terça-feira, 29 de junho de 2010

A Fifa controla o dinheiro, marca os adversários e dribla a Justiça

Disponível em http://blogdojuca.uol.com.br/2010/06/uma-entrevista-explosiva-e-verdadeira/ . Acesso em 29/06/2010.

A Fifa controla o dinheiro, marca os adversários e dribla a Justiça

26 de junho de 2010

Flavia Tavares, de O Estado de S. Paulo

Enquanto o English Team sofria para passar às oitavas contra a Eslovênia, o escocês Andrew Jennings desfiava o sarcasmo adquirido ao longo da vida de repórter investigativo na Inglaterra, na BBC e em grandes jornais. Com a pontaria muito mais calibrada que a dos artilheiros desta Copa do Mundo, o jornalista vai relatando casos de corrupção que apurou para produzir seus três livros sobre o Comitê Olímpico Internacional (COI) e outro sobre aFederação Internacional de Futebol (Fifa) – mesmo sendo o único jornalista do mundo banido das coletivas da entidade desde 2003.

O jornalista inglês Andrew Jennings relata em livro casos de corrupção dentro da Fifa

Um dos escândalos relatados por ele em 2006, no livro Foul! The Secret World of Fifa (não traduzido no Brasil), teve um desfecho na sexta-feira. Altos dirigentes da organização máxima do futebol receberam propina, admitiu a Justiça suíça. Mas eles não serão punidos porque a lei do país, que é sede da Fifa, permitia o “bicho” na época.

Os figurões pagarão apenas os custos legais e suas identidades não serão reveladas. “É por isso que meu segundo livro sobre o tema será uma comparação da Fifa com o crime organizado”, conta. Ele optou por publicar a obra depois das eleições na entidade, em maio de 2011, embora duvide que alguém vá enfrentar o dono da bola, Joseph Blatter. “Ninguém ousa desafiar a Fifa porque eles controlam o dinheiro. E a imprensa cala”, dispara Jennings.

Em suas investigações sobre a Fifa, o que o senhor descobriu?
A Fifa é comandada por um pequeno grupo de homens – não há mulheres em altos postos da entidade e isso fala por si – que está lá há muitos anos. São homens em quem não devemos confiar e contra quem temos provas contundentes. Eles podem continuar no poder porque controlam o dinheiro. E tornam a vida dos dirigentes das confederações nacionais muito boa e fácil. Fico envergonhado porque ninguém se manifesta contra esse poder.
Como os dirigentes se manifestariam?
Zurique, sede da Fifa, é uma Pyongyang do futebol. O líder fala e os outros agradecem. Numa democracia é esperado que haja discordância, oposição. Na Fifa, não há. Eles têm um congresso a que, ironicamente, chamam de parlamento. São cerca de 600 delegados – acho que são 2 ou 3 por país representado, e são 208 países. Se você chegasse de Marte acharia que o mundo é perfeito, porque todos concordam. É vergonhoso. Nisso, a CBF é tão culpada quanto todas as outras confederações.


Que instrumentos a Fifa usa para manter esse poder?
A Fifa dá cerca de US$ 250 mil por ano para cada país investir em futebol. Na Europa, não precisamos desse dinheiro. A indústria do futebol fatura o suficiente para se alimentar. Mas é uma forma de a Fifa se manter. Esse dinheiro nunca é auditado. Na Suíça, a propina comercial não era ilegal até pouco tempo, apenas o suborno de oficiais do governo. O caso que eu conto no meu livro é justamente sobre um esquema de propinas pagas pela International Sport and Leisure (ISL), empresa que negociava os direitos televisivos e de marketing da Fifa. A história é cheia de detalhes, mas no final a ISL só foi responsabilizada pelo fato de gerenciar mal seus negócios enquanto devia para outras empresas.

Não houve punição?
Como eu disse, o pagamento de propina não era ilegal na Suíça. Portanto, não havia crime a ser punido. As acusações contra a Fifa foram retiradas e a entidade foi multada em 5,5 milhões de francos suíços (cerca de US$ 5 milhões) para custos legais.


