhos, artes eróticas.

A distância ou proximidade da pornografia da literatura erótica ou da arte erótica, varia de acordo com os valores do momento histórico em que isto acontece e que permitem a aceitação naquelas novas categorias.

Quando fazia a minha pesquisa na qual analisava a relação da pornografia com a moral sexual, eu me perguntava: porque a Playboy é considerada uma revista erótica e a Private (uma revista do mercado pornográfico, na época) não é? O texto, as fotos, a editora e os leitores da revista Playboy davam-lhe esta classificação como erótica, o que não acontecia com a outra. Subjetivamente.

Mauro Cherobim.  Mestre e Doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo e Livre-docente pela Unesp - Universidade Estadual Paulista.





[1] Este texto foi publicado (por solicitação) no jornal O Povo de Fortaleza (CE) em dezembro de 2007.