sábado, 26 de novembro de 2016

Cuba depois de Fidel

Fidel Castro foi a imagem viva do castrismo cubano. Cuba é um país que sempre viveu sobre regimes ditatoriais. Estão na memoria histórica os regimes de Fulgencio Batista e de Fidel Castro, incluído aqui o de Raul de Castro. Fulgencio assumiu o poder em 1933 numa “Revolta de Sargento” em que nomeou a si mesmo chefe das forças armadas, com a patente de coronel. Manteve o controle de presidentes fantoches até que em 1952 concorreu às eleições, foi derrotado e deu um golpe de Estado. Em 1959 o regime de Fulgencio foi destituído, mas ele já havia deixado Cuba no ano seguinte.

Não deve existir um cubano que tenha vivido fora de um regime autoritário. São 83 anos desde a Revolta dos Sargentos de Fulgencio Batista até hoje, a morte de Fidel Castro. O que seria democracia para os cubanos atuais? Seria a Cuba de Fulgencio, que Fidel declarava que se tornara um cassino de proprietários norte americano. E a oposição aos EEUU cresceu no caso da instalação dos misseis da União Soviética. Fidel foi hábil ao administrar esta contradição.        

O que representará a morte de Fidel para o mundo? Tenho ouvido e lido na imprensa. Nada mais do que uma página da história. Talvez alguma coisa a mais na esquerda latina americana que já se sente órfã de Fidel. O que devemos pensar como será Cuba com a morte de Fidel e a aposentadoria de Raul.

A ditadura de Fidel foi uma ditadura militar e todas as participações de Fulgencio foram quarteladas, iniciando com a revolta dos sargentos. E a historia nos tem mostrado que as ditaduras militares não dão certo de a “nomeklatura” cubana é militar. Raul Castro “fardou-se” para comunicar o falecimento do irmão Fidel. Um presidente “nomeado” que já fala em aposentadoria. O que e como representará, daqui para frente esta falada abertura a turismo norte americano, quando os interesses “privados” cubanos estão nas mãos de militares? E como estão sendo as articulações para a sucessão de Raul Castro? Como será Raul um presidente aposentado sem o carisma de Fidel?

Nós brasileiros poderemos nos perguntar: a fortuna que os governos Lula e Dilma enterraram em Cuba terá retorno? Foi um investimento ou foi um presente? Nós ficamos com a crise econômica. Um presente como a doação do estoque regulador de feijão “ao povo cubano”, enquanto que o povo brasileiro está comprando feijão em pacotinhos de meio quilo?


Uma curiosidade: uma minha amiga comentou que a sua cunhada quando vai a Cuba fica hospedada na casa de uma família cubana. E comenta como os cubanos vivem bem. Lembrei-me deste comentário quando a correspondente da TV Globo deu a notícia do falecimento de Fidel. Segundo ela, estava hospedada com uma família cubana, mostrou imagens da casa  e dos familiares consternados com a morte do comandante. Um eficiente meio de controle. Como serão os herdeiros dos Castros atuais (os Castros futuros)? 

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Cinco hipócritas de 2009

No mês que vem este texto completará sete anos. Moisés Naim costumava publicar anualmente os cinco maiores hipócritas do ano no jornal El País da Espanha. Em 2009 Lula foi um dos cinco hipócritas mundias. Hoje ele pratica o seu jus esperneandi para escapar da prisão. O analista estrangeiro enxerga com maior clareza o que, para nós, que por anos permanecemos sob uma carga de blogs e militantes comprometidos (ideologicamente?) com os crimes praticados por ele e por sua sucessora, descobertos pela justiça federal.



Moisés Naím
Cinco hipócritas de 2009
Moisés Naím 20/12/2009
Rever algumas das mais flagrantes hipocrisias dos poderosos do mundo é instrutiva. Revela as tendências globais, as contradições e as vulnerabilidades elites da moda. É por isso que eu decidi oferecer a minha lista muito pessoal e subjetiva de algumas dos grandes hipócritas de 2009.
1. Banqueiros.
2. Tony Blair.
3. Os homens líder do Partido Republicano.
4. Os juízes britânicos que emitiu o mandado de Tzipi Livni.
5. Lula da Silva. O Presidente do Brasil declarou que Hugo Chávez é o melhor presidente da Venezuela dos últimos 100 anos. Nunca ouvimos Lula falar das condutas autoritárias do seu amigo venezuelano, mas temos visto atacar furiosamente as recentes eleições em Honduras. E na mesma semana recebeu Mahmoud Ahmadinejad com todas as honras, cuja vitória eleitoral também é questionada. O que tiveram as eleições no Irã que tiveram as de Honduras? Tiveram uma enorme fraude, morte, tortura e brutal repressão ordenada pelo governo de Ahmadinejad. O afável líder brasileiro parece não haver tomado conhecimento.
Leiam aqui o texto completo:http://elpais.com/diario/2009/12/20/internacional/1261263607_850215.html  
  

domingo, 13 de novembro de 2016

Aluízio Estanislau Cherobim - 1929-2011

Certa vez li um artigo afirmando que o português falado em Portugal é um português moderno e o português falado no Brasil é um português medieval. Por este motivo, autor do artigo afirmava que os Lusíadas eram mais inteligíveis aos brasileiros do que aos portugueses. Quando esta (ex-) colônia começou a ser habitada desenvolveu o seu modo de falar dentro condições coloniais e em Portugal manteve o seu português dentro do mundo europeu. Da mesma forma, os imigrantes transferiram para cá as relações sociais das suas pequenas comunidades de suas terras de origem. Estas relações sociais, como das famílias extensas, adquiriram características especiais de acordo com as condições sociais, ecológicas, etc., que aqui encontraram. Origem do que poderíamos chamar de famílias italianas do Brasil. Correntes migratórias de outras origens fizeram o mesmo.

