sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A primeira e a segunda mulheres na presidência

Costumo tomar o meu café da manhã entre cinco e meia e seis da manhã. Ou melhor, preparo uma erva mate Leão e duas torradas besuntadas de manteiga. Pouca manteiga, manteiga Aviação sem sal. Quando era pequeno usava-se banha de porco para fazer comida, no lugar de óleo, como se faz hoje. Papai levantava-se cedo, ia comprar pão na padaria Candinho (Nho Beco abria a sua padaria mais tarde). Aquele pãozinho d’água, ainda quente...  Passava banha, colocava um pouco de sal, e colocava para dar uma torradinha na chapa já quente. Quando ele chegava a água já estava chiando na chaleira e a chocolateira estava pronta para coar o café. Sempre tinha pó de café do tipo Moca[1] que meu avô[2] colhia e torrava lá no Pitinga. Nos finais de semana geralmente tinha manteiga batida por nonna. Ela tinha vacas leiteiras, separava a nata e ficava a bater até transformá-la em manteiga.

O café passado sobre a chapa quente era colocado numa tigelinha, igual à que nonno fazia a sua sopa de café com pão e em outros horários de vinho com pão. Era pão de forno que nonna e tia Lavínia eram exímias em fazê-lo. Nos finais de semana nonna trazia pão para nós que eram guardados numa lata em que eram  acondicionadas bolachas vendidas nos armazéns.

Papai herdou de nonno o uso da tigelinha e passou para mim. Aquele pão torradinho molhado no café era uma delícia. Papai tinha as mãos maiores abraçava a tigelinha com as mãos para esquentá-las nos dias de inverno.

O dia começava a clarear quando terminávamos o café... E começava o dia de trabalho. Papai saía com caminhão para trabalhar e mamãe ia para a escola, onde lecionava.

O hábito continua. Hoje aproveito o café da manhã para fazer as leituras que eu acho as mais agradáveis. Hoje terminei de ler 18 dias: quando Lula e FHC se uniram pra conquistar o apoio de Bush, de Matias Spektor (Rio de Janeiro: Objetiva, 2014). O Autor é doutor em Relações Internacionais, professor da FGV do Rio de Janeiro, é colunista da Folha de São Paulo e escreve muito bem.

A vitória de Lula nas eleições de 2002 provocou o que se chamou do “efeito Lula”, um efeito negativo, em face do discurso de esquerda e “anti-mercado”, num momento em que a América Latina dava uma virada à esquerda. E nos EUA Bush iniciava o seu governo, lá de direita e aqui de esquerda. O livro trata do trabalho diplomático de Fernando Henrique junto ao governo norte-americano – e por extensão ao mercado americano – no sentido de anular e “efeito Lula” e mostrar a transição sem traumas ao vitorioso de oposição. Uma novidade no Brasil e na América Latina. E a instituição da equipe de transição de um governo ao outro.

Para um comentário mas extenso do livro poderei fazer mais tarde e até resenha-lo. O que gostaria de comentar aqui, foi a lembrança do Autor às declarações de Lula, repetidas vezes, de que “o primeiro trabalhador a presidir o Brasil não poderia falhar”.

No final de oito anos de governo Lula permitiu à uma primeira mulher presidir o Brasil. Esqueceu de repetir a máxima de que “a primeira mulher a presidir o Brasil não poderia falhar”.

Falhou. E falhou feio.

Pelo jeito uma segunda mulher vai derrotar e tirar a primeira do poder.



[1] Que era plantado nas encostas dos morros.
[2] Os meus avós maternos eram avós e os paternos eram nonni.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Leonardo Boff e as suas (in)confidências

Encontrei um texto de Leonardo Boff que havia arquivado há muito tempo.

Ele conta que alguns meses após ter sido submetido a um "silêncio obsequioso" por ter escrito o livro "Igreja: carisma e poder", foi convidado por Fidel Castro para passar uns 15 dias em Cuba para acompanha-lo em suas férias.

Viajaram de carro, avião, barco pela rica ilha, conversaram sobre mil assuntos. “As noites eram dedicadas a um longo jantar seguido de conversas sérias que iam madrugada a dentro, às vezes até às 6.00 da manhã. Então se levantava, se estirava um pouco e dizia: ‘agora vou nadar uns 40 minutos e depois vou trabalhar’. Eu ia anotar os conteúdos e depois, sonso, dormia”.

E assim se passaram os 15 dias. “Eu havia escrito 4 grossos cadernos sobre nossos diálogos. Assaltaram meu carro no Rio e levaram tudo. O livro imaginado jamais poderá ser escrito. Mas guardo a memória de uma experiência inigualável de um chefe de Estado preocupado com a dignidade e o futuro dos pobres”.

