Ultimamente eu tenho me irritado com o assédio sexual
homossexual que tomou conta das redes sociais. Isto me alertou que estamos
sofrendo outro tipo de assédio, não tão consciente e por isto mais perigoso.
Procurei, então, fazer um paralelo do assédio sexual com o assedio político.
A opção sexual de
cada um é algo pessoal, íntimo. Seja qual for. Heterossexual, homossexual,
bissexual, e quanto forem. Se eu me relaciono socialmente com alguém não me
importo com a sua intimidade, o que aquela pessoa faz na cama. Tenho muitas amigas
e as tenho como ser social e não como ser sexual. Da mesma forma tenho amigos
que sei que são homossexuais, mas isto nunca interferiu em nossa amizade. Este
direito não é só na esfera sexual, mas também nas esferas, política, religiosa,
etc.
Fico muito chateado quando batem à minha porta pessoas para
fazer pregação religiosa sem se preocupar se eu tenho pensamento religioso ou
não. Isto é assédio. Está lá no artigo 216-A do Código Penal. A Lei 10.224/2001
vai mais longe ao considerar crime o
assédio sexual. No entendimento das pessoas e pelo “uso” desta legislação
entende-se o assédio sexual do homem à mulher, mas vai mais longe. Certa vez eu
me referi ao assédio religioso como crime segundo o Código Penal e o pastor apresentador
me perguntou: então como faremos proselitismo religioso. Respondi: façam sem
assédio. Como? Indagou. Não sei, não sou religioso. E eu me tornei uma persona
non grata.
Quando o PT foi
fundado começou a fazer proselitismo político. Eu até achei bom. Aos poucos
este proselitismo começou a tomar ares de assédio em determinados espaços, um
deles nos espaços acadêmicos. Existe um momento eu proselitismo e assédio se
confundem e se transformam em atos violentos.
Eu tenho uma
orientação política. Concreta, real e a minha utopia e a medida da distância ou
aproximação do que acho como deve ser do que é. Nunca me filiei a partido político
e nem a qualquer grupo religioso. Nunca me filiei para que esta filiação não
viesse tolher a minha liberdade de pensar, de refletir. Não me filiar não
significa que seja contra aos que se filiam. Todos devem ter a liberdade de se
filiar ou de não se filiar.
Durante 21 anos eu vivi sob um regime autoritário.
De 13 anos para cá comecei a sentir que voltava a viver sob outro regime
autoritário. O primeiro era explícito: escrevia o que deveríamos pensar e no
que não deveríamos pensar; Um aluno uruguaio me falou, quando eu lhe perguntei
qual era a pior coisa da ditadura do país dele. Ele entendeu a coisa mais
perigosa. Disse-me que era pensar. Eu lecionava Ciências Políticas, uma
disciplina difícil de encontrar professores. E indicava dois livros de textos
organizados por Fernando Henrique Cardoso. Entendi o silencio dos alunos: medo
de pensar.
Hoje é proibido
censurar. Uma proibição constitucional. Por isto não temos uma censura formal,
mas uma proibição informal. Como não sabemos até onde pensar, pensamos menos,
não pensamos nada. Como a censura é informal as cominações também são informais
e variam de acordo com o sabujo de plantão.
Hoje ouvi uma declaração
do ex-presidente Lula: se Dilma perder o cargo ele irá para a rua para não dar espaço
político ao governo que a venha substituir. Transferir o autoritarismo exercido
à sombra das instituições governamentais para as ruas. Imagina-se que as
pessoas comuns, nos seus afazeres diários, irão ser assediadas por agentes
expurgados, frustrados pela perda de cargos de confiança.
Não devemos nos
impressionar com as bravatas proferidas em altos decibéis. Devemos pensar no
pais que queremos deixar para o futuro e reconstruir o que foi destruído e que
se volte pensar nas universidades sem as
amarra ideológicas atuais.