Costumo tomar o meu café da manhã entre cinco e meia e seis
da manhã. Ou melhor, preparo uma erva mate Leão e duas torradas besuntadas de
manteiga. Pouca manteiga, manteiga Aviação sem sal. Quando era pequeno usava-se
banha de porco para fazer comida, no lugar de óleo, como se faz hoje. Papai
levantava-se cedo, ia comprar pão na padaria Candinho (Nho Beco abria a sua
padaria mais tarde). Aquele pãozinho d’água, ainda quente... Passava banha, colocava um pouco de sal, e
colocava para dar uma torradinha na chapa já quente. Quando ele chegava a água
já estava chiando na chaleira e a chocolateira estava pronta para coar o café. Sempre
tinha pó de café do tipo Moca[1]
que meu avô[2]
colhia e torrava lá no Pitinga. Nos finais de semana geralmente tinha manteiga
batida por nonna. Ela tinha vacas leiteiras, separava a nata e ficava a bater até
transformá-la em manteiga.
O café passado sobre a chapa quente era colocado numa
tigelinha, igual à que nonno fazia a sua sopa de café com pão e em outros
horários de vinho com pão. Era pão de forno que nonna e tia Lavínia eram
exímias em fazê-lo. Nos finais de semana nonna trazia pão para nós que eram
guardados numa lata em que eram
acondicionadas bolachas vendidas nos armazéns.
Papai herdou de nonno o uso da tigelinha e passou para mim. Aquele
pão torradinho molhado no café era uma delícia. Papai tinha as mãos maiores
abraçava a tigelinha com as mãos para esquentá-las nos dias de inverno.
O dia começava a clarear quando terminávamos o café... E começava
o dia de trabalho. Papai saía com caminhão para trabalhar e mamãe ia para a
escola, onde lecionava.
O hábito continua. Hoje aproveito o café da manhã para fazer
as leituras que eu acho as mais agradáveis. Hoje terminei de ler 18 dias: quando Lula e FHC se uniram pra conquistar
o apoio de Bush, de Matias Spektor (Rio de Janeiro: Objetiva, 2014). O
Autor é doutor em Relações Internacionais, professor da FGV do Rio de Janeiro,
é colunista da Folha de São Paulo e escreve muito bem.
A vitória de Lula nas eleições de 2002 provocou o que se
chamou do “efeito Lula”, um efeito negativo, em face do discurso de esquerda e “anti-mercado”,
num momento em que a América Latina dava uma virada à esquerda. E nos EUA Bush iniciava
o seu governo, lá de direita e aqui de esquerda. O livro trata do trabalho diplomático
de Fernando Henrique junto ao governo norte-americano – e por extensão ao
mercado americano – no sentido de anular e “efeito Lula” e mostrar a transição
sem traumas ao vitorioso de oposição. Uma novidade no Brasil e na América
Latina. E a instituição da equipe de transição de um governo ao outro.
Para um comentário mas extenso do livro poderei fazer mais
tarde e até resenha-lo. O que gostaria de comentar aqui, foi a lembrança do
Autor às declarações de Lula, repetidas vezes, de que “o primeiro trabalhador a
presidir o Brasil não poderia falhar”.
No final de oito anos de governo Lula permitiu à uma
primeira mulher presidir o Brasil. Esqueceu de repetir a máxima de que “a primeira
mulher a presidir o Brasil não poderia falhar”.
Falhou. E falhou feio.
Pelo jeito uma segunda mulher vai derrotar e tirar a primeira
do poder.