terça-feira, 29 de junho de 2010

Enquanto torcemos maravilhados...


18/10/2009

A verdadeira identidade do COI

por Andrew Jennings

Tempos de festa, todos queremos participar das Olimpíadas do samba em Copacabana em 2016. Vários jornalistas tentam entender porque os brasileiros conseguiram levar os jogos.

Dez anos depois do escândalo de Salt Lake City, onde vários membros do COI foram assediados com dinheiro e garotas de programa para tentar garantir os jogos olímpicos de inverno de 2002 para aquela cidade, o atual presidente do COI, Jacques Rogge, garante que isso faz parte do passado.

De qualquer forma, vamos derrubar esse tabu do mundo olímpico. Vamos falar abertamente sobre o tradicional hábito da corrupção olímpica.

Pergunta: Qual foi a voz mais poderosa que trabalhou para o Rio dentro do COI? Dê um passo a frente o membro mais antigo, com 46 anos de serviços prestados, ex presidente da FIFA e acusado pelo renomado programa da BBC sobre negócios públicos (sim, eu dou nome aos bois) de estar profundamente envolvido em subornos e propinas.

Se trata de João Havelange, hoje com 93 anos, o homem que sabe tudo que realmente importa sobre os membros do COI. Eu não estou afirmando que ele ou o Rio pagaram propinas, mas veja o que segue. No começo da semana, logo após a vitória do Rio, um fotógrafo atento pegou Havelange cumprimentando... Jean-Marie Weber, o homem da mala.

O homem da mala admitiu para a justiça suíça no ano passado, ter pago USD 100 milhões em propinas para dirigentes esportivos nos anos 90. Então, porque eles estavam se cumprimentando?


Havelange, o "homem da mala" e Blatter nos bons tempos.

O homem da mala é muito apreciado pelos membros do COI. Nós o filmamos conversando ao pé do ouvido com o chefão do futebol africano, Issa Hayatou, e tentando passar despercebido no Bella Center (centro de convenções de Copenhague, onde aconteceu a eleição da sede dos jogos 2016), e dando tapinhas nas costas de outros membros do COI. Eles votaram no Rio de Janeiro? Eles não vão dizer...

E lá estava também Joseph Blatter, funcionário da FIFA por mais de 30 anos, grande amigo do homem da mala e agora membro do COI. Blatter esteve envolvido nos escândalos de corrupção do homem da mala e ainda obedece às ordens de Havelange.

Parecem velhos amigos jogando seus velhos jogos em um novo cenário. Foi muito cativante ver Havelange sentado na sessão do COI ao lado do seu velho companheiro, o russo Vitaly Smirnov, sortudo por ter mantido a sua cadeira no COI após o escândalo de Salt Lake.

Antes mesmo da votação, Havelange se vangloriava dizendo que ele já tinha 20 votos no bolso. Ou ele quis dizer no bolso do homem da mala?

Mais um velho amigo - e uma pista de que há outros membros do COI que querem voltar no tempo, à uma época macabra.

Um discurso fundamental foi feito pelo ambicioso alemão e vice-presidente do COI, Thomas Bach. Quando ele terminou, Blatter o aclamou como "presidenciável".

O que Bach deveria dizer aos membros do COI? Ele disse que todos eram importantes, mas que deveriam se manter independentes sem nenhuma ingerência externa. Essa foi uma indireta para alguns novos membros de federações que coagiram o COI após o escândalo de Salt Lake em 1999. Eles não são independentes e os outros membros do COI ficam incomodados com a presença deles no conhecido "The Old Boys Private Club".

Bach perguntou à platéia: Vocês querem um COI composto principalmente por membros independentes que detêm autoridade, conhecimento e experiência, também na política, negócios, cultura e sociedade? Essa foi a senha. Não há nenhuma menção ao esporte. Muitos membros do COI têm um conhecimento estreito do mundo esportivo.


Thomas Bach em Copenhague. Em busca de um retrocesso?

Qual é o histórico de Bach no esporte? Ele conquistou uma medalha de ouro na esgrima em Montreal e logo depois foi contratado para o renomado time da Adidas de "Relações Internacionais", também conhecido como o "esquadrão das jogadas sujas", que moldou organismos como o COI, FIFA e várias outras federações internacionais segundo os anseios do lendário e obscuro negociador Horst Dassler, filho do fundador da Adidas. A sua nova empresa, a ISL, ganhava os grandes contratos do marketing esportivo e o homem da mala entregava as propinas...

Dassler foi quem colocou Havelange na presidência da FIFA em 1974 e também escolheu Blatter como o seu braço direito.

Quando Jacques Rogge deixar a presidência do COI daqui há quatro anos, Thomas Bach será eleito presidente e muitos verão o COI deixar de lado as tímidas "reformas" e retornar à sua velha identidade.

E numa tumba distante, Horst Dassler, que morreu em 1987, ainda vai constatar maravilhado que mesmo depois de mais de duas décadas enterrado ele ainda detém o poder no mundo esportivo.


Horst-Dassler - O inventor da propina no esporte.

Veja o artigo original de Andrew Jennings no Sunday Herald - It may be a new stage but is game still the same?

Nenhum comentário: