Uma das últimas: “É preciso que se diga algumas coisas sobre este
sujeito oportunista e lambe-botas/capacho. 1. Só se tornou professor da USP
graças a Florestan Fernandes que lhe apoiou, sem isto não teria ingressado na
USP; 2. A ‘tese’ de doutorado defendida por FHC é uma versão de um relatório
encomendado pela CEPAL (ONU) elaborado por Enzo Faletto e FHC. Portanto, este
embusteiro não deveria falar nada... é uma fraude.”
Quem postou isto foi um ex-aluno. No dia do professor.
Vários dos meus alunos aparecem nas redes sociais, grande parte deles já
doutores, muitos deles com posicionamentos políticos diversos aos meus, mas
nunca vi postarem algo que trombasse com os seus conhecimentos. Este não feriu a
mim, mas ele próprio.
Em primeiro lugar, que conheceu Florestan Fernandes
sabe que nunca facilitou a ninguém em seus trabalhos e muito menos em
realização de teses. Florestan Fernandes foi um
homem decente.
Em 1949 o antropólogo brasileiro Arthur Ramos foi
eleito diretor do Departamento de Ciências Sociais da UNESCO, onde desenvolveu
o Projeto UNESCO no Brasil. Logo após o término da II Grande Guerra houve um
encontro de intelectuais de várias áreas (antropologia, sociologia, biologia,
etc .) para discutir a questão racial, um dos motivos que levou a Alemanha Nazista
à discriminação de vários tipos raciais, como todos conhecemos, a história nos
conta. Decidiu-se realizar uma pesquisa em grande extensão num país onde
houvesse uma coexistência racial. Hoje pode-se discutir esta ideia, mas era o
pensamento há pouco mais de 60 anos. E o Brasil foi o escolhido.
Quem tinha condições de desenvolver uma pesquisa deste
vulto, naquele momento? As pessoas em condições de tal empreendimento estavam
na USP e a liderança da pesquisa foi entregue aos professores Roger Bastide e
Florestan Fernandes. Vários auxiliares de ensino, professores recém-formados,
ingressaram no projeto. Octavio Ianni fez pesquisa em Curitiba, Fernando
Henrique Cardoso em Porto Alegre, Fernando Henrique e Ianni pesquisaram em Florianópolis,
Oracy Nogueira em Itapetininga. E muitos outros. Estes trabalhos constituíram-se
em teses de doutorado. “Metamorfose do escravo” foi a tese de doutorado de
Octavio Ianni e “Capitalismo e escravidão no Brasil meridional - O negro na
sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul” foi a tese de doutorado de Fernando Henrique.
Fernando Henrique escreveu
um trabalho em parceria com o sociólogo chileno Enzo Falleto, “Dependência
e Desenvolvimento na América Latina: Ensaio de Interpretação Sociológica”. Um
trabalho de grande repercussão fora da América Latina.
O que muito me admira
é de um licenciado em Ciências Sociais pela Unesp, que participou se uma semana
de estudos de Florestan Fernandes na Unesp de Marília e que Fernando Henrique,
ainda Senador esteve presente, escrever – ou retransmitir – algo escrito por
algum beleguim petista contra a honra de dois intelectuais, um deles sem poder
se defender porque já falecidos. Os arranjos feitos entre a companheirada não
são feitos entre intelectuais sérios. Florestan Fernandes filiou-se ao PT, mas
nunca foi um “companheiro”.
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