quarta-feira, 1 de abril de 2015

A primeira Eva, Lilith

Conversando com a minha amiga Carla Fleming sobre Lilith resolvi este texto informal. Está aberto a discussão.

Todos os povos têm o que chamamos de mito de origem. No mundo cristão o nosso mito de origem é Gênesis. O mito de origem conta como aquele povo surgiu, foi criado. O nascimento do povo. A descrição deste nascimento foi escrito dentro da perspectiva judia; o Velho Testamento, do qual Gênesis faz parte, da chamada “Bíblia Hebraica”.

Nesta tradição, que chamamos de “judaíca-cristã”, o casal que deu origem a este povo, foi Adão e Eva. E conta as sua peripécias ainda no paraíso e as ocorridas depois da expulsão.

Esta história é a histórica, formal, dogmática. Existem outras histórias fora do dogmatismo religioso. Uma delas é que a “nossa” Eva é a segunda, houve uma primeira Eva. Lilith.

Eva, diz-se, é o relato da  mulher que chega até hoje, de caráter peçonhento (inclinação para fazer o mal; maldade, malícia). As serpentes pagam por isto. Mas, apesar disto, ou por isto, subalterna ao homem, Adão.

A primeira Eva era diferente. Não se submetia a Adão. Já li  relatos de que os dois brigavam muito. Uma das brigas era com relação à posição do relacionamento sexual. Ela não queria ficar sempre por baixo e reclamava: ora, se ambos fomos feitos do mesmo barro, como você pretende ser superior? Somos iguais.

Chegou uma hora que Lilith resolveu abandonar Adão. E sumiu. Mas Adão a amava e ficou muito triste. Pediu ao Senhor que a encontrasse e a convencesse retornar. O Senhor, condoído com a tristeza de Adão enviou dois emissários, anjos, à procura de Lilith… Depois de muita busca, encontraram-na. Disseram-na que o Senhor queria que ela retornasse para aplacar a tristeza de Adão. Lilith não gostou da forma impositiva do Senhor e dos Anjos, como se diz atualmente, “rodou a baiana”, atropelou-os de volta.  Senhor ficou muito zangado com  atitude de Lilith e sentenciou à morte os seus primeiros cem descendentes. Os mitos não têm muita lógica; matando o primeiro ao nascer, não haverá o segundo. Mas tem um grande efeito moral.

Sem razão disto, O Senhor resolveu oferecer a Adão uma segunda Eva, agora gera-la da costela de Adão. Para servir o homem. Como a costela é curva (torta), Eva teria que estar sempre sob a proteção de Adão, e masculina, dada a sua impossibilidade de se endireitar. Mas Adão, pela segunda vez, “dormiu no ponto”. Descuidou-se e Eva aprontou com a serpente que lhe ofereceu um fruto proibido, a maçã.

O Senhor, muito zangado, resolver expulsar os dois do paraíso. Para a alegria dos ecólogos profundos, pois daí nasceu a humanofobia e o Brasil foi presenteado com Leonardo Boff[1], o grande nome da ecologia profunda. O paraíso, hoje, de um local em que o ser humano não tem acesso (salvo os ecólogos profundos), exemplo para despovoar o mundo.

Mas voltando a Lilith, com a praga divina ela passou a ser considerada uma súcubo, um diabo com a forma feminina. Esta entidade aparece  em várias sociedades antigas que tinha como prática de maldade matar crianças e também os homens.

O mito de Lilith voltou a aparecer na Idade Média, na pregação dos rabinos, recomendando-se a proteção das crianças e dos homens.

Esta historia, contada informalmente, parece estar na base da misoginia tão evidente nos mundos cristão e islâmico.


[1] O catequista de Fidel Castro com o qual rezou o “Pai Nosso”. Quando chegou no Aeroporto do Galeão algum X9 cubano roubou os seus apontamentos (http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaImprimir.cfm?coluna_id=3275).

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