Por que os governos não se envolvem ou a Justiça não faz algo?
Porque a sede da Fifa é na Suíça e a lei lá é muito permissiva. Para outros países, é inaceitável que esses homens se safem tão facilmente e que os altos dirigentes riam da nossa cara desse jeito. O que me deixa enojado é que os líderes dos países – o primeiro-ministro britânico, o presidente Lula e todos os outros – façam negócio com essas pessoas. Eles deveriam lhes negar vistos, deveriam dizer que não querem se relacionar com dirigentes tão corruptos. E tenho certeza de que, se os governantes se voltassem contra a corrupção da Fifa, teriam apoio maciço dos torcedores/eleitores.

Por que todos são tão complacentes?
Suponhamos que você seja uma torcedora fanática pelo seu time. Você vai à Copa do Mundo, mas como sempre há escassez de ingressos. Você então compra suas entradas de cambistas, mesmo sabendo que parte desse ágio vai voltar para o bolso da Fifa, já que ela é suspeita de liberar esses ingressos para os ambulantes. Você não pode provar, claro, mas você sabe. As pessoas não são estúpidas. Os governos menos ainda, eles podem investigar o que quiserem. Mas não investigam a Fifa porque os políticos simplesmente ignoram os torcedores. É o que já está acontecendo com a Copa de 2014. Qualquer brasileiro com mais de 10 anos sabe que a corrupção já está instalada. Por que ninguém faz nada?


Por quê?
É difícil saber. Se um país relevante enfrentasse a Fifa ela recuaria. Ou você acha ela excluiria o Brasil de uma Copa? Eles conseguem enganar países pequenos, esquecidos pelo mundo. Mas, se o Brasil dissesse não à corrupção, provavelmente a América Latina se uniria a vocês. E você acha que esses líderes latino-americanos nunca discutiram a possibilidade de um levante, de fazer o que os europeus já deveriam ter feito há tempos? Acho que lhes falta coragem.


O Brasil tentou fazer uma investigação, por meio de uma CPI.
Tentou e foi ao mesmo tempo uma vitória para o país e uma grande decepção, porque pararam de investigar no meio. O povo vai ter de pressionar os políticos a fazer algo. É realmente uma pena que o Brasil tenha chegado tão longe na investigação e tenha desistido no caminho. Havia provas para seguir em frente, para tirar a CBF das mãos do Ricardo Teixeira e, quem sabe, colocar auditores independentes lá dentro. A Justiça também poderia ser mais ativa. Por mais que eles tenham comprado alguns juízes, não compraram todos, certamente.

Sabendo de tudo isso o senhor ainda consegue curtir o futebol, se divertir com ele?
Sim, porque a corrupção não está tão infiltrada nos jogos, embora chegue a essa ponta também. Ela fica mais nos bastidores. Há exceções, como na Copa de 2002, em que a Espanha e a Itália foram roubadas grotescamente. Era importante para a Fifa que a Coreia do Sul passasse adiante. Não foi culpa dos jogadores, mas as razões políticas e econômicas se impuseram. Na Coreia, o beisebol é mais popular do que o futebol. Se eles fossem desclassificados, os estádios se esvaziariam. Neste ano, todos ficaram de olho nos jogos de times africanos. Blatter também precisa de um time do continente nas oitavas. A questão é que, quando assistimos às partidas, assistimos aos atletas, ao esporte, então, é possível confiar. É fácil punir um árbitro corrupto e a maioria não é corrompida.


Então, a corrupção não interfere tanto no esporte?
Cada centavo que os dirigentes tiram ilicitamente da Fifa ou das organizações nacionais é dinheiro que eles tiram do esporte e de investimentos. Portanto, estão desviando de nós, torcedores, e dos atletas que jogam no chão batido em países subdesenvolvidos. Eles tiram dos pobres.


É possível para os jogadores, técnicos e dirigentes se manterem distantes da corrupção no futebol?
Bom, o dinheiro normalmente é tirado do orçamento do marketing, não afeta jogadores e técnicos dos times nacionais. Uma coisa interessante é o comitê de auditoria interna da Fifa. Um dos membros é José Carlos Salim, que foi investigado muitas vezes no Brasil. Por que você acha que ele está lá? Para fingir que não vê.

A corrupção no futebol começa nos clubes e se espalha ou vem de cima para baixo?
Sempre haverá um nível de roubalheira em todas os escalões. Para isso temos leis e, às vezes, conseguimos aplicá-las. Mas a pior corrupção está na liderança mundial. Quase todos os países assinam tratados internacionais anticorrupção, mas não fazem nada quanto aos desmandos da Fifa e do COI. E, quando algum governante tenta ir atrás de dirigentes de futebol corruptos, a Fifa ameaça suspender o país. Só que ela faz isso com os pequenos. Fizeram isso com Antígua! Suspenderam o país minúsculo que ousou processar o dirigente nacional. Ninguém falou nada. Eu escrevi sobre isso porque tenho fãs lá que me avisaram do caso.


O senhor se sente uma voz solitária na imprensa?
Não confio na cobertura esportiva das agências internacionais. Em outras áreas elas são ótimas. Não no esporte. É uma piada. Apresento documentários com denúncias graves sobre a Fifa na BBC, num programa de jornalismo investigativo chamado [ITALIC]Panorama[/ITALIC], e dias depois a BBC Sport faz um programa inteiro em que Joseph Blatter apresenta alegremente a nova sede da Fifa em Zurique.

O senhor acompanhou a briga do técnico Dunga com a imprensa brasileira?
Não vou comentar o episódio porque não acompanhei de perto. Posso dizer que a imprensa inglesa e a da maioria dos países é puxa-saco. E sem razão para isso. A desculpa é que os editores têm medo de perder o acesso às seleções e à Fifa. Bobagem. Ora, eu fui banido das coletivas da Fifa sete anos atrás e ainda consegui escrever um livro e fazer várias reportagens. A imprensa deve atribuir as responsabilidades às autoridades. Se não fizer isso, é relações públicas. Tenho milhares de documentos internos da Fifa que fontes me mandam e não param de chegar. Por que só eu faço isso?

A cobertura se concentra mais no evento esportivo em si e nas negociações de jogadores?
Exato, também porque a chefia das redações tende a se concentrar nos assuntos de política nacional, internacional e na economia e deixar o esporte em segundo plano.


O que o senhor espera da Copa no Brasil, em 2014?
Há algumas semanas, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, deu um piti público cobrando o governo brasileiro para que acelerasse as construções para a Copa. Estranhei muito, porque não imagino que o governo brasileiro se recusaria a financiar uma Copa. Vocês são loucos por futebol, estão desenvolvendo sua economia, têm recursos e podem achar dinheiro para isso. Uma fonte havia me dito que Valcke e Ricardo Teixeira tinham tirado férias juntos, estavam de bem. Então, o que está por trás dessa gritaria? É pressão para o governo brasileiro colocar mais dinheiro público nas mãos da CBF. Mundialmente, as empreiteiras têm envolvimento com corrupção. Dá para sentir o cheiro daqui.

Três de seus livros são sobre as Olimpíadas. As falcatruas acontecem em qualquer esporte ou são predominantes no futebol?
Sou cuidadoso ao falar disso. Sei que a liderança da Fifa é muito corrupta – e venho publicando isso há mais de dez anos sem que eles tenham me processado nem uma vez sequer, o que diz muito. O COI era muito pior sob o comando de Juan Antonio Samaranch (morto em abril deste ano), que presidiu a entidade de 1980 a 2001. Ele era um fascista e o fascismo é, além de tudo, uma pirâmide de corrupção. Samaranch trabalhou ao lado do generalíssimo Franco. Essa cultura franquista e fascista se transformou em uma cultura gângster.

A corrupção no COI diminuiu com a saída de Samaranch?
Vou ilustrar com uma história. No meu site publiquei uma foto de Blatter cumprimentando um mafioso russo, em 2006, em um encontro com dirigentes do país. O russo foi quem fez o esquema em Salt Lake, na Olimpíada de Inverno de 2002, para que os conterrâneos ganhassem o ouro em patinação artística. Pois bem, Blatter, Havelange e muitos outros da Fifa são parte do comitê do COI. Essa é a dica de como a Rússia está agindo para sediar a Copa de 2018.