Os primeiros imigrantes formaram colônias com famílias extensas e casamentos endogâmicos. Os filhos destes imigrantes, tantos os nascidos nas terras de origem e os primeiros nascidos na terra de destino formaram o que poderemos chamar de primeira geração nacional. No nosso caso, primeira geração brasileira. Os primeiros casamentos foram endogâmicos. Membros mais velhos desta primeira geração continuaram com os casamentos endogâmicos, mas os mais novos começaram a realizar os primeiros casamentos exogâmicos, isto é, fora da colônia. Na minha família, por exemplo, a primeira geração era composta de cinco irmãos, todos eram homens, os três primeiros casaram dentro da colônia e os dois últimos fora. Todas as noras se adequaram ao conceito de família dado o papel predominante da mamma, neste caso a esposa do casal italiano. A mamma possivelmente tenha tido um papel de maior poder porque fazia parte de um casal que iniciava uma “nova” família.

Os primos tinham uma proximidade que muitas vezes se confundiam com irmãos. Eu tive dois primos nesta condição. Aluízio e Carlito. Eram como irmãos mais velhos que eu não tive.

Aluízio nasceu e morava  em Curitiba. Meu pai morou com o meu tio. Também morava um irmão da minha tia. Os dois eram como segundos pais de Aluízio. Bem mais tarde fui morar com o meu tio e o que o meu pai fazia com Aluízio eu fiz com os dois filhos mais velho dele: pajear. Aluízio era para mim, como disse, um irmão mais velho. Outro primo, João Carlos (Carlito), filho de outro irmão do meu pai, era muito próximo do meu pai. Era o sobrinho mais velho do meu pai e o meu pai o seu tio mais jovem. Aluízio nasceu em 13 de novembro de 1929 e Carlito em 24 de janeiro de 1930. Uma diferença de dois meses e onze dias. Carlito faleceu há 18 anos e Aluízio há cinco anos e pouco menos de quatro meses.


Hoje, 13 de novembro de 2016, Aluízio faria 87 anos. Minhas saudades a este primo que eu considerava um irmão.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

E daqui para a frente?

Eu fui a favor do afastamento de Dilma Rousseff. Qualquer pessoa com o juízo no lugar seria a favor. Ela foi. E não volta mais. Não interessa ao PT, não interessa ao PMDB, não interessa a ninguém. Ficam alguns idiotas perguntando com as perguntas tolas para saber quem é a favor do afastamento definitivo ou não. Sem querer ser repetitivo, ela já foi afastado em definitivo.

Temer não é meu candidato favorito. Mas não posso que ele é um político sagaz, é inteligente, sabe segurar as rédeas com PMDB com maestria e dos políticos de modo geral. Soube dar os “pitacos” dele nos momentos certos que descontrolaram Dilma e os seus seguidores. E colocou ministros que sabem melhor do que ele nas diferentes áreas. Diferente de Dilma “que sabia mais” do que os ministros. Sabia tanto que foi apeada do poder.

Se ela deveria perder ou não os direitos políticos é um problema maior para o PT e para o STF. Para o PT porque a mulher é louca e vai mais uma vez colocar obstáculos para Lula. Já colocou porque se recandidatou e impediu que Lula ficasse mais oito anos. Ela com os direitos políticos intactos será concorrente de  Lula e fazer com que os eleitores não esqueçam o que foi a gestão lulopetista.

Temer, com a voz mansa e falando português, mesmo sem personalizar não vai deixar que os eleitores esqueçam o lulopetismo. Isto se Lula chegar conseguir chegar fora das grades em 2018.

O fatiamento constituição deixou Ricardo Lewandowski e o STF em maus lençóis. Lewandowski frente seus colegas. E com a nova presidente do STF...


E os senadores que pretendem se beneficiar do “fatiamento”... A Lava Jato e as outras operações da Polícia Federal estão municiando o MPF com informações que até o dia se surpreende. Não haverá direitos políticos que segure uma denúncia bem feita da Justiça Federal.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

 O aprisionamento de um intelectual numa narrativa mentirosa.

Em que país eu vivo? Vivo num país que julgo viver, que para mim é país concreto, há 79 anos e quase três meses. Sempre trabalhei e vivi de salários. Muitas vezes tive que realizar trabalhos extras  para completar o meu salário que era “menor do que o mês”. Bem menor. Quando eu me aposentei acrescentei aos meus salários sete quinquênios. Se eu atrasasse a aposentadoria mais dois anos receberia mais um quinquênios. Mesmo assim permaneci mais uns 5 anos colaborando com um programa de pós graduação, viajando, sem qualquer ganho extra. Pagava (do meu salário) para trabalhar.  Fiz o mestrado, o doutorado e a livre-docência. Sempre resultado de pesquisa de campo. Tive duas malárias. Nunca trabalhei fora da atividade fim da universidade: ensino, pesquisa e extensão à comunidade. Mesmo nos dezessete anos e um mês que permaneci na Força Aérea como radiotelegrafista de terra, utilizei o meu tempo vago para estudar. Como casei cedo e o primeiro filho veio logo, nunca tive tempo para aventuras e um futuro melhor para mim seria um futuro melhor para os meus filhos.

