segunda-feira, 12 de maio de 2014

Bóia e cobra

São Paulo é, em certos aspectos, uma “cidade de departamentos”, com as suas ruas especializadas. Temos a 25 de março, a Maria Marcolina, a Oriente, a São Caetano (rua das noivas), José Paulino, etc. Temos a Santa Efigênia especializada em artigos eletrônicos, a Florêncio de Abreu e  máquinas e ferramentas, a Paulista em instituições financeiras.

Outro dia fui á Florêncio de Abreu. Ela começa no Largo São Bento, onde está o Mosteiro com o mesmo nome. A Ford do Brasil, quando inaugurada em 1919 instalou-se num armazém de Florêncio. Não sei em que altura. Quando estava na faculdade, na Vila Buarque, ia a pé até o Largo São Bento pegar o “elétrico” (tróleibus, para os mais jovens), que percorria a Florêncio até o seu final. Fazia um tempão que não andava por ali. Como teria que ir lá numa loja bem no meio da rua, saltei do metrô no Largo São Bento, num extremo da Florêncio e o peguei de volta na estação Luz, que tem um acesso no final da rua.  E claro, levei a máquina fotográfica. Uma compacta, mais barata que um celular, é claro. Queria fotografar. A maioria dos prédios construída no primeiro quartel do século passado estava lá. Claro que havia muitos prédios novos, mas em número pequeno em relação às construções antigas.

A Casa da Bóia também estava lá. Além das recordações de quase meio século, recordei de um fato associado. Uma minha orientanda desenvolvia o seu doutorado sobre educação indígena numa aldeia guarani do interior paulista. Uma professora da escola mostrou para ela a redação de um aluno cujo tema era bóia. Enquanto a classe falou sobre bóia, este aluno discorreu sobre cobra. A orientanda começou a desenvolver uma bela teoria psicológica da relação entre bóia e cobra, com a ajuda da professora e da orientadora. As conclusões eram muito interessantes, mas ficaram frustadas quando eu lhes disse que o aluno guarani não ouviu direito e entendeu mbói, cobra em guarani. Quem viu o meu sorriso defronte a Casa da Bóia deve ter pensado em alguma caduquice de minha parte. Rindo sozinho. 

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