Foi assim que o Brasil conseguiu a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016?
Na votação em Copenhague, que deu a sede olímpica para o Rio de Janeiro, o nível de investigação jornalística foi ridículo, só víamos a praia de Copacabana com o povo feliz. Há um grupo no COI que já foi denunciado por receber propina no escândalo da ISL – e quem acompanha a entidade sabe quem eles são. Os dirigentes dos países só precisam pagar umas seis ou sete pessoas para conseguir o voto. Existe, com certeza, uma sobreposição entre os métodos da Fifa e do COI. Mas a cultura das duas entidades não é tão estrita quanto à de uma máfia, é mais como se fossem máfias associadas, apoiadas umas nas outras. Coca-Cola, redes de fast-food, Adidas, você acha que essas companhias não sabem o que está acontecendo? Eles não são estúpidos. A cara de pau é tamanha que Jacques Rogue, presidente do COI, disse em Turim, em 2006, que o COI e o McDonald’s compartilham os mesmos ideais. Será que ele não sabe quanto a obesidade infantil é um problema gravíssimo em vários países? Ou faz parte do jogo ceder a esses interesses?

Por Juca Kfouri às 22:35

Jennings continua. Na ‘Carta Capital’

Disponível em http://blogdojuca.uol.com.br/2010/06/jennings-continua-na-carta-capital/. Acesso em 29/06/2010.

28/6/2010 (Por Juca Kfouri às 11:20)

Jennings continua. Na ‘Carta Capital’

Por PAOLO MANSO

Andrews Jennings não é um jornalista esportivo, e sim um repórter investigativo.

Um dos melhores da Inglaterra, isso é testemunhado por décadas de colaboração com os principais jornais britânicos e a BBC.

Mas principalmente é o pesadelo de Sepp Blatter e da FIFA, aos quais dedicou um livro, “Foul ! The Secret World of FIFA: Bribes, Vote-rigging and Ticket Scandals (em livre tradução, Falta ! Subornos, Compra de Votos e Escândalos com Ingressos), publicado em 2006.

Por que o senhor é o único jornalista do mundo com acesso proibido nas entrevistas à imprensa com Blatter ?

Porque há anos procuro em vão ter respostas do chefe da FIFA sobre corrupção e propinas, baseado em muitos documentos “confidenciais”.

Com muita probabilidade cansou-se de não responder e preferiu condenar-me ao ostracismo, o que de certa forma me deixa orgulhoso.

Quer dizer que mister Blatter tem medo das minhas perguntas.

Em quanto importa, segundo seu parecer, a quantia das propinas pagas pela FIFA nos últimos 20 anos ?

Segundo estimativa do Tribunal de Zug, na Suíça, o valor, limitado apenas aos anos 90, é estimado em aproximadamente 100 milhões de dólares.

Todo esse dinheiro acabou nos bolsos dos funcionários esportivos que estavam sob contrato, quase todos eles com a FIFA.

Quando o senhor começou a recolher as primeiras provas de corrupção?

Trabalhei durante anos sobre o tema corrupção na FIFA, juntamente com um colega alemão. As nossas suspeitas eram fortíssimas, mas não tínhamos provas porque a ISL, a sociedade que geria antes o marketing e em seguida os direitos de tevê da FIFA, era uma companhia fechada.

Impossível receber informações transparentes sobre suas operações de balanço.

Todavia, quando faliu de forma fraudulenta, seus livros contábeis foram colocados à disposição dos curadores falimentares, bem como dos tribunais.

E foi justamente nos tribunais que tivemos a confirmação, com provas, daquilo que suspeitávamos, mesmo se a realidade superava nossa imaginação.

A corrupção na FIFA como e quando começou ?

Em 1976, o então presidente da entidade, o britânico Sir Stanley Rous, foi deposto.

Ninguém podia corromper Stanley.

Em seu lugar entrou o brasileiro João Havelange, que era muito corrupto.

Foi ele que inaugurou o “sistema”, recebendo propinas via ISL.

Sua afirmação é grave. Ela se baseia em que ?

Em
testemunhos que recolhi de ex-integrantes da FIFA, altos dirigentes.

E em documentos.

Havelange chega e traz Ricardo Teixeira. Com qual resultado ?

Um “boom” de corrupção !

A imprensa suíça escreveu que Havelange e Teixeira embolsaram a maior parte das propinas.

No decorrer da transmissão do programa Panorama, da BBC, perguntei em três ocasiões a Sepp Blatter o que ele sabia sobre as propinas embolsadas por Havelange e ele sempre ficou calado. Pedi também informações de uma específica propina, mas também neste caso Blatter fez cena muda.

De qual propina se tratava ?

