Apesar de ser filho de
professora e irmão de três professoras, nunca pensei em se professor. Eu era
radiotelegrafista numa estação no interior onde fazia escala o avião do CAN (Correio
Aéreo Nacional). Eu tinha 22 anos. Entre os passageiros de um voo do CAN havia um que diferenciava-se dos demais
passageiros, quase todos com características de caboclos do Brasil Central: alto, loiro, cabelo curtinho e falava inglês. Perguntei
a um dos sargentos da tripulação “quem é este cara aí?”. É um antropólogo,
respondeu. E o que ele faz? quis saber. Ele vai numa tribo do Xingu, faz
perguntas para os índios, anota, volta para o país dele e escreve um livro,
respondeu o sargento.
Encasquetei: vou estudar
antropologia. Lá do interior de Mato Grosso transferiram-me para Curitiba e fui
fazer o 3º ano do colegial e procurei saber onde eu poderia estudar antropologia.
Fiz vestibular, fui aprovado no curso de História Natural. Tinha aulas de
botânica, petrografia, biologia e nada de me ensinarem conversar com índios,
anotar e escrever livros. Fui descobrir que o que ensinavam era antropologia
física no segundo ano. Mas poderia escarafunchar os sambaquis do litoral do
Paraná. Fiquei em Curitiba nos anos de 1961 até 1966. Período difícil. Parei
com o curso de História Natural até que soube de um curso de Sociologia, Política e Administração
Públicas ligado a agora Universidade Católica do Paraná. Como a situação
política em Curitiba não estava muito favorável para mim resolvi retornar a São
Paulo e terminei o meu curso da Sociologia e Politica de São Paulo e em segui
fui fazer o meu pós da USP. Foi quando começavam a surgir as primeiras
faculdades particulares. Tive um colega de curso, tornamo-nos amigos e ele me
convidou para lecionar em Mogi da Cruzes. Foi uma beleza! Primeiro
financeiramente. Segundo por começar a aprender a ser professor. E a fazer
pesquisa entre os índios guarani do litoral. Aproxima-se a meio a século o dia
que entrei pela primeira vez numa sala de aula, como professor e de
antropologia. Em março passado fez 47
anos.
Quantos alunos passaram por
mim? Não tenho a mínima ideia. Tive turmas
com 150, 200 alunos. Parecia mais um conferencista do que um professor. Passei
por situação difíceis, como por duas vezes sentei no braço de carteiras e elas vieram. Levei tombo com plateia.
Certa vez fui fazer uma palestra no fórum de uma cidade do interior e a plateia
olhava de maneira esquisita para mim. Olhei para a minha roupa e estava tudo
certo, não aparecia nada que não deveria aparecer. Perguntei o que estava acontecendo
e me falaram que o gradil que separava a
plateia do fórum ao local onde ficava o juiz poderia cair. Eu estava encostado
nela. O melhor momento que passei neste aprendizado de ser professor foi no
Amazonas, com relação à distância social. Em outras palavras, não existe
distância social do professor em relação aos diferentes estratos sociais.
No decorrer da nossa vida profissional
passamos por dissabores, com a diversidade de alunos de péssima formação, mas
presos por modelos políticos, religiosos, etc. Hoje, fora da atividade docente
e com as redes sociais, é comum alunos comentarem a respeito de alguma
orientação, alguma resposta, despercebida para nós, mas crucial para os alunos.
E ficamos felizes quando encontramos de graduação que hoje são doutores, pós-doutores.
A responsabilidade do professor
é medida em longo prazo. É uma profissão de vida com resultados conhecidos quando
não haverá mais meios de corrigir erros.
Eu me tornei professor por
acaso, mas me orgulho por esta profissão que exerci por quase meio século.
Um abraço aos meus colegas de
profissão.
Mauro Cherobim (15/10/2017)
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