Fidel Castro para se manter no poder por mais de 50 anos deve ser um homem previdente. Desta época houve uma denúncia que o chefe dos sherloques cubanos no Brasil era um coronel, então genro de Raul  Castro, marido de Mariela. Eu fiquei me perguntando: será que foram os sherloques cubanos que “afanaram” os “4 grossos cadernos” de Frei Boff. Vá que o santo homem tenha registrado inconfidências de Fidel!...


http://www.cartamaior.com.br/colunaImprimir.cfm?cm_conteudo_idioma_id=19183

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Acesso à linha telefônica

Um dos motes dos candidatos que se opõem aos tucanos é a questão da privatização das telefônicas. Eu que vivi (na pele) este momento tenho uma visão diversa destes críticos atuais. Quando retornei a São Paulo em 1966 pouca gente tinha telefone. Quando precisava fazer um interurbano, geralmente para Morretes ou para o Rio (de onde eram os meus sogros)  tinha que sair do Mandaqui ir na rua Sete de Abril, onde ficava a companhia telefônica. Eu acho que naquele tempo ainda se chamava CTB. Ou havia mudado o nome para Telesp, não me lembro. Mas me lembro das caminhadas. Lá por 1974 abriu um plano de expansão e eu entrei. O pagamento se expandia para o final do carnê, mas nada das linhas telefônicas serem expandidas.

Eu já estava fora da FAB, lecionava de duas ou três faculdades, já tinha um fusca (zero km!), troquei por um Opala, resolvi adquirir um telefone. Ou poderia alugar. Havia empresas especializadas em comercializar telefones (vendas e/ou aluguel). Procura daqui, procura dali, medi os valores, resolvi comprar um e pagar em 36 meses.

Eu já havia pago o carnê de expansão e a expansão não se expandia... O carnê foi transformado em ações da Telesp que foram perdendo valor de mercado e eu e todos que os entraram no plano perdemos tudo o que haviam pago. Poderíamos entrar na justiça, mas não havia esperança de vitória.

Eu me tornava proprietário de um telefone. Potencialmente um proprietário. Mas teria que esperar uma linha vaga para instalar o telefone. Eles eram eletromecânicos e cada telefone correspondia a uma linha ligada de casa até a central da região. Quem morava perto da central tinha bom sinal; quem morava longe tinha “um plus” de chiados.

Quanto tempo teria que esperar para esta bendita instalação? Recebi a sugestão de dispor de um “plus” para que a linha fosse instalada. Depois fui descobrir que o “plus” (também chamado de “por fora”, “porfo”) era uma “molhada de mão” que era dividida numa parceria  entre as empresas que vendiam telefone, funcionários companhia telefônicas e sei lá mais quem. Paguei o “plus”(belo nome!). Pagava ou não tinha telefone. Recebi o telefone.
Começa a era das comunicações. Primeiro as BBS. Meus filhos adoravam. Sem seguida veio a Internet por via de linha telefônica. Quem morava perto das centrais tinha sinal melhor, quem morava longe... era uma “caídeira” geral.

Até que chegou a internet de “alta velocidade”. Era o speedy, via linha telefônica. Uma linha telefônica, um computador e um telefone. Mas podia ter mais de um telefone em paralelo. Dava muitos defeitos e recebíamos visitas de técnicos. Se houvesse uma denúncia perdia-se o sinal de internet.

Eu tinha três computadores numa linha de internet. Chegou um técnico e ele me avisou que não podia. Perguntei por que. Porque era proibido. Mas por que era proibido? Era norma. Com os três computadores eu “puxo” mais sinal? Não. Mas degrada o seu sinal. E daí? É problema meu, não é? É. Então manda os seus chefes para PQP e se cortarem a minha linha terão que explicar na justiça.

Depois entraram os provedores na jogada para encarecer a Internet. Para receber o sinal teria que ter um provedor. Eu entrei num provedor para ter uma caixa postal para e-mails. Isto desde o tempo da internet por fio telefônico. Foi uma briga na justiça. Neste caso e no caso de comercialização de linhas telefônicas alegava-se o desemprego.

Não poderia acabar com a corrupção porque isto demandaria em desemprego. É a mesma coisa de não poder acabar com o jogo do bicho porque os apontadores ficariam desempregados; não pode acabar com o tráfico de drogas porque os pequenos traficantes (ou sei lá como são chamados) ficaram desempregados.

Até que chegou a internet oferecida pelas empresas de TV a cabo. A velocidade foi multiplicada por 10 ou mais. Estas empresas ofereciam um provedor, ou melhor, que aderisse a elas o provedor fazia parte do pacote sem custo extra. Acabou com a briga dos provedores e não sobrou alternativa que a de melhorar os seus serviços.

Quando veio a privatização  os sindicatos (que elegeram Lula) começaram a realizar movimentos para evitar o desemprego. Um “repeteco” do que vimos acima. Mas não surgiu resultado por as linhas foram num primeiro momento multiplicadas por cinco. A minha provedora de internet me colocou à disposição duas linhas telefônicas sem custos além dos impulsos utilizados e ligações sem custo com outros telefones da mesma operadora e custo de impulsos urbanos para telefones na mesma operadora em outros Estados. Falo todos os dias com minha filha em Cabo Verde e com meu filho na Inglaterra pelo Skype sem custos, com valor de impulso de celular urbano se não estiverem online. Que pode ser feito através do computador ou de um smartphone.

E me aparecem candidatos falando em re-estatizar as empresas telefônicas. Estão loucos? Fora da realidade.