De 1 milhão de francos suíços que deveriam acabar nos bolsos de Havelange.

Por um erro foram depositados numa conta da FIFA, provocando o pânico entre os dirigentes honestos da organização. Posso garantir que havia três pessoas numa sala da FIFA quando chegou aquele pagamento: Sepp Blatter e outros dois dirigentes.

Falei com este que me confirmaram que o destinatário da propina era Havelange.

Um dos dois entregou uma declaração oficial e assinada aos advogados da BBC, na qual afirmava que, em caso de processo por parte da FIFA contra mim e a BBC, ele compareceria no Tribunal para confirmar que o pagamento era para Havelange.

O mesmo, porém, pediu para não ser citado na reportagem que foi divulgada pela BBC, e que qualquer um pode apreciar na internet.

O pagamento teria sido por quem ?

Pela ISL, no início de 1998.

E o que há em relação a Teixeira ?

Bastaria olhar os documentos da acusação criminal depositados à margem do processo de Zug.

Em relação aos depósitos feitos pela ISL, há um para a RENFORD INVESTIMENT LTD., sociedade controlada por Havelange e Teixeira.

Andrew Jennings vem aí

Disponível em http://blogdojuca.uol.com.br/2010/06/jennings-vem-ai-2. Acesso em 29/06/2010.


29/06/2010

Jennings vem aí

Andrew Jennings vem ao Brasil participar de um painel sobre investigação jornalística no mundo esportivo.

O repórter vai fazer uma palestra no 5º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo ao lado do jornalista brasileiro Fernando Molica, de “O Dia”.

Jennings, que já trabalhou para diversas publicações britânicas e apresentou programas na BBC, escreveu dois livros sobre corrupção dentro do Comitê Olímpico Internacional e outro sobre a FIFA.

Os insistentes questionamentos do repórter levaram Joseph Blatter a proibi-lo de fazer parte das entrevistas coletivas da entidade – ele é o único jornalista do mundo banido pela FIFA.

O 5º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji acontece de 29 a 31 de julho, no campus Vila Olímpia da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo.

Informações sobre o Congresso em:
ou
http://www.abraji.org.br/
ou ainda no telefone 11-28510699.

Por Juca Kfouri às 11:28

Enquanto torcemos maravilhados...


18/10/2009

A verdadeira identidade do COI

por Andrew Jennings

Tempos de festa, todos queremos participar das Olimpíadas do samba em Copacabana em 2016. Vários jornalistas tentam entender porque os brasileiros conseguiram levar os jogos.

Dez anos depois do escândalo de Salt Lake City, onde vários membros do COI foram assediados com dinheiro e garotas de programa para tentar garantir os jogos olímpicos de inverno de 2002 para aquela cidade, o atual presidente do COI, Jacques Rogge, garante que isso faz parte do passado.

De qualquer forma, vamos derrubar esse tabu do mundo olímpico. Vamos falar abertamente sobre o tradicional hábito da corrupção olímpica.

Pergunta: Qual foi a voz mais poderosa que trabalhou para o Rio dentro do COI? Dê um passo a frente o membro mais antigo, com 46 anos de serviços prestados, ex presidente da FIFA e acusado pelo renomado programa da BBC sobre negócios públicos (sim, eu dou nome aos bois) de estar profundamente envolvido em subornos e propinas.

Se trata de João Havelange, hoje com 93 anos, o homem que sabe tudo que realmente importa sobre os membros do COI. Eu não estou afirmando que ele ou o Rio pagaram propinas, mas veja o que segue. No começo da semana, logo após a vitória do Rio, um fotógrafo atento pegou Havelange cumprimentando... Jean-Marie Weber, o homem da mala.

O homem da mala admitiu para a justiça suíça no ano passado, ter pago USD 100 milhões em propinas para dirigentes esportivos nos anos 90. Então, porque eles estavam se cumprimentando?


Havelange, o "homem da mala" e Blatter nos bons tempos.

O homem da mala é muito apreciado pelos membros do COI. Nós o filmamos conversando ao pé do ouvido com o chefão do futebol africano, Issa Hayatou, e tentando passar despercebido no Bella Center (centro de convenções de Copenhague, onde aconteceu a eleição da sede dos jogos 2016), e dando tapinhas nas costas de outros membros do COI. Eles votaram no Rio de Janeiro? Eles não vão dizer...

