quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A nossa mentalidade escravocrata


O noticiário a respeito do guri que matou os pais, a avó e a tia-avó e depois de suicidou tem tido lugar central. Custo acreditar que uma criança de 13 anos tenha feito tudo aqui e os cinco tiros foram certeiros. Tiros de misericórdia. Inclusive o tiro nele próprio.

Mas se foi? Provavelmente a questão da idade para responsabilidade criminal volte a ser discutida.

Outro dia eu estava lendo numa tese, ou dissertação, não me lembro, onde se discutia a alta mortalidade feminina entre os índios guarani. O fator que levava a isto era a gestação logo após a menarca. Mas eu nunca havia reparado isto na literatura que trata de grupos do Brasil Central e da Amazônia. Nestes grupos a gestação também é logo após a menarca, claro com o espaço de cerca de uma ano do período de iniciação.

A pergunta é: este fato é verdadeiro ou decorre dos “mitos” que temos a respeito do corpo humano? Segunda a antropóloga inglesa Mary Douglas, o corpo é a metáfora da sociedade. Ou seja, vemos a sociedade como uma extensão do nosso corpo. Diz ela (Mary Douglas) que temos dois corpos, o corpo social e o corpo físico. Até que ponto os profissionais da saúde (médicos, psicólogos, enfermeiros, etc.)  confundem ou separam estes “dois corpos”?

Eu tinha por volta de 16 anos que assisti televisão pela primeira vez. Foi numa viagem que fiz a São Paulo. Meu filho mais velho nasceu com televisão preto e branco e os mais novos com televisão colorida e com noticiário internacional direto e computadores. As minhas netas são da geração do tablet, do smarth fone, etc. Assim minhas netas têm um nível de informações incomparavelmente maior que o meu na idade delas. Provavelmente a minha capacidade reflexiva fosse maior porque eu tinha tempo para isto; o fluxo de informações era menor.

Segundo os policiais e os peritos criminais a cena do crime deixa claro que o garoto foi o autor dos disparos. Matou os seus familiares, foi para a escola, pegou uma carona com o pai de uma amigo na volta da escola, chegou em casa e se suicidou. Um tiro mortal em cada um dos familiares e em nele também.
Isto me leva a uma indagação: a justificativa para não baixar a idade de responsabilidade criminal é algo real ou é ideológico? Eis a confusão entre corpo social e corpo físico. O mais lógico não seria responsabilizar o adolescente, ou pré-adolescente, e diferenciá-lo no local de cumprimento da pena?

Mas a prisão é a escola do crime. As nossas prisões. Outro dia assisti um documentário a respeito da prisão do Estado do Arizona, nos Estados Unidos. Os presos passavam o dia fazendo exercícios obrigatórios e trabalhando nas ruas capinando calçadas, limpando ruas e outros trabalhos de interesse da prefeitura local.

Aqui se proíbe que alguém sem que tenha vontade. Na ideologia católica o trabalho é degradante e nos permanecemos com este valor como se ainda vivêssemos numa sociedade escravocrata. Trabalho é coisa de escravos! Os italianos quando chegaram aqui na capital foram morar nos mesmos cortiços dos ex-escravos recém chegados na cidade. Os italianos logo se emanciparam  trabalhando  em locais que os negros se negavam a trabalhar porque aquilo era “trabalho de escravos”. Os italianos não estavam presos a esta moral escravocrata.

Esta moral escravocrata ainda está viva no nosso ordenamento jurídico e, logicamente, no sistema carcerário. Se assim fosse haveria tempo para tanta rebelião no sistema Casa (ex-Febem)? Os presos das penitenciárias teriam tempo de continuar a comandar o crime de dentro das prisões? 

Trabalho forçado? Sim. O meu trabalho também é forçado para poder sobreviver. Se não trabalhar não sobrevivo.

Vocês já repararam que a maioria da chacinas que ocorreram nos Estados Unidos aconteceram nos estados sulinos, ex-excravocratas?

É algo a se pensar.


