sábado, 2 de abril de 2016

O Facebook e os decifradores de palavras cruzadas

Quando eu era da FAB, trabalhava num destacamento de proteção ao voo. O secretário do comandante era um primeiro um primeiro sargento “antigo”, remanescente do que chamávamos de  os “cuecas vermelha” em referência aqueles que estavam na ativa na intentona comunista em 1935. Apesar de se chamar Pavão era uma pessoa simples e sempre pronta ajudar os outros e em especial os “novinhos”, como eu, que ainda não tinha um ano na graduação de sargento. Um “terceirote”, com o se dizia. Eu era um radiotelegrafista razoável e um sargento que esperava chegar a sofrível.  Eu e mais dois. O Sargento Martins, outro “primeirão” foi indicado para ajudar o Sargento Pavão. Martins tinha um espírito poético e literário, um construtor de neologismos. Era ele que redigia as “partes” e assinava “p.o.” do Pavão.

O subchefe  do Serviço de Rotas, em São Paulo, era um capitão aviador, Capitão Stamm. Usava muito da ironia. Uma vez eu pedi uma autorização para viajar de Xavantina (agora Nova Xavantina), em Mato Grosso, para São Paulo. Como não recebi resposta viajei assim mesmo. Quando desci a escada do avião, um velho C47 do Correio Aéreo Nacional. Cap Stamm estava me esperando ao pé da escada e perguntou: Cherobim, o que você está fazendo aqui? Chegando, respondi. Pediu autorização? Sim. Recebeu resposta? Não. Se não recebeu, por que veio? Porque o senhor sempre salienta que silêncio significa resposta afirmativa. Você vai ter um dia de cadeia para cada dia que estiver fora de Xavantina. Fiquei sete dias, mas no sexto dia  fui à estação rádio do avião e enviei uma mensagem informando a minha apresentação com a data do dia seguinte. E se o avião caísse, perguntaram-me. Respondi que era otimista. Voltava com a minha recém-esposa. Havia ido ao Rio casar. Mas tarde disseram-meque Stamm sabia que estava indo ao Rio casar. Foi o meu presente de casamento. Assim era o Cap Stamm.

Voltando ao Martins. Quando Stamm recebia as “partes” escritas por Martins devolvia com uma observação: “favor traduzir”. Ou “favor indicar o dicionário”. E Pavão traduzia as “partes” do Martins.

Contei este caso – ou “causo”, se quiserem, pois aqui no Facebook tem gente que quer “escrever bonito”, com palavras “bonitas”, e a nossa salvação, algumas vezes, é o “Dicionário informal”.


Martins era fã de palavras cruzadas. Pelo jeito aqui temos muitos decifradores de palavras cruzadas.

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