E sou da segunda geração de uma família italiana.

Pensando retroativamente parece-me que segui um bom caminho a partir de uma orientação do meu pai: siga o que está fazendo se você quiser me ajudar. Segui. E por isto, em grande parte devo à minha formação técnica e profissional recebida na Força Aérea como especialista de aeronáutica, em funções em que não tem muito espaço para erros. Muitos especialistas de aeronáutica não estão mais na Força Aérea, uns porque se demitiram para seguir outros caminhos, como foi o meu caso, outros com a aposentadoria, todos em atividades produtivas na sociedade.

Antes da minha aposentadoria, principalmente depois de ser admitido numa universidade pública paulista procurei sempre trabalhar de forma aberta de modo a mostrar ao contribuinte paulista a forma de como os seus impostos estão sendo usados. Mesmo agora, como aposentado, as minhas ideias, as minhas contribuição são abertas. E é por este motivo que não participo de correntes de pensamento privadas. Procuro ver o mundo como ele é e não a partir de uma construção, pois eu vivo neste mundo.

Dilma e seus seguidores afirmam que Dilma foi eleita com 54 milhões de votos. Na verdade não foi ela que foi eleita com este total de votos, mas a chapa dela e de Temer. É uma narrativa mentirosa de que Temer não teve votos. Ele também foi eleito com 54 milhões de votos. E foi eleito para ser substituto de Dilma em qualquer eventualidade de ela se afastar. Ele deu um golpe? Não houve golpe, mas um contragolpe. E que foi o autor deste contragolpe? Os eleitores e grande parte dos que votaram na chapa Dilma e Temer.

Eu vivo neste país em que uma Presidente ignorante e autoritária (desculpem-me pela redundância!) provocou uma das maiores – ou a maior – crises econômica e política. Neste país em que vivo. Repito a redundância para reafirmar o que estou falando. Uma presidente que mentiu nas eleições e que a mentira foi uma das ferramentas usada pelo seu marqueteiro. Como eu vivo neste país e sou um cidadão comum, tenho a oportunidade de conversar com gente de diferentes estratos sociais. Toda esta gente, em grande parte votantes da chapa Dilma-Temer, arrependida por tê-la eleita. Esta insatisfação vista no varejo vimos no atacado nas grandes manifestações e que também vemos nas redes sociais.

O que se faz em qualquer empresa, clube, grupo, etc., quando o seu dirigente é incapaz de bem administrar? Demite-se. E a Constituição Federal tem os instrumentos necessários para isto. E quem fez uso destes instrumentos? Um  grupo de cidadãos apoiados por milhares de outros. Gente como eu e tantos outros eu frequentam supermercados, vendas, lojas, etc., veem os preços a cada dia maiores; gente que se vê na eminência de perder os seus empregos dos mil e tantos que chegam todas as tardes em suas casas com a triste noticia que estão desempregados. Gente que vai ao supermercado e vê o feijão e o arroz em alta porque a dirigente doou o estoque regular para um país ditatorial e amigos. Não para ajudar o povo deste país, mas os seus dirigentes-amigos. Isto foi um golpe? Não, um contragolpe de quem estava sendo “golpeado”.

Em que país, em que mundo, vive esta gente que alardeia o processo de impeachment como um golpe? Estão ao nosso lado e que motivos diversos se tornaram crente a uma narrativa que qualquer dúvida a ela passa a ser chamada de traição. Traição a uma narrativa.

Tem lido muitos comentários, com a possibilidade de ser tornarem estudos mais aprofundados, para entender como intelectuais com a obrigação de refletir sobre as relações sociais, políticas, econômicas, mergulharem numa narrativa que passam a considerar como verdadeira.

É claro que os regimes autoritários, seja qual for a sua orientação politica, social, religiosa, têm os seus pensadores, os construtores de “verdades” e os vigilantes para cercear os que duvidam destas verdades.

Estamos num momento em que o pó ainda está revolto, mas já tem saído muitos comentários à procura de entender este momento e visualizar um futuro próximo.

Eu fiz este comentário porque recebi uma postagem de um antropólogo italiano que admiro muito, com muitos trabalhos memoráveis para se entender o Brasil, em especial a um sobre a cidade de São Paulo, o Professor Massimo Canevacci.  O Professor Canevacci devolve a sua comenda da "Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul". A comenda foi merecida, mas a devolução está sendo imerecida.

Discutir e duvidar de uma narrativa dos partidários de ex-presidente Dilma não é traição, mas uma necessidade para repensar o Brasil de hoje. Temer na presidência não é uma preferência, mas uma decorrência constitucional. Portanto a narrativa de golpe é uma mentira, construída com “verdade”. E duvidar de mentira não é traição. E colocar um intelectual nas teias de um politicamente correto também mentiroso é condenar um ilustre intelectual como o professor Massimo  Canevacci.

Mauro Cherobim - Antropólogo

Professor Doutor e Livre-docente .
Professor adjunto aposentado - UNESP

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A distância social e o jogo de prestígio

Muito interessante o artigo de Antônio Fernando Pinheiro Pedro sobre o título de doutor[1]. Assunto que me leva a ler, pois além de escrever muito bem, os seus textos prendem a atenção. Como Fernando sabe, na minha profissão os meus entrevistados são, na maioria, gente simples, índios, pessoas do mundo rural e também doutores de pequenas comunidades. Muitos advogados. Era comum usarem o doutor como prenome. Costumavam tirar sarro do pesquisador. Não era para menos, depois de prosear com uma porção de caboclos e ia conversar com um doutor.