P.S. – Estou publicando sem correção.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Doutorado de Mercadante


Mas não é que o competente Ministro da Educação conseguiu doutorar-se?!  
Tenho que reconhecer a competência do ilustre Ministro. E a nossa incompetência. Nós, na nossa insignificância, nos ralamos para completar um mestrado e ainda mais para um doutorado. O Ministro consegue doutorar-se junto com as suas mais altas atribuições da República consegue este título. Enquanto que a “plebe rude”, depois de tanto sacrifício e se não pertencer a algum aparelho político, terá que viver com um salário ridículo. Se for professor de uma  instituição particular ficará sujeito à demissão porque se tornou um “professor muito caro”.

Elogio-o pela banca excelente banca.

Mariano Francisco Laplane [Orientador]
Antônio Delfim Netto
João Manuel Cardoso de Mello
Luiz Carlos Bresser Gonçalves Pereira
Ricardo Abramovay

O seu trabalho, com 537 páginas, analisa dos dois governos de Lula: “As bases do novo desenvolvimentismo: análise do governo Lula (2003-2010)”.

Somente agora encontrei o seu trabalho em face de ele usar o sobrenome paterno, Oliva, General Oliva, nome de grande prestígio nas décadas de 60 e 70. Como Lula não lê e nem escreve, será muito interessante acompanhar a dissertação de um membro do seu governo.

Numa verificação ligeira ele fala do mensalão. Esta palavra aparece cinco vezes, uma se referindo a um erro do governo Lula e as quatro outras vezes ao mensalão dos adversários.

Bem está aí.  Dissequem a tese de doutorado do Ministro da Educação. Como disse acima, é um dos poucos documentos escrito por gente da staff de Lula. Parcial, não resta dúvida, mas... algo esperado.


Casamento heterossexual e casamento homossexual


A militância gay conseguiu mais uma vitória: o reconhecimento do casamento. Bacana. Uma questão de isonomia: se os heterossexuais podem casar, porque os homossexuais não  podem?

A grande barreira aos homossexuais envolve uma questão religiosa. Entende-se que o casamento é a união entre um homem e uma mulher com o objetivo de procriar. E esta união foi necessária e controlada pela comunidade, pois a sua sobrevivência física dependia da procriação.  Com certo equilíbrio sexual para a formação dos futuros casais.

A militância religiosa vive com o corpo no mundo atual e com a cabeça em épocas AD. Nestes mais de dois mil anos absorveu uma porção de ideias, preconceitos, etc., desembocando nas atitudes preconceituosas atuais.

Mas não é somente a militância anti-gay preconceituosa, reacionária. A militância gay também é. É uma características dos grupos minoritários (aqueles grupos excluídos da participação política). 

Bem, este reconhecimento foi uma vitória.

O que estranho do casamento gay é o seu conservadorismo moral. E isto contrasta com o casamento heterossexual. Os gays vão buscar os padrões mais cafonas do casamento heterossexual na realização dos seus  casamentos,  Véu, grinalda e outras pantomimas.

Contavam os velhos que o meu pai levou a maior prensa da minha mãe: o casamento sai ou acaba tudo agora. A vida estava boa, com os fandangos de final de semana (fandango, ainda no meu tempo, eram os bailes de sítio. Que saudade!). O velho resolveu casar. Velho, pois já tinha 27 anos.

Eu não era tão velho, mas estava numa estação radiotelegráfica lá no interior do Mato Grosso. Época de chuvas, por tanto sem estradas, e também sem comida (não chegamos ao canibalismo porque ainda havia abobora e arroz), pois os militares que foram “combater” os revoltosos de Aragarças acabaram com o nosso estoque. Até de cachaça. E eu fui casar no Rio de Janeiro. E  nem sabia como seria o casamento e para encerrar fui premiado com seis dias de prisão (eu era sargento radiotelegrafista da FAB). Saí de Mato Grosso sem permissão.

Eu não sei se sirvo de exemplo, mas de lá para cá as pantomimas casamenteiras foram desaparecendo, mas emerge vez ou outra em alguns grupos endinheirados e cafonas.  Os casais novos somente se lembram  da união estável quando surgem problemas de direito e que envolvem filhos.

Vejo o retorno desta pantomima cafona nos casamentos de pessoas do mesmo sexo. Nada contra estes casamentos, são decisões pessoais e não é da conta de ninguém, além dos nubentes. O que me surpreende é o retorno de padrões considerados ultrapassados e desaparecidos.

Também surpreendente é de estar desaparecendo a divisão de trabalho por gênero nos casamentos heterossexuais e esta divisão retorna nos casamentos gays. 

Como será amanhã?