Um dos motes dos candidatos que se opõem aos tucanos é a
questão da privatização das telefônicas. Eu que vivi (na pele) este momento
tenho uma visão diversa destes críticos atuais. Quando retornei a São Paulo em
1966 pouca gente tinha telefone. Quando precisava fazer um interurbano,
geralmente para Morretes ou para o Rio (de onde eram os meus sogros) tinha que sair do Mandaqui ir na rua Sete de
Abril, onde ficava a companhia telefônica. Eu acho que naquele tempo ainda se chamava
CTB. Ou havia mudado o nome para Telesp, não me lembro. Mas me lembro das caminhadas.
Lá por 1974 abriu um plano de expansão e eu entrei. O pagamento se expandia
para o final do carnê, mas nada das linhas telefônicas serem expandidas.
Eu já estava fora da FAB, lecionava de duas ou três
faculdades, já tinha um fusca (zero km!), troquei por um Opala, resolvi
adquirir um telefone. Ou poderia alugar. Havia empresas especializadas em
comercializar telefones (vendas e/ou aluguel). Procura daqui, procura dali,
medi os valores, resolvi comprar um e pagar em 36 meses.
Eu já havia pago o carnê de expansão e a expansão não se
expandia... O carnê foi transformado em ações da Telesp que foram perdendo
valor de mercado e eu e todos que os entraram no plano perdemos tudo o que haviam
pago. Poderíamos entrar na justiça, mas não havia esperança de vitória.
Eu me tornava proprietário de um telefone. Potencialmente um
proprietário. Mas teria que esperar uma linha vaga para instalar o telefone. Eles
eram eletromecânicos e cada telefone correspondia a uma linha ligada de casa
até a central da região. Quem morava perto da central tinha bom sinal; quem
morava longe tinha “um plus” de chiados.
Quanto tempo teria que esperar para esta bendita instalação?
Recebi a sugestão de dispor de um “plus” para que a linha fosse instalada.
Depois fui descobrir que o “plus” (também chamado de “por fora”, “porfo”) era
uma “molhada de mão” que era dividida numa parceria entre as empresas que vendiam telefone, funcionários
companhia telefônicas e sei lá mais quem. Paguei o “plus”(belo nome!). Pagava
ou não tinha telefone. Recebi o telefone.
Começa a era das comunicações. Primeiro as BBS. Meus filhos
adoravam. Sem seguida veio a Internet por via de linha telefônica. Quem morava
perto das centrais tinha sinal melhor, quem morava longe... era uma “caídeira”
geral.
Até que chegou a internet de “alta velocidade”. Era o
speedy, via linha telefônica. Uma linha telefônica, um computador e um
telefone. Mas podia ter mais de um telefone em paralelo. Dava muitos defeitos e
recebíamos visitas de técnicos. Se houvesse uma denúncia perdia-se o sinal de
internet.
Eu tinha três computadores numa linha de internet. Chegou um
técnico e ele me avisou que não podia. Perguntei por que. Porque era proibido.
Mas por que era proibido? Era norma. Com os três computadores eu “puxo” mais
sinal? Não. Mas degrada o seu sinal. E daí? É problema meu, não é? É. Então
manda os seus chefes para PQP e se cortarem a minha linha terão que explicar na
justiça.
Depois entraram os provedores na jogada para encarecer a
Internet. Para receber o sinal teria que ter um provedor. Eu entrei num provedor
para ter uma caixa postal para e-mails. Isto desde o tempo da internet por fio telefônico.
Foi uma briga na justiça. Neste caso e no caso de comercialização de linhas
telefônicas alegava-se o desemprego.
Não poderia acabar com a corrupção porque isto demandaria em
desemprego. É a mesma coisa de não poder acabar com o jogo do bicho porque os
apontadores ficariam desempregados; não pode acabar com o tráfico de drogas
porque os pequenos traficantes (ou sei lá como são chamados) ficaram desempregados.
Até que chegou a internet oferecida pelas empresas de TV a
cabo. A velocidade foi multiplicada por 10 ou mais. Estas empresas ofereciam um
provedor, ou melhor, que aderisse a elas o provedor fazia parte do pacote sem
custo extra. Acabou com a briga dos provedores e não sobrou alternativa que a
de melhorar os seus serviços.
Quando veio a privatização
os sindicatos (que elegeram Lula) começaram a realizar movimentos para
evitar o desemprego. Um “repeteco” do que vimos acima. Mas não surgiu resultado
por as linhas foram num primeiro momento multiplicadas por cinco. A minha
provedora de internet me colocou à disposição duas linhas telefônicas sem
custos além dos impulsos utilizados e ligações sem custo com outros telefones
da mesma operadora e custo de impulsos urbanos para telefones na mesma operadora
em outros Estados. Falo todos os dias com minha filha em Cabo Verde e com meu
filho na Inglaterra pelo Skype sem custos, com valor de impulso de celular urbano
se não estiverem online. Que pode ser feito através do computador ou de um smartphone.
E me aparecem candidatos falando em re-estatizar as empresas
telefônicas. Estão loucos? Fora da realidade.
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