Estas considerações não são contestatórias, mas algumas informações decorrentes da minha prática de pesquisa de campo que por várias vezes me levou a situações que me mostraram o tratamento de doutor como uma forma de distância social.

Criticam muito dos doutores acadêmicos, mas eles são professores assistentes. Existe uma “escadinha”: auxiliar de ensino, professor assistente, professor assistente doutor, professor livre-docente, professor adjunto e professor titular. Na Unesp, por falta de gente titulada (no meu tempo, não sei agora), o professor livre-docente é logo “promovido” a professor adjunto. Quando um professor faz a sua livre-docência o seu tratamento é de professor doutor.

Eu aguentei os primeiros sarros dos doutores e resolvi fazer um “experimento”. Tinha um cartão de visita com o meu nome e sob ele a palavra ANTROPÓLOGO.  Mantive este cartão e fiz outro, colocando “Prof. Dr.” antes do nome. Quando era bem tratado oferecia o cartão antigo e quando alguém tirava sarro dava o cartão novo. Nas visitas seguintes passava a ser bem tratado.

Comecei a fazer pesquisa de campo quando ainda era somente graduado. Como precisamos dos entrevistados éramos obrigados ao ouvir verdadeiras “aulas”. Ouvia tudo aquilo, pois se fossemos mandar a pessoas para aquele lugar que chega até a ponta da língua, a pesquisa pode parar por falta de entrevistados. Gente “esquentada” não pode fazer pesquisa de campo.

Estas experiências tornam-nos sensíveis a esta questão. Não levamo-las para o nível social, mas como um fenômeno de relações sociais. Houve um caso de um juiz processou o porteiro do seu condomínio porque não recebeu o tratamento de doutor. De acordo com o juiz que deu a sentença, “’doutor’ não é forma de tratamento, e sim título acadêmico utilizado apenas quando se apresenta tese a uma banca e esta a julga merecedora de um doutoramento. O título é dado apenas às pessoas que cumpriram tal exigência e, mesmo assim, no meio universitário”. Continuou na sua sentença “...que o tratamento cerimonioso é reservado a círculos fechados da diplomacia, clero, governo, Judiciário e meio acadêmico, mas na relação social não há ‘ritual litúrgico’ a ser obedecido (grifo meu)”.

Quando fui para a Amazônia dirigir um Campus Avançado do Projeto Rondon assumi um cargo de professor. Assim era tratado. Passavam outros professores por lá por períodos de uns 15 ou 20 dias. Era o único professor “de fora”  de permanência efetiva na comunidade. Passavam muitos “doutores” ligados aos governos federal e estadual, pois Humaitá era uma das sete comunidades de apoio da Transamazônica e próxima a ela havia o cruzamento da Transamazônica com a Rodovia Porto Velho Manaus. Os “doutores locais” (o Juiz, os médicos) tiram um relacionamento formal com a população local e quando tinham era de liderança. Por serem “doutores”.

Nas reuniões da tardinha, no bar da beira do rio havia a mesa dos doutores e sempre havia gente próxima da mesa para ouvir as conversar e se tornar assunto de conversa na cidade. Pela manhã, por volta das cinco horas da manhã, ainda escuro, os barqueiros, estivadores, trabalhadores braçais da prefeitura e alguns moradores de prestígio da cidade, mais o prefeito, o presidente da Câmara e algumas outras pessoas prestigiadas, reuniam-se nas escadarias do porto,  tomavam café oferecidos pelo Venturinha, proprietário do café na parte alta da escadaria. Muitas conversas ouvidas  das conversas dos doutores na tarde anterior era comentada da D.I.V.A.(Departamento de Investigação da Vida Alheia), como ironicamente os seus membros chamavam este encontro matinal. Eu era um dos membros deste encontro.

O professor, seja os das primeiras letras, seja os dos mais altos cargos acadêmicos, é professor. A legislação educacional define o processo de formação do professor, mas na longínqua Amazônia de então a maioria dos professores era formada por pessoas que, em boa parte tinha somente as quatro séries iniciais do hoje chamado curso fundamental e as suas moradias, casas de palafita, também eram a escola. Mas eram professores. Os professores “leigos”. E eu também era professor, mas um professor “do Sul” e de formação universitária.

Distância social é um conceito sociológico que mede a aproximação ou o distanciamento de posições sociais, ou status social (conjunto de normas ou regras que termina a posição que o individuo ocupa numa sociedade). Por exemplo, o porteiro, o gari, o juiz, o advogado, o médico, o motorista de ônibus, o professor, etc.

Outro dia assisti a um vídeo de uma discussão no Senado da República que mostrou uma discussão cujo foco era a “medição” do distanciamento social. Uma Senadora mandou que a advogada favorável a impeachment da Presidente afastada ficasse calada porque não era senadora portando sem alguns privilégios dos parlamentares. A advogada deu uma resposta acrescentando outros privilégios que lhe dava o direito de falar, direitos da sua função.

Manuel Diegues Jr. em um de seu artigos ensina-nos de que os seus filhos homens dos proprietários coloniais constituíam-se nos nexos com o Estado, claro que positivamente com o governo. O mais velho era o seu herdeiro na administração das suas propriedades. O segundo padre, numa Igreja parte do Estado, onde o poder rivalizava com muita força com o poder material, e assim preservando a sua potestade. O terceiro filho advogado para exercer cargos na administração colonial e o quarto filho militar. A igreja perdeu muito do seu poder, mas os operadores do direito aliam esta característica a um jogo de conceitos e valores da justiça que colocam sempre em evidência o seu poder em vários setores da sociedade.

