A imprensa brasileira
(não que me estender à imprensa de outros países. Cada um tem a sua) reflete
pertencer a um país de raiz autoritária. O CENIPA apresentou um projeto de lei
para que as investigações sobre acidentes aeronáuticos fossem sigilosas. O
projeto se tornou lei e ninguém saberá por que uma aeronave se acidentou. Para
ficar num acidentes recente, da aeronave da Air France que se acidentou no meio
do Atlântico a imprensa agiu livremente, ao contrário da aeronave que os rebeldes
pró Rússia derrubaram na Ucrânia. E parece que trabalhou livre no desaparecimento
daquele voo entre a Malásia e a China.
Há uma expressão na
aviação de que um avião não cai. É derrubado. Até um King Air dito como um dos
mais seguros na aviação de pequeno porte. Qualquer aeronave seja um teco-teco,
um ultraleve, até um Airbus 380 ou mesmo Antonov Mriya An-225, maior avião do mundo, decolam,
pousam, e estão sujeitos a cair no meio do caminho.
Num acidente com automóvel podem morrer até cinco pessoas e
com um ônibus chama mais a atenção porque morre mais gente e numa aeronave de
grande porte podem morrer 300 ou mais pessoas. Estes incidentes (o termo é meio
leve, eu sei!) fazem-nos esquecer de quantas pessoas morreram entre um acidente
aeronáutico e outro. Só para comparação e para lembrar, até hoje se fala das centenas
de mortos do Titanic, mas pouco se fala dos três mortos do Costa Concórdia. Não
deveria morreu ninguém. As investigações são feitas para evitar que alguém
venha a morrer num acidente.
No caso dos acidentes aeronáuticos. Tirando Ícaro, o homem começou
a alcançar a voar no século XIX. De balão. Segundo Rocha Pombo (um morretense como
eu. Que bairrismo!), a primeira observação aérea numa guerra foi ideia de
Caxias (Luís
Alves de Lima e Silva), a partir de um balão alçado além do alcance de
tiro das garruchas paraguaias. Santos Dumont
com os seus estudos de aerodinâmica e a partir daí chegamos no que é a aviação de
hoje.
Mas
os aviões ainda são derrubados. O que os derrubou? Todos nós somos passageiros
em potencial de um avião e temos o direito de saber o motivo de uma queda. Algumas
vezes a causa da queda está em terra e sem a mínima noção de ter sido a causa.
Já que falamos do Air France. Descobriram que a causa foi o congelamento de uma
peça que mede a velocidade do avião. Quem iria imaginar? A investigação
descobriu e o tipo entrou na lista de checagens e assim não derrubará mais
nenhuma aeronave. Uma pecinha vagabundinha, como se dizia Joaquinzinho Leite,
no meu tempo de guri, na oficina mecânica lá em Morretes. Num dos retornos do
meu filho para a Inglaterra na hora de checagem antes do voo descobriram um
probleminha no pitô. O voo atrasou 24
horas e a empresa ainda pagou uma indenização de 500 libras para compensar o
seu prejuízo. Esvaziar o bolso dos faltosos é a pena eficiente. Muito
eficiente.
Logo
após o acidente de Parati comentei que todos nós somos mortais e quando
assumimos determinadas responsabilidades teremos que nos preocupar com a nossa
segurança, pois a nossa incapacidade costuma atingir outras pessoas. É o caso
do Ministro Teori. Quantas pessoas estão desempregadas, quanta gente morreu em
portas de hospitais, quanta gente sofre por causa da insegurança pública, etc.,
em decorrência da corrupção que aflige o país? Ele sozinho tocava uma
investigação com centenas de processos contra corruptos de alto coturno,
liderados por um ex-presidente e uma ex-presidente. Sozinho! E o que fazia este
senhor numa aeronave de pequeno porte que tentava pousar num aeródromo
complicado pelas condições topográficas e atmosféricas? Procura-se fazer uma
investigação. Mas o acidente aconteceu num país em que as investigações são
secretas por decisão da uma presidente que foi “impeachmentada” (tentei
aportuguesar. Não sei se deu certo!), dona de um perfil autoritário.
Fato
primeiro: um avião caiu e entre os seus passageiros havia um Ministro do STF,
relator do maior processo de corrupção cujos réus eram pessoas dos mais altos
coturnos, um empresário proprietário da aeronave e dono de uma rede de hotéis
de luxo. E duas mulheres convidadas pelo proprietário da aeronave. Além, é claro,
do piloto. Fato primeiro A: explodiram as teorias da conspiração e os autores da
queda eram os corruptos investigados. Fato primeiro B: misoginia (as mulheres
também são misóginas). As mulheres passageiras foram transformadas em garotas
de programa. É complicado ser mulher numa sociedade misógina. O martelo das
(para castiga-las) feiticeiras ainda está presente neste século XXI.
Quais
foram as causas da queda da aeronave? Por obra e graça de dona Dilma não vamos
saber. E como ficará a Beechcraft, a fabricante da aeronave? E os milhares de
proprietário de aeronaves do mesmo tipo da que se acidentou? E os pilotos que
frequentam o aeródromo de Paraty?
O
Brasil precisa retornar ao século XXI.
Dos
primeiros 17 anos do século XXI, treze e meio anos estivemos com a macha ré
ligada, pé no acelerador num retorno à baixa idade média.
Crédito da foto: http://www.sensacionalista.com.br/2017/01/23/pericia-conclui-que-voce-nao-tem-nada-a-ver-com-a-vida-da-moca-no-aviao-de-teori/
O
site é humorístico, mas a foto é verdadeira.