E lá estava também Joseph Blatter, funcionário da FIFA por mais de 30 anos, grande amigo do homem da mala e agora membro do COI. Blatter esteve envolvido nos escândalos de corrupção do homem da mala e ainda obedece às ordens de Havelange.

Parecem velhos amigos jogando seus velhos jogos em um novo cenário. Foi muito cativante ver Havelange sentado na sessão do COI ao lado do seu velho companheiro, o russo Vitaly Smirnov, sortudo por ter mantido a sua cadeira no COI após o escândalo de Salt Lake.

Antes mesmo da votação, Havelange se vangloriava dizendo que ele já tinha 20 votos no bolso. Ou ele quis dizer no bolso do homem da mala?

Mais um velho amigo - e uma pista de que há outros membros do COI que querem voltar no tempo, à uma época macabra.

Um discurso fundamental foi feito pelo ambicioso alemão e vice-presidente do COI, Thomas Bach. Quando ele terminou, Blatter o aclamou como "presidenciável".

O que Bach deveria dizer aos membros do COI? Ele disse que todos eram importantes, mas que deveriam se manter independentes sem nenhuma ingerência externa. Essa foi uma indireta para alguns novos membros de federações que coagiram o COI após o escândalo de Salt Lake em 1999. Eles não são independentes e os outros membros do COI ficam incomodados com a presença deles no conhecido "The Old Boys Private Club".

Bach perguntou à platéia: Vocês querem um COI composto principalmente por membros independentes que detêm autoridade, conhecimento e experiência, também na política, negócios, cultura e sociedade? Essa foi a senha. Não há nenhuma menção ao esporte. Muitos membros do COI têm um conhecimento estreito do mundo esportivo.


Thomas Bach em Copenhague. Em busca de um retrocesso?

Qual é o histórico de Bach no esporte? Ele conquistou uma medalha de ouro na esgrima em Montreal e logo depois foi contratado para o renomado time da Adidas de "Relações Internacionais", também conhecido como o "esquadrão das jogadas sujas", que moldou organismos como o COI, FIFA e várias outras federações internacionais segundo os anseios do lendário e obscuro negociador Horst Dassler, filho do fundador da Adidas. A sua nova empresa, a ISL, ganhava os grandes contratos do marketing esportivo e o homem da mala entregava as propinas...

Dassler foi quem colocou Havelange na presidência da FIFA em 1974 e também escolheu Blatter como o seu braço direito.

Quando Jacques Rogge deixar a presidência do COI daqui há quatro anos, Thomas Bach será eleito presidente e muitos verão o COI deixar de lado as tímidas "reformas" e retornar à sua velha identidade.

E numa tumba distante, Horst Dassler, que morreu em 1987, ainda vai constatar maravilhado que mesmo depois de mais de duas décadas enterrado ele ainda detém o poder no mundo esportivo.


Horst-Dassler - O inventor da propina no esporte.

Veja o artigo original de Andrew Jennings no Sunday Herald - It may be a new stage but is game still the same?

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Os cinco hipócritas de 2009

Comentei no texto anterior os conceitos petistas de estadista e de soberania. No dia 20/12/2009 o jornal El País, da Espanha, publicou uma matéria enumerando os cinco hipócritas de 2009. O Presidente Lula da Silva foi um deles. E o autor da matéria enumera as contradições que lhe deram este “título”.

Transcrevo, abaixo, parte desta matéria. Quem desejar ler a matéria original encontrará o em http://www.elpais.com/articulo/internacional/hipocritas/2009/elpepiint/20091220elpepiint_7/Tes.

Cinco hipócritas de 2009

Moisés Naím, 20/12/2009

RRever algumas das mais flagrantes a hipocrisia dos poderosos do mundo é instrutiva. Revela as tendências globais, as contradições e vulnerabilidades elite da moda. É por isso que eu decidi oferecer a minha lista muito pessoal e subjetiva de algumas das grandes hipócritas de 2009.

1. Banqueiros.

2. Tony Blair.

3. Os homens líder do Partido Republicano.

4. Os juízes britânicos que emitiu o mandado de Tzipi Livni.

5. Lula da Silva. O Presidente do Brasil declarou que Hugo Chávez é o melhor presidente da Venezuela dos últimos 100 anos. Nunca ouvimos Lula falar das condutas autoritárias do seu amigo venezuelano, mas temos visto atacar furiosamente as recentes eleições em Honduras. E na mesma semana recebeu Mahmoud Ahmadinejad com todas as honras, cuja vitória eleitoral também é questionada. O que tiveram as eleições no Irã que as de Honduras? Tiveram uma enorme fraude, morte, tortura e brutal repressão ordenada pelo governo de Ahmadinejad. O afável líder brasileiro parece não haver tomado conhecimento.

Quem é e quem não é estadista?

A militância petista repete ad infinitum que Lula é um estadista. Dilma diz que Serra não é estadista. Afinal de contas, o que é ser estadista? Deve ser algo muito importante e interessante para o Partido dos Trabalhadores. Segundo o dicionário Aurélio, estadista é uma “pessoa de atuação notável nos negócios políticos e na administração de um país; homem ou mulher de Estado”. O estadista é, então, alguém ligado a um Estado que rege os seus negócios políticos e a sua administração. Se Lula é um estadista, é um estadista em relação ao Estado brasileiro. O mesmo se deve dizer a Serra.

Devemos pensar no Estado como uma unidade em oposição a outras unidades. Desta forma, negócios do Estado A pode ser favorável ou desfavorável ao Estado B. Churchill é tido comum exemplo de Estadista e como tal derrotou Hitler e Mussolini. Na concepção de Dilma ele interferiu na soberania da Alemanha e da Itália. Mas ele, como homem de um Estado, tinha compromissos de preservação da soberania e da sua população. E foi exatamente isto que lhe valeu o seu reconhecimento como estadista.

Serra fez críticas ao Presidente boliviano a partir de um fato e de uma reflexão: mais de quatro quintos da droga que entra no Brasil vem da Bolívia. A coca é uma planta relacionada com a cultura de grupos tribais bolivianos e usada para compensar os efeitos das alturas andinas. Mas também é transformada em droga por processos químicos. A área de plantio, antes suficiente para a produção local foi multiplicada por três. Por um processo de raciocínio, Serra chegou a conclusão que o Presidente boliviano tem interesse no tráfico e por isto “faz corpo mole”.

Dentro deste raciocínio, se o Presidente boliviano “faz corpo mole” por que lhe interessa pelo fluxo de dinheiro proporcionado pelo tráfico, ele se torna conivente.

Dentro deste raciocínio, o tráfico de droga e de armas é bom para a Bolívia. Ou para algum grupo boliviano. Até aí tudo bem. Acontece que o que é bom lá, é péssimo aqui. Aumenta o número de viciados e o custo com a saúde e com a segurança pública aumenta.

Serra é candidato e espera ser eleito. Se alcançar os seus objetivos, serão problemas que terá que resolver. Preocupa-se, de antemão, com os negócios políticos e com a administração quando for eleito. A sua atitude, nesta crítica, foi de estadista. Não seria se tivesse a mesma forma de pensar de Dilma, sua opositora na campanha presidencial.

Serra interferiu na soberania do país vizinho. Em primeiro lugar a soberania não é absoluta, pois o que acontece num país interfere em outro. Como o caso das drogas e a sua interferência no Brasil. O Estado prejudicado passa a ter o direito de agir com palavras ou com atos. Foi o que aconteceu.

Nos últimos oito anos tem havido uma confusão muito grande entre interesses de Estado e interesses de partido. A política externa brasileira, em sua grande parte, não tem se orientado por interesses de Estado, mas por interesses de partido. E isto tem levado a associações políticas com muitos caudilhos. O caudilhismo parece ser interesse partidário, mas não é interesse de Estado e da população que saiu de um regime discricionário há três décadas.

Estes interesses partidários têm trazido prejuízos morais e financeiros. Como foi o caso das refinarias da Petrobrás encampadas pelo governo boliviano. Houve prejuízo ao erário em face de o governo brasileiro ser o maior acionário e este prejuízo será transferido aos contribuintes e consumidores de combustíveis, que somos nós.

O governo brasileiro não tomando qualquer atitude traiu os seus cidadãos. É o Presidente não agiu como estadista.

As pessoas públicas devem usar corretamente os conceitos, pois isto voltará contra elas.