O título de “doutor” que lá no início falei do seu uso como prenome, faz desaparecer o nome em favor da categoria profissional. O mesmo acontece com o médico. São os “doutores”.

Disse o juiz que deu a sentença ao seu colega que processou o porteiro do condomínio que “doutor não é forma de tratamento, e sim título acadêmico”. E aqui entra o Estado: o título acadêmico de doutor foi regulamentado e os de doutor para quem fez determinados cursos de graduação não foram. Mas por costume se tornou uma forma cerimoniosa impositiva. E sempre haverá espaço para discussão. E ser chamado de doutor agrada ao ego, seja o de origem acadêmica, seja os de cursos de origem nobre.

O jogo de prestígio continua...





domingo, 15 de maio de 2016

Esperteza e inteligência


Vemos e ouvimos a todo o momento de que Lula é uma pessoa extremamente inteligente, mas se acompanharmos a sua vida notamos que os seus atos e as suas atitudes são vitoriosos em curto prazo e desastrosos a médio e longo prazo. Um dos seus erros foi a indicação de Dilma para a sua sucessora. Não soube analisar o seu perfil além da sua obediência, ideal para “guardar” o seu lugar na presidência e retornar em 2014. Não refletiu – e por isto não pensou – de que a sua protegida fosse ser picada pela mosca azul do poder. Todos sentiam a incapacidade de gerenciamento da já então Presidente Dilma. Com a derrota de Dilma na sua reeleição o projeto de cinquenta anos de PT no poder, a carreira política de Lula e os milhares de petistas incrustados na máquina administrativa do Executivo, iria “para o vinagre”, para usar uma expressão popular. Até o governo Dilma se tornar insustentável. Dilma herdou os erros do governo Lula e os ampliou.

As pessoas espertas, cercadas de áulicos, são vaidosas e autoritárias. O que tenho lido a respeito de Lula, a melhor descrição do seu perfil psicológico – e de carreira politica – foi escrito por José Nêumanne Pinto, “O que sei de Lula” (Rio de Janeiro: Topbooks, 2011). Aproveitando-se de condições circunstanciais tornou-se o grande demiurgo da política brasileira. Demiurgo pela esperteza. O entendimento comum de esperteza é a “capacidade maliciosa de adaptar-se habilmente a situações adversas, tirando proveito da situação”. O esperto tem a habilidade, então de aproximar grupos aparentemente inconciliáveis. Ainda segundo Nêumanne Pinto, aproximou os sindicalistas, os membros católicos ligados à teologia da libertação e os exilados do regime militar que retornavam ao Brasil. Isto acontecia no momento em que regime militar dava sinais de exaustão.


A formação sindical de Lula impediu que visse o Brasil na sua totalidade, mas numa dualidade em oposição: nós (os trabalhadores sindicalizados) e eles, os outros, tantos os padrões como todos aqueles que não eram sindicalizados. Esta dialética de oposição e conflito continua até hoje, mas que teve sucesso com a formação de um “nós” ideológicos, como os acadêmicos que procuraram tornar as universidades em “chão de fabrica”. 

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Assédio sexual. Assédio politico

Ultimamente eu tenho me irritado com o assédio sexual homossexual que tomou conta das redes sociais. Isto me alertou que estamos sofrendo outro tipo de assédio, não tão consciente e por isto mais perigoso. Procurei, então, fazer um paralelo do assédio sexual com o assedio político.

A opção sexual  de cada um é algo pessoal, íntimo. Seja qual for. Heterossexual, homossexual, bissexual, e quanto forem. Se eu me relaciono socialmente com alguém não me importo com a sua intimidade, o que aquela pessoa faz na cama. Tenho muitas amigas e as tenho como ser social e não como ser sexual. Da mesma forma tenho amigos que sei que são homossexuais, mas isto nunca interferiu em nossa amizade. Este direito não é só na esfera sexual, mas também nas esferas, política, religiosa, etc.

Fico muito chateado quando batem à minha porta pessoas para fazer pregação religiosa sem se preocupar se eu tenho pensamento religioso ou não. Isto é assédio. Está lá no artigo 216-A do Código Penal. A Lei 10.224/2001 vai mais longe  ao considerar crime o assédio sexual. No entendimento das pessoas e pelo “uso” desta legislação entende-se o assédio sexual do homem à mulher, mas vai mais longe. Certa vez eu me referi ao assédio religioso como crime segundo o Código Penal e o pastor apresentador me perguntou: então como faremos proselitismo religioso. Respondi: façam sem assédio. Como? Indagou. Não sei, não sou religioso. E eu me tornei uma persona non grata.

Quando o PT foi fundado começou a fazer proselitismo político. Eu até achei bom. Aos poucos este proselitismo começou a tomar ares de assédio em determinados espaços, um deles nos espaços acadêmicos. Existe um momento eu proselitismo e assédio se confundem e se transformam em atos violentos.

Eu tenho uma orientação política. Concreta, real e a minha utopia e a medida da distância ou aproximação do que acho como deve ser do que é. Nunca me filiei a partido político e nem a qualquer grupo religioso. Nunca me filiei para que esta filiação não viesse tolher a minha liberdade de pensar, de refletir. Não me filiar não significa que seja contra aos que se filiam. Todos devem ter a liberdade   de se filiar ou de não se filiar.

Durante 21            anos eu vivi sob um regime autoritário. De 13 anos para cá comecei a sentir que voltava a viver sob outro regime autoritário. O primeiro era explícito: escrevia o que deveríamos pensar e no que não deveríamos pensar; Um aluno uruguaio me falou, quando eu lhe perguntei qual era a pior coisa da ditadura do país dele. Ele entendeu a coisa mais perigosa. Disse-me que era pensar. Eu lecionava Ciências Políticas, uma disciplina difícil de encontrar professores. E indicava dois livros de textos organizados por Fernando Henrique Cardoso. Entendi o silencio dos alunos: medo de pensar.

Hoje é proibido censurar. Uma proibição constitucional. Por isto não temos uma censura formal, mas uma proibição informal. Como não sabemos até onde pensar, pensamos menos, não pensamos nada. Como a censura é informal as cominações também são informais e variam de acordo com o sabujo de plantão.

Hoje ouvi uma declaração do ex-presidente Lula: se Dilma perder o cargo ele irá para a rua para não dar espaço político ao governo que a venha substituir. Transferir o autoritarismo exercido à sombra das instituições governamentais para as ruas. Imagina-se que as pessoas comuns, nos seus afazeres diários, irão ser assediadas por agentes expurgados, frustrados pela perda de cargos de confiança.

Não devemos nos impressionar com as bravatas proferidas em altos decibéis. Devemos pensar no pais que queremos deixar para o futuro e reconstruir o que foi destruído e que se volte pensar nas universidades  sem as amarra ideológicas atuais.

domingo, 3 de abril de 2016

Se correr o bicho pega; se parar o bicho come.

As minhas postagens "de oposição" têm me valido uma série de xingamentos. Não me lembro de todos. Alguns foram pesados, como de um vereador (do PT) de uma cidade catarinense e professor de história. Como seria o seu comportamento frente aos alunos  nos seus momentos de crise? A minha amiga que me apresentou disse-me que era “um amor de pessoas”. Os psicopatas são assim; seus comportamentos variam entre estes dois extremos. Mas como diziam o ilustre “filósofo” Vicente Matheus, “quem entra no fogo é para se molhar”. Ou “quem entra na chuva para se queimar”. Este deu mandei penteado macacos em alguns cantos do seu inferno austral.

Houve dois xingamentos que achei interessante porque mostra este maniqueísmo. A primeira foi de um ex-aluno que disse que eu “era um tucano disfarçado em intelectual”. Isto porque eu o corrigi de um viés de interpretação dele. O outro xingamento foi  recente, de que eu era um golpista de meia tigela.

Estes xingamentos não me aborrecem. Ao contrário, deixam-me satisfeito porque comprovam o autoritarismo do lulopetismo, um  autoritarismo rastaquera (no sentido informal, rude, ignorante) que, por isto mesmo, recorre à censura.

As gestões lulopetistas perderam as suas características políticas, adquirindo um viés policial. São tantas as estripulias que enchem o noticiário policial. Na época das eleições eu andei fazendo umas críticas à Dilma, que as falas delas se assemelhavam à de Dona Maria I, a Louca, mãe de D. João VI. Estas semelhanças têm se acentuado de forma relevante e tem chamado a atenção de psicanalistas.

As Assembleias portuguesas do final do século XVIII tiveram o juízo em aprovar o impeachment (usando o termo atual) de Dona Maria I, a Louca, transferindo o poder ao seu filho D. João VI. E o Congresso Brasileiro? Inerte. Em Portugal o poder passou o filho dentro das normas constitucionais e salvou o país, transformando a invasão de Napoleão numa derrota aos franceses.

Os parlamentares brasileiros parecem padecer de uma cegueira e uma surdez absoluta em face de uma grande parte ser movida por dinheiro sujo da corrupção. Do roubo, sejamos verdadeiros. Num Congresso em que inexiste oposição para chamar os governistas à fala. Uma oposição que aceita sem discussão juízes das altas cortes comprometidos (condição para a indicação) com os desarranjos políticos e econômicos do Executivo.

A justificativa é que não inventaram a corrupção e nem o roubo. Se já sabiam, ao invés de corrigir a corrupção e o roubo, aperfeiçoaram e institucionalizaram. A arrogância e o autoritarismo eram tão grandes que levou o partido a ignorar instituições que funcionavam mais ou menos livres do aparelhamento.

O futuro pode ser visto como péssimo ou “menos ruim”. Péssimo se Dilma não for impedida, pois o pais continuará com a corrupção e h´s a possibilidade de um conflito institucional perseguindo as instituições que combatem a corrupção  por deixará um pais arrasado, com Luís Inácio Lula da Silva como presidente de fato, mambembe e ilegal. O verdadeiro golpe antecipando a volta de Lula para 2016. Este é o golpe chamado “não vai ter golpe”. Mais se Dilma for impedida o seu sucessor encontrará um país arrasado,  com promessa de muita agitação dos chamados “movimentos sociais” em face da falta de verbas púbicas para s suas sobrevivências. Se correr o bicho pega; se parar o bicho come.


sábado, 2 de abril de 2016

O Facebook e os decifradores de palavras cruzadas

Quando eu era da FAB, trabalhava num destacamento de proteção ao voo. O secretário do comandante era um primeiro um primeiro sargento “antigo”, remanescente do que chamávamos de  os “cuecas vermelha” em referência aqueles que estavam na ativa na intentona comunista em 1935. Apesar de se chamar Pavão era uma pessoa simples e sempre pronta ajudar os outros e em especial os “novinhos”, como eu, que ainda não tinha um ano na graduação de sargento. Um “terceirote”, com o se dizia. Eu era um radiotelegrafista razoável e um sargento que esperava chegar a sofrível.  Eu e mais dois. O Sargento Martins, outro “primeirão” foi indicado para ajudar o Sargento Pavão. Martins tinha um espírito poético e literário, um construtor de neologismos. Era ele que redigia as “partes” e assinava “p.o.” do Pavão.

O subchefe  do Serviço de Rotas, em São Paulo, era um capitão aviador, Capitão Stamm. Usava muito da ironia. Uma vez eu pedi uma autorização para viajar de Xavantina (agora Nova Xavantina), em Mato Grosso, para São Paulo. Como não recebi resposta viajei assim mesmo. Quando desci a escada do avião, um velho C47 do Correio Aéreo Nacional. Cap Stamm estava me esperando ao pé da escada e perguntou: Cherobim, o que você está fazendo aqui? Chegando, respondi. Pediu autorização? Sim. Recebeu resposta? Não. Se não recebeu, por que veio? Porque o senhor sempre salienta que silêncio significa resposta afirmativa. Você vai ter um dia de cadeia para cada dia que estiver fora de Xavantina. Fiquei sete dias, mas no sexto dia  fui à estação rádio do avião e enviei uma mensagem informando a minha apresentação com a data do dia seguinte. E se o avião caísse, perguntaram-me. Respondi que era otimista. Voltava com a minha recém-esposa. Havia ido ao Rio casar. Mas tarde disseram-meque Stamm sabia que estava indo ao Rio casar. Foi o meu presente de casamento. Assim era o Cap Stamm.

Voltando ao Martins. Quando Stamm recebia as “partes” escritas por Martins devolvia com uma observação: “favor traduzir”. Ou “favor indicar o dicionário”. E Pavão traduzia as “partes” do Martins.

Contei este caso – ou “causo”, se quiserem, pois aqui no Facebook tem gente que quer “escrever bonito”, com palavras “bonitas”, e a nossa salvação, algumas vezes, é o “Dicionário informal”.


Martins era fã de palavras cruzadas. Pelo jeito aqui temos muitos decifradores de palavras cruzadas.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Capo dei tutti capi, ora ministro

(texto não editado)

O autoritarismo e a covardia são duas características indissociáveis. A pessoa autoritária é covarde porque teme o outro. O covarde é autoritário porque teme o poder da persuasão do outro. Noticiou-se que Lula deu uma entrevista na sede paulistana do PT. Fui assistir e não houve entrevista, mas um discurso e em muitas partes insuflando a militância contra as instituições da República. O mesmo aconteceu n sua “entrevista” no sindicato dos bancários. Nestes seus dois discursos deixou claro que se sente acima do bem e do mal. A justiça tratou-o de forma desrespeitosa porque o tratou como um cidadão comum.

O autoritário é covarde. Temos vários exemplos e os mais presentes, além de Lula, temos Evo Morales, Rafael Correa, Hugo Chaves, Nicolás Maduro e os irmãos Castro. Citei o falecido Hugo Chaves, pois segundo o atual Nicolás Maduro, ainda lhe dá ordens através do trinado de un pajarito.

Na concepção de Lula somente duas pessoas estão fora do que reza o artigo 5º da Constituição, de que todos são iguais perante a lei: Lula e Sarney. Sarney não pode ser tratado como uma pessoa comum discursou Lula para defender Sarney, alvo de críticas políticas.  Não sei como Lula classifica Collor (hoje são aliados políticos), mas pelos ataques que faz a FHC, este está sob o resguardo do artigo 5º da CF. Talvez seja por isto que FHC pode andar pelas ruas, ir a restaurantes, andar de avião, etc. Ou seja, é um cidadão comum.

Mas fiquemos no nosso Lula. Ele tem o Juiz Sérgio Moro e todos os membros da Operação Lava Jato como um exército de exus à sua caça (com c cedilha, mesmo) e de ser cassado da sua pretensa situação de estar acima do bem e do mal. De ser caçado e cassado por gente comum e obediente ao já tão citado artigo 5º CF. Cidadãos comuns. Funcionários públicos. Gente que estudou e se especializou, gente que pensa e que faz uso da reflexão, gente que é inteligente e está longe de ser esperta.  Gente que fere fundo a macro delinquência governamental, segundo as palavras de Ministro Celso de Mello[1], nos aspectos penal e moral, pois demonstra o pavor do poderoso Capo dei tutti capi de um eventual pedido de prisão da justiça federal de 1ª instância. Por não fazer jus ao medieval foro especial por prerrogativa de função,  foi convidado a exercer o cargo de Ministro, transferindo as investigações da primeira instância ao Superior Tribunal Federal.

Ironicamente o mesmo Luiz Inácio Lula da Silva declarou na década de oitenta que “ladrão pobre iria para a cadeia e ladrão rico virava ministro” exatamente o que está acontecendo com o autor da frase. Até o momento em que escrevo estas notas o ex-presidente Lula aceitou o convite e será nomeado ministro da Casa Civil. Saiu a sua nomeação. Houve manifestações (espontâneas e pacíficas) em Brasília, defronte ao Palácio do Planalto e na Avenida Paulista, aqui em São Paulo.

O que impressiona é Dilma, Lula e o PT viverem no mundo do Pirlimpimpim (lembrando de Monteiro Lobato). A nomeação do ex-presidente Lula parece ter sido uma resposta “de poder” ao Juiz Sérgio Moro – a quem se dirige toda a paura (terror, seria o termo apropriado) por uma eminente prisão – e por extensão à Operação Lava Jato. Mas talvez tenha passado despercebido dos operadores da blindagem de Lula à prisão, os Tribunais Superiores foram considerados lenientes à justiça, de onde se esperaria a impunidade.

Como os tribunais superiores vão reagir? Aceitarão a pecha de lenientes, devolverão as investigações à primeira instância, fingirão “de mortos”.

O golpe foi sacramentado com a posse de Lula. Estamos sob um governo golpista. O novo ministro da Justiça, segundo foi noticiado, ele é da corrente do “direito que vem das ruas” e deixou a vice-presidência do MPF para assumir o Ministério. E pelo discurso de Dilma, nas suas entrelinhas, haverá uma luta contra a Operação Lava Jato. Foi um discurso impulsivo como são os atos dos governos lulopetista.
Os ritmos das justiças de primeira instância e dos tribunais superiores são diferentes. A transferência de foro vai interferir nas “delações premiadas”.  Como será o processo daqui para frente? O discurso de Dilma debita a crise política à oposição e não aos seus erros e ao alto índice de corrupção ao país. Nós, brasileiros, vítimas de um mau governo nos tornamos os culpados dos seus erros.

O discurso foi realizado em ambiente fechado, mas suscetível a críticas por menor que sejam (isto interrompeu por duas ou três vezes do discurso da presidente).  Como será daqui para frente?

Por fim, voltando ao início deste relato, o discurso teve o contorno do autoritarismo o e covardia. O temor da “voz rouca das ruas”. Diferente da voz da “sociedade organizada” que faz coro com a batuta do poder.

A partir das dez horas desta manhã passamos a viver sob a égide de outro golpe, 18.978 dias depois do anterior. Quantos dias nós viveremos sob este golpe?

O Brasil de 2016 é bem diferente ao Brasil de 1964.

Mas o autoritarismo continua cego. Ver os links abaixo.


Notícia de último momento:


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

“Enquanto o mundo é mundo” e antes do mundo ser “mundo”

Ao vivermos a nossa história (tempo presente) nós não pensamos muito na nossa história (tempo passado) e pouco pensamos no tempo que há de vir. Poderíamos falar em história futura? Mas as novas tecnologias da informação, os sites de busca, trazem a nós ideias emitidas há década e tantos perdidas no nosso esquecimento. Eu ia falar em brumas do passado, mas ficaria muito poético.

Encontrei esta matéria resultado de uma entrevista da Folha há 13 anos que me levou a me perguntar: ainda é assim? Este texto foi publicado no quinto mês e meio da era lulopetista; ainda não sentíamos os efeitos desta pandemia que hoje nos abate. A escolas, em todos os seus níveis, tornaram-se madraças de estudos marxistas cujos mestres parecem conhecer mais os boatos do que os fatos dos marxismo. Marxismo em linguagem manchetada, como me referi certa vez, e que me valeu severas críticas. Tínhamos, então, vários demônios para nos possibilitar uma visão de mundo larga, mas hoje os grandes mestres desta nova religião praticaram um genocídio “demônico” para preservar permitir a construção da nova crença com o seu demônio maior, cujo nome dado foi o uma ave típica brasileira, o tucano.

O vírus lulopetista acabou com a rivalidade múltipla, de várias identidades, para uma luta binária entre o bem e o mal tucano. Acabaram-se as rivalidades sadias em troca de uma luta revolucionária do bem lulopetista contra o mal tucano.

Como era isto há 13 anos?  Foi como tentei interpretar a seguir.

Rivalidades reforçam identidade das diferentes faculdades
 22 de Maio de 2003

Muitas vezes, foi apenas uma questão de escolha. Um aluno preferiu cursar uma instituição, mas também poderia ter feito a outra. Depois que começa a estudar, entretanto, cria-se uma rixa com outras faculdades, algo muito comum entre instituições com prestígio semelhante.
Os alunos de medicina da Unifesp, por exemplo, têm rixa com os da medicina da USP, que, por sua vez, também têm com os alunos de engenharia da mesma universidade. Isso fica claro principalmente em disputas esportivas, como o Intermed, entre faculdades de medicina, e o Interusp, entre algumas faculdades da USP. O mesmo ocorre entre os alunos de direito da USP e da PUC-SP durante os Jogos Jurídicos.
Segundo o antropólogo Mauro Cherobim, isso acontece porque, quando se forma um grupo de referência para um indivíduo, como seu time de futebol, sua profissão ou sua faculdade, a relação com outros grupos acontece por oposição, o que reforça suas identidades.
Quando os alunos de uma faculdade zombam dos de outra, isso serve, portanto, para reforçar a coesão do seu próprio grupo. "A violência entre os grupos é possível de ocorrer quando eles se encontram cara a cara e os ânimos ficam mais exaltados", disse Cherobim.
Segundo ele, entretanto, nem tudo o que é feito em oposição ao outro grupo serve para reforçar o próprio, mas existe um equilíbrio. "Quando um grupo começa a agir de forma anti-social, como usar a violência, isso incomoda os próprios membros do grupo e pode contribuir para desagregá-los", disse ele, que é professor da Unesp.

Fonte: Folha de S. Paulo