São
Paulo é, em certos aspectos, uma “cidade de departamentos”, com as suas ruas
especializadas. Temos a 25 de março, a Maria Marcolina, a Oriente, a São Caetano
(rua das noivas), José Paulino, etc. Temos a Santa Efigênia especializada em
artigos eletrônicos, a Florêncio de Abreu e
máquinas e ferramentas, a Paulista em instituições financeiras.
Outro
dia fui á Florêncio de Abreu. Ela começa no Largo São Bento, onde está o
Mosteiro com o mesmo nome. A Ford do Brasil, quando inaugurada em 1919
instalou-se num armazém de Florêncio. Não sei em que altura. Quando estava na
faculdade, na Vila Buarque, ia a pé até o Largo São Bento pegar o “elétrico”
(tróleibus, para os mais jovens), que percorria a Florêncio até o seu final. Fazia
um tempão que não andava por ali. Como teria que ir lá numa loja bem no meio da
rua, saltei do metrô no Largo São Bento, num extremo da Florêncio e o peguei de
volta na estação Luz, que tem um acesso no final da rua. E claro, levei a máquina fotográfica. Uma compacta,
mais barata que um celular, é claro. Queria fotografar. A maioria dos prédios construída
no primeiro quartel do século passado estava lá. Claro que havia muitos prédios
novos, mas em número pequeno em relação às construções antigas.
A Casa
da Bóia também estava lá. Além das recordações de quase meio século, recordei
de um fato associado. Uma minha orientanda desenvolvia o seu doutorado sobre
educação indígena numa aldeia guarani do interior paulista. Uma professora da
escola mostrou para ela a redação de um aluno cujo tema era bóia. Enquanto a
classe falou sobre bóia, este aluno discorreu sobre cobra. A orientanda começou a
desenvolver uma bela teoria psicológica da relação entre bóia e cobra, com a
ajuda da professora e da orientadora. As conclusões eram muito interessantes,
mas ficaram frustadas quando eu lhes disse que o aluno guarani não ouviu
direito e entendeu mbói, cobra em
guarani. Quem viu o meu sorriso defronte a Casa da Bóia deve ter pensado em
alguma caduquice de minha parte. Rindo sozinho.
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