Quando eu era da FAB, trabalhava num destacamento de
proteção ao voo. O secretário do comandante era um primeiro um primeiro
sargento “antigo”, remanescente do que chamávamos de os “cuecas vermelha” em referência aqueles que
estavam na ativa na intentona comunista em 1935. Apesar de se chamar Pavão era
uma pessoa simples e sempre pronta ajudar os outros e em especial os “novinhos”,
como eu, que ainda não tinha um ano na graduação de sargento. Um “terceirote”,
com o se dizia. Eu era um radiotelegrafista razoável e um sargento que esperava
chegar a sofrível. Eu e mais dois. O
Sargento Martins, outro “primeirão” foi indicado para ajudar o Sargento Pavão.
Martins tinha um espírito poético e literário, um construtor de neologismos.
Era ele que redigia as “partes” e assinava “p.o.” do Pavão.
O subchefe do Serviço
de Rotas, em São Paulo, era um capitão aviador, Capitão Stamm. Usava muito da
ironia. Uma vez eu pedi uma autorização para viajar de Xavantina (agora Nova
Xavantina), em Mato Grosso, para São Paulo. Como não recebi resposta viajei
assim mesmo. Quando desci a escada do avião, um velho C47 do Correio Aéreo
Nacional. Cap Stamm estava me esperando ao pé da escada e perguntou: Cherobim,
o que você está fazendo aqui? Chegando, respondi. Pediu autorização? Sim.
Recebeu resposta? Não. Se não recebeu, por que veio? Porque o senhor sempre
salienta que silêncio significa resposta afirmativa. Você vai ter um dia de
cadeia para cada dia que estiver fora de Xavantina. Fiquei sete dias, mas no sexto
dia fui à estação rádio do avião e enviei
uma mensagem informando a minha apresentação com a data do dia seguinte. E se o
avião caísse, perguntaram-me. Respondi que era otimista. Voltava com a minha recém-esposa.
Havia ido ao Rio casar. Mas tarde disseram-meque Stamm sabia que estava indo ao
Rio casar. Foi o meu presente de casamento. Assim era o Cap Stamm.
Voltando ao Martins. Quando Stamm recebia as “partes”
escritas por Martins devolvia com uma observação: “favor traduzir”. Ou “favor
indicar o dicionário”. E Pavão traduzia as “partes” do Martins.
Contei este caso – ou “causo”, se quiserem, pois aqui no
Facebook tem gente que quer “escrever bonito”, com palavras “bonitas”, e a nossa
salvação, algumas vezes, é o “Dicionário informal”.
Martins era fã de palavras cruzadas. Pelo jeito aqui temos
muitos decifradores de palavras